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O dragão da inflação realmente acordou?

(*) Daniel Ítalo Richard Furletti (**) Ieda Maria Pereira Vasconcelos Recentemente vem ganhando forças um velho inimigo da economia brasileira: o dragão da inflação. Monstro destruidor da estabilidade macroeconômica, que nos últimos anos andou adormecido, começa a querer despertar. Mesmo sonolento, ele assusta. Afinal, por anos e anos, ele destilou destruição, fez virar cinzas o sonho de milhões de brasileiros, arrasou o poder de compra da moeda e impediu o desenvolvimento do país. O que fez o “dragão” querer acordar? Na realidade, ele parece disposto a aterrorizar o mundo. O aumento nos preços internacionais, derivados das altas das commodities agrícolas, metálicas e do petróleo, provocou alta da inflação mundial. Estimativas indicam que dois terços da população do planeta conviverão com inflação superior a 10% em 2008. Esta inflação “importada” encontrou um cenário interno com a demanda aquecida. É necessário cuidado. Deve-se considerar que aumentos de determinados produtos, como aconteceu com as commodities, podem gerar altas generalizadas de preços. Também é necessária atenção especial para que não se iniciem os famosos “aumentos preventivos”. Caso contrário, o “incêndio” pode começar. É preciso um controle dos gastos públicos e uma eficiente (e não exagerada) política monetária. Pesquisa realizada pelo Banco Central revela que a expectativa do mercado financeiro é que o IPCA, índice utilizado no sistema de metas inflacionárias, encerre o ano em 5,55% (o centro da meta é 4,5%). Outros preços também preocupam. Nos custos da construção, por exemplo, no período de junho de 2007 a maio de 2008 a alta registrada pelo CUB/m² foi de 9,62%. O custo com materiais neste período aumentou 10,18%. Isso preocupa um setor que está retomando as suas atividades e contribuindo com o crescimento do país. A notícia que acalenta é que os aumentos não estão generalizados. Deve-se considerar também que o país vivencia uma situação diferente do período em que era dominado pela inflação. Somos “grau de investimento” em duas das três maiores agências de risco do mundo. Isso não é pouca coisa. Mas também está longe de ser a solução. Apenas significa que temos condições suficientes de lutar contra o monstro e fazê-lo voltar a adormecer, antes que comecem os estragos. A sinalização de que a equipe econômica parece disposta a lutar de frente com a “fera” renova as esperanças. O anúncio de que o governo fará um superávit primário adicional de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) significa uma redução dos gastos públicos e, portanto, da demanda agregada, colaborando com o Banco Central no combate à inflação. Demonstra que a política fiscal poderá ser aliada da política monetária na luta contra o monstro destruidor. Parece que, finalmente, o Brasil aprendeu que não se deve brincar com “fogo”. (*) Daniel Ítalo Richard Furletti é economista e coordenador sindical do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG); (**) Ieda Maria Pereira Vasconcelos é economista e assessora ecconômica do Sinduscon-MG.