Karla Mendes A caderneta de poupança voltou a operar no azul. Depois de, em abril, quebrar uma seqüência de 19 meses seguidos de saldo positivo, a opção de investimento mais tradicional do país registrou em maio captação líquida – depósitos menos saques – de R$ 1,096 bilhão e rendimento líquido de R$ 1,259 bilhão, conforme relatório divulgado ontem pelo Banco Central. Segundo dados do BC, os depósitos totalizaram R$ 96,76 bilhões no mês passado, enquanto os saques atingiram R$ 95,65 bilhões. Com o resultado de maio, as cadernetas de poupança acumulam um patrimônio de R$ 244,39 bilhões. Diante das recentes altas da taxa básica (Selic) para conter a inflação, a poupança continuará sendo uma opção atrativa de investimento ou cederá espaço para os fundos DI e de renda fixa, que têm maior rentabilidade com os juros em alta? Juliano Lima Pinheiro, professor do Ibmec e especialista em finanças, explica que esse cenário beneficia os fundos de renda fixa e DI, já que a poupança, atrelada à TR (Taxa Referencial), demora um pouco mais para sentir os efeitos da alta dos juros. Mas ele faz algumas ressalvas para quem estiver pensando em migrar da poupança para algum fundo. “Como a poupança é isenta de Imposto de Renda, a rentabilidade não fica tão baixa. Para migrar para um fundo, só vale a pena se a taxa de administração for inferior a 1,5% ao ano e se a pessoa não for usar o dinheiro nos próximos seis meses. Caso contrário, terá que pagar 22,5% de Imposto de Renda sobre os rendimentos”, explica. A Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) não faz projeções, mas o superintendente-geral da entidade, José Pereira Gonçalves, estima que o tradicional investimento de milhões de brasileiros deve manter o saldo positivo dos últimos meses. “Abril foi atípico”, observa. Segundo José Gonçalves, como as taxas de rendimento nominal da poupança e dos fundos estão abaixo de um dígito, não há justificativa de migração de uma modalidade de investimento para outra. Ele observa que isso não ocorreu nem no mês de abril, quando a poupança ficou com saldo negativo. “Além disso, são públicos completamente diferentes. Os poupadores de maior renda diversificam os investimentos. Os de menor renda são fiéis à poupança”, ressalta. Fiel à caderneta há mais de 20 anos, a professora aposentada Maria das Graças de Castro nunca experimentou outra forma de investimento. “O meu dinheiro eu só aplico na caderneta. Antes, rendia muito mais, mas sou antiga e não vou arriscar. Quero uma coisa segura”, afirma. Depois do confisco das cadernetas de poupança no governo Collor, Maria das Graças aprendeu uma lição: guarda seu dinheiro em mais de um banco. “Se houver algum bloqueio, preservo meu patrimônio”, diz. Outro macete que ela usa é ter vários dias de rendimento para perder nada. “Para mim, ela tem rentabilidade diária”, observa. SALDO POSITIVO 96,76 Total dos depósitos em maio na poupança, em R$ bilhões 95,65 Total dos saques, em R$ bilhões