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250 já disputam um dos 68 apartamentos do “Balança mas não cai”, em reforma no Centro

Cláudia Rezende Repórter Histórias têm quase sempre um personagem que passa por provações, chega ao fundo do poço e tem final triunfal, recompensador. Às vezes, uma narrativa desse tipo pode ser aplicada não apenas para um ser vivo, mas, também, para algo inanimado. Quem sabe um prédio? E por que não o “Balança Mas Não Cai”? Aquele edifício, no Centro de Belo Horizonte, que por toda sua existência – de 63 anos – foi condenado, abandonado e rejeitado pela população, sendo aceito apenas pelos que não tinham outra opção. O Edifício Tupis «está renascendo», como disse um de seus ex-moradores. E deve ter pela frente uma vida de glamour. Para começar, vai ser protagonista de documentário e, no momento, tem uma lista de 250 pessoas disputando um de seus 68 futuros apartamentos residenciais. O documentário vai mostrar as etapas de renascimento do prédio. Filmagens já estão sendo feitas para mostrar o processo de reforma – retirada de entulhos, demolição de paredes internas, renovação da fachada e troca das estruturas elétrica e hidráulica. Tudo está sendo feito em segredo pelo atual dono da edificação, o empresário Teodomiro Diniz Camargos. “As filmagens tratam o edifício como um personagem da cidade”, antecipa. Segundo ele, ex-moradores, freqüentadores e comerciantes do prédio estão sendo entrevistados pela produção. O empresário diz que ainda não pode dar detalhes sobre o filme – que está sendo realizado por um “cineasta famoso de Belo Horizonte” – porque o projeto está concorrendo na Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Por enquanto, é Teodomiro Diniz quem está arcando com as despesas, mas a idéia é conseguir patrocínio da iniciativa privada e, depois, distribuir em escolas e entidades culturais. As obras no prédio começaram há cerca de três meses. O empresário não tem previsão de término, mas estima que, em quatro meses, terá concluído a fachada. Segundo ele, não haverá necessidade de mexer na parte estrutural. “Não tem nenhum problema. Tenho laudo de engenheiros que mostram que não existe nada. Não tem uma trinca. Os bombeiros também analisaram”, garante. De acordo com Teodomiro Diniz, a fachada era a única parte do edifício que oferecia perigo, mas está sendo reformada. A parte externa vai receber janelas especiais colocadas de forma que não se vêem as esquadrias, somente os vidros. Também terão isolamento acústico. As cores dos vidros ainda serão escolhidas e dependem da cor da fachada. A tendência, segundo o empresário, é manter a cor histórica – acinzentada – obtida por meio do pó-de-pedra. Assim, as janelas deverão ser azuis. “Usam muito essa cor”. As paredes internas dos 17 andares que, antes, tinham dez salas cada um, já foram demolidas. Cada pavimento terá quatro apartamentos – três, de três quartos, e um, de um quarto. O empresário está investindo R$ 6 milhões na obra e ainda não sabe quanto vai pedir para cada unidade. No caso do Edifício Chiquito Lopes, na Rua São Paulo – também recuperado e transformado em residencial por Teodomiro Diniz -, cada apartamento foi vendido por R$ 85 mil. No “Balança Mas Não Cai”, o valor deve ficar pouco acima disso. O empresário informou que está olhando mais dois prédios no Centro para transformar em residencial, mas não disse quais porque os valores estão “especulados”. Entre os que querem um lugar no “Balança Mas Não Cai”, estão pessoas interessadas em morar ou investir. É o caso do radialista Sérgio Osório dos Santos, 40 anos. Junto com três amigos, ele pretende adquirir quatro unidades no imóvel para alugar. “Com certeza, vai ter uma demanda boa. O lugar é muito bom. Deve ficar bonito depois de reformado”, acredita. Sérgio dos Santos espera que o apartamento seja vendido por valores entre R$ 100 mil e R$ 120 mil. Outro que vê o prédio com bom negócio é o advogado e corretor de imóveis Celso Lobão, 33 anos, que também pretende comprar para investimento. A auxiliar administrativo Maria D’Ajuda Matos, 51 anos, tem interesse pelo prédio para realizar o sonho de morar no Centro e ir para o serviço na Savassi a pé. “Adoro caminhar”, afirma. Hoje, ela mora no Bairro Guarani, na Região Norte, e fica duas horas dentro do ônibus para voltar para casa. O funcionário público Aclécio Alves Barroso, 44 anos, também quer morar no edifício para ficar mais perto do emprego. Assim como os outros interessados, ele não tem medo da fama de «balança, mas não cai» que o local adquiriu logo depois de concluído. “Se, até hoje, não caiu… Acho que a empreiteira não iria arriscar e nem a prefeitura ia deixar fazer reforma em um prédio que não é seguro”. Morador do prédio entre 1957 e 1968, o advogado e professor José Henrique Diniz, 67 anos, considera positiva a retomada do Edifício Tupis. Os anos que passou lá foram tão marcantes que ele escreveu o livro “Balança Mas Não Cai – um edifício muito maluco”, em que relata as muitas histórias vividas no local. O advogado pesquisou e descobriu que, na época da construção – entre 1945 e 1950 – houve rompimento em um dos pilares e um engenheiro foi chamado para fazer o reparo. “O problema foi resolvido ali, mas acho que a história vazou e nasceu o boato que iria cair”, conta. Com isso, a edificação nasceu desvalorizada e começou a ser alugada para república masculina e muito pouco para comércio, finalidade para a qual foi erguida. Os moradores eram conhecidos como “balanceandos”. “A gente sofria, mas se divertia muito lá”.