Sandra Kiefer Em cinco meses, o Brasil já criou 1 milhão de empregos com carteira assinada em 2008. O número recorde do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que só será divulgado oficialmente por volta do dia 20, foi antecipado ontem pelo ministro do Trabalho e do Emprego, Carlos Lupi. Ele está em Genebra, na Suíça, participando da Assembléia Mundial do Trabalho, que ocorre anualmente na Organização Internacional do Trabalho (OIT) e que reúne ministros de todo o mundo. Segundo Lupi, o ano deve fechar com a criação de 1,8 milhão de empregos e 8% de taxa de desemprego, o que significaria dizer que o país alcançou o chamado pleno emprego. A prévia de 1 milhão, pelo menos, não está muito longe da realidade. Até abril, já haviam sido gerados 848,9 mil postos de trabalho formais, equivalente ao crescimento de 2,93% no ano – recorde de toda a série histórica do Caged. Para atingir a marca desejada pelo ministro, seria necessário criar pouco mais de 150 mil vagas em maio. Não parece difícil, considerando-se que abril registrou quase o dobro disso (294,5 mil), o segundo melhor resultado já registrado na série histórica do Caged. Na época, tal comportamento foi creditado à presença de fatores sazonais relacionados à agroindústria, potencializado pelo dinamismo do setor de serviços e da construção civil. Nada garante, porém, que o desempenho altamente favorável do mercado de trabalho se repita ao longo do ano, na opinião do pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da UFMG, Mário Rodarte. “Até daria para chegar a 1,8 milhão de empregos formais, mas temos pontos de turbulência na economia. O céu não está límpido”, alerta o economista. Ele lembra que a dinâmica do mercado de trabalho poderá ser afetada pela crise dos Estados Unidos, que, segundo ele, ainda não foi mensurada, e pela alta dos alimentos. “Vai depender da reação dos formuladores da nossa política econômica. Se eles continuarem tratando a inflação internacional como inflação de demanda local isso pode desaquecer a atividade econômica e fazer com que essa meta não se cumpra no Brasil”, critica. Já o governo garantiu que o ano deve fechar com a criação de 1,8 milhão de empregos. “Em 2007, tivemos 1,6 milhão. Este ano, vamos superar a marca”, disse Lupi. Para o ministro, um dos fatores de crescimento do emprego tem sido a contratação de pessoas que estavam na informalidade. “Há 10 anos, 60% das pessoas que trabalhavam estavam na informalidade. Hoje, essa taxa caiu para 52%, contra 48% na formalidade. A taxa ainda não é ideal, mas a tendência é positiva”, afirmou. Quanto à taxa de desemprego, o governo aposta em uma redução dos atuais 8,7% para 8% até o final do ano. “Entre 2003 e 2007, criamos 8 milhões de postos de trabalho e em 2008 o ritmo será ainda mais intenso”, afirmou. Rodarte, no entanto, ainda acha cedo para cravar uma taxa de 8%, que corresponderia ao pleno emprego, captando o movimento de jovens que saem da inatividade ou de trabalhadores na ativa mudando de emprego. Até agora, apenas São Paulo atingiu taxas próximas a 9% em 1989 na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Na última PED de BH, em abril, o desemprego havia sido de 11,2%, bem distante dos 20% registrados em março de 2004. (Com agências) TRABALHO ESCRAVO O ministro Carlos Lupi admitiu ontem, na abertura da Assembléia da OIT, a existência de trabalho degradante e escravo na produção de cana-de-açúcar no Brasil. Porém, atacou as críticas feitas pelos países ricos e pediu “mais respeito à soberania do Brasil”. “O país não está escondendo a realidade e está tomando medidas para lutar contra o problema. Não somos como os EUA ou outros países, que se recusam a debater o assunto.” Vagas na indústria estáveis O emprego na indústria caiu 0,2% em abril em relação a março, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com abril de 2007, no entanto, a ocupação no setor teve alta de 2,6%, acumulando expansão de 3% no primeiro quadrimestre do ano em relação a igual período do ano passado. A folha de pagamento real da indústria registrou queda de 1,3% em abril ante março. Nas demais comparações, porém, os resultados da folha de pagamento também foram positivos: 6% sobre abril do ano passado e 6,3% no quadrimestre, ante igual período do ano passado. Apesar dos recuos em abril na comparação com março, o economista André Macedo, da coordenação de indústria do IBGE, disse que os dados apontam “mais para estabilidade do que para reversão de tendência”. Segundo Macedo, tanto no caso do emprego quanto da folha real, os segmentos vinculados à produção de bens de capital (máquinas e equipamentos) e bens de consumo duráveis são os que apresentam maior contribuição positiva. Na comparação com abril do ano passado, o aumento na ocupação industrial foi puxado especialmente por máquinas e equipamentos (11,2%), meios de transporte (11,3%, inclui indústria automobilística) e máquinas e aparelhos eletrônicos e de comunicações (13,3%). No caso da folha, as principais contribuições positivas foram dadas também por meios de transportes (12%) e máquinas e equipamentos (9,9%). Por outro lado, os segmentos que continuam impedindo um desempenho melhor do mercado de trabalho industrial são os que sofrem a concorrência de produtos importados no mercado interno. No caso do emprego, por exemplo, as principais quedas em abril ante igual mês do ano passado ocorreram em calçados e artigos de couro (11,4%) e vestuário (4,5%). Núcleo pretende desafogar TST Zulmira Furbino Com o objetivo de agilizar a liquidação de sentenças trabalhistas e reduzir o número de recursos no Tribunal Superior do Trabalho (TST), o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Minas Gerais criou no estado um núcleo de conciliação ao qual já estão sendo submetidos os processos que chegam à casa. A iniciativa, implantada em abril, pretende reduzir em 40% o total de recursos encaminhados semanalmente ao TST. De acordo com o vice-presidente judicial do órgão em Minas, desembargador Caio Vieira de Melo, dos 61 processos que chegaram ao TRT desde que o núcleo começou a atuar, houve acordo em 21 casos. Outros três estão em fase final de conciliação. A criação do núcleo atende uma recomendação do Conselho Nacional de Justiça no sentido de que os tribunais realizem estudos e ações que possam estimular a conciliação entre as partes. O núcleo atua também na formulação de acordos de liquidação, mesmo nos casos em que não existe conciliação. Quando isso ocorre, um acordo de liquidação é formulado, com base em cálculos feitos pelos litigantes, e os valores são pré-fixados. “Isso abrevia a fase de liquidação da sentença”, explica Melo. ACORDO NA CSN Os trabalhadores da Mina de Casa de Pedra, em Congonhas, Região Central de Minas, pertencente à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) aprovaram ontem, em assembléia, a contraproposta da empresa, depois de oito rodadas de negociação. Os salários serão corrigidos em 8,02%, 2% acima da inflação, e será concedido vale-supermercado de R$ 100 por mês. Outro benefício negociado foi um kit escolar de R$ 106 por ano para cada dependente com até 21 anos. O sindicato local dos trabalhadores na mineração (Metabase) informou que foi extinto o sistema de bancos de horas (compensação de horas trabalhadas além da jornada sem remuneração adicional).