O crescimento da construção está sob ameaça da elevação dos insumos, como o aço, que subiu 19,89% no semestre. Até junho, o Custo Unitário da Construção (CUB) avançou 4,14%. Sem espaço para absorver os aumentos, serão feitos repasses para os preços finais. Aço eleva custos da construção Insumo é vilão das pressões exercidas sobre o Custo Unitário Básico do setor em BH . O aço é o novo vilão das pressões exercidas sobre o Custo Unitário Básico de Construção (Cub/m2). O insumo refletiu em junho na maior alta dos materiais de construção, de 2,80%, observada desde novembro de 2002, quando foi de 4,93%, segundo os dados levantados pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG). No âmbito geral, o indicador apresentou incremento de 1,40% no sexto mês do ano, sendo que em maio foi de 0,73% e em junho de 2007 foi de apenas 0,23%. O aumento do aço CA-50 10mm (vergalhão) chegou a 8,95% em junho, sendo que no primeiro semestre do ano foi de 19,89%. Com o resultado alcançado em junho, o CUB/m2 acumulou nos primeiros seis meses de 2008 aumento de 4,14%, a maior alta para um primeiro semestre desde 2003, quando aumentou 5,98%. Além do aço, outros materiais apresentaram alta nos preços em junho e contribuíram para a elevação do custo da construção na Capital. O tubo de ferro galvanizado com costura apresentou incremento de 7,32%, enquanto o bloco cerâmico para alvenaria de vedação subiu 7,21% e a bancada de pia de mármore branco mostrou aumento de 4,92%. A esquadria de correr em alumínio anodizado subiu 4,41%, o concreto 3,80%, a tinta látex 3,02% e a areia 2,83%. Na mesma linha, o custo com material cresceu 7,09% no semestre e o custo com mão-de-obra 0,73%. No período, os materiais que apresentaram as maiores elevações de preços foram o bloco de concreto (21,83%), o aço (19,89%), o tubo de ferro galvanizado (12,58%), o concreto (11,61%) e a placa cerâmica (10,61%). Estabilidade – Considerando-se uma edificação com oito pavimentos, três quartos e padrão normal de acabamento, o aço é responsável por 18% do custo de material e por 9,20% do custo total da obra. “Por isso, os aumentos do insumo sempre geram impactos significativos no CUB/m2”, afirmou o economista e coordenador sindical do Sinduscon-MG, Daniel Furletti. Com isso, o custo do metro quadrado de construção em Belo Horizonte para o projeto padrão (residência multifamiliar, padrão normal, com garagem, pilotis, oito pavimentos e três quartos) passou para R$ 753,63. Em maio o valor foi de R$ 743,20. De acordo com Furletti, o alento para o setor é que os aumentos não estão ocorrendo de forma sistêmica. Para ele, o país precisa continuar no processo de crescimento, onde a peça fundamental seria a manutenção da estabilidade macroeconômica com o controle dos preços. “Os aumentos do aço precisam ser monitorados, uma vez que não esperávamos uma alteração tão expressiva nos preços em junho”, disse Furletti. Conforme o economista, os repasses da alta do insumo para os preços das unidades habitacionais não serão automáticos, sendo que o mercado imobiliário é quem estabelece os valores dos imóveis. O CUB/m2 acompanha a evolução dos preços de materiais de construção, mão-de-obra, despesas administrativas e aluguel de equipamentos. O indicador é calculado mensalmente e divulgado pelo Sinduscon-MG. MARX FERNANDES Cimentos Liz prepara obras de expansão A Empresa de Cimentos Liz S/A poderá obter o licenciamento ambiental prévio (LP) para as obras de expansão da planta fabril localizada em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), em agosto deste ano. A licença ambiental de instalação (LI), primordial para iniciar os serviços, viria em seguida, entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, segundo o diretor comercial da companhia, Bruno Borer. Os investimentos serão da ordem de R$ 525 milhões. “As obras devem durar dois anos e o início da produção na nova linha será em 2011”, afirmou. A Liz esperaria criar um pouco mais de folga na produção, que de acordo com Borer já atingiu 100% da capacidade instalada. Entre as melhorias previstas na adequação da unidade de Vespasiano, a empresa instalará dois novos moinhos. A expansão da fábrica até 2011 elevaria a produção de 1,8 milhão de toneladas, para 3,5 milhões. Os dois moinhos adquiridos na Alemanha terão capacidade total superior a 2 milhões de toneladas ao ano. Um dos equipamentos entraria em funcionamento no início de 2009 e o outro em 2010. A aquisição dos equipamentos é considerada um importante passo para a empresa acompanhar a demanda atual do mercado, de acordo com Borer. Aliás, representantes da cimenteira já haviam afirmado que novas expansões e plantas não estariam descartadas. No período de estagnação do setor, a Liz teria sofrido uma queda de 50% nos preços. A estratégia foi reduzir os investimentos para manter as operações, mesmo com prejuízo e com a capacidade instalada em baixa, segundo Borer. Investigação – Contudo, após o período de estagnação, os reajustes constantes nos preços do insumo, sobretudo a partir de 2006, levaram a investigações da Secretaria de Direito Econômico (SDE) a partir de denúncias de cartelização envolvendo o setor em todo o país, cuja etapa atual é de processo administrativo. A investigação surgiu a partir de uma denúncia de um ex-funcionário da Votorantim Cimentos Ltda., que detalhava o crime contra a livre concorrência. A informação culminou em mandados de busca e apreensão que foram aplicados contra a empresa em fevereiro do ano passado. Para Borer, não haveria envolvimento da Liz na questão. “Apesar de ser citada na investigação, a empresa sofreu um equívoco, uma vez que no depoimento do ex-funcionário da outra fabricante, o grupo Soeicom S/A, do qual a Liz faz parte, é citado como produtor da marca Tupi, do Sul do país, onde estão concentradas as denúncias”, afirmou. A Cimentos Liz também não teria sido alvo de mandados de busca e apreensão. “Nós estamos tranqüilos em relação ao processo”, afirmou Borer. A investigação compreende, além do grupo Soeicom S/A, as empresas Votorantim Cimentos, Camargo Corrêa Cimentos S/A, a Lafarge Brasil S/A, a Companhia de Cimentos do Brasil – Cimpor, a Holcim Brasil S/A, a Itabira Agro Industrial S/A (Grupo Nassau), e a Companhia de Cimentos Itambé. MARX FERNANDES Reajustes já preocupam Novos aumentos no preço dos aços longos, somados ao movimento de alta das taxas de juros, poderão comprometer o crescimento do setor da construção, conforme informou o presidente da Câmara da Indústria da Construção Civil da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Teodomiro Diniz Camargos. Segundo ele, se as siderúrgicas continuarem aumentando os preços de seus produtos, as construtoras não conseguirão absorver os reajustes e serão obrigadas a repassá-los para o consumidor final, que é limitado pelo poder de compra. Conforme informações do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Produtos Siderúrgicos (Sindisider), as fabricantes de aços longos deverão reajustar os preços, até 1º de agosto, em cerca de 18%. Efeito cascata – O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão, lembrou que as siderúrgicas deveriam se preocupar com o efeito cascata que esse aumentos gerarão na economia do país. “ preciso lembrar que o país já trabalha com níveis elevados de inflação”, comentou. Ainda segundo com Teodomiro Diniz Carmagos, além dos custos com os vergalhões, que chegam a representar entre 7% e 9% do preço final de uma obra, as construtoras também estão tendo que lidar com a falta de mão-de-obra qualificada, o que tem elevado os salários dos profissionais com experiência de mercado e também tem pressionado os custos das empresas do setor. “O aumento dos custos de produção e a elevação das taxas de juros, que vão onerar os financiamentos, podem arrefecer o bom momento do setor da construção”, afirmou Diniz Camargos. Nas duas últimas reuniões do Conselho de Política Monetária (Copom), o governo optou por elevar a Selic em 0,5 ponto percentual, atingindo a alíquota de 12,25% ao ano. Segundo expectativa do mercado, a próxima reunião também deverá elevar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual. O economista do Sinduscon-MG, Daniel Furletti, alertou que o preço dos vergalhões já aumentou 19,89% no primeiro semestre deste ano. De acordo com ele, em junho passado, ante comparação aos números de março, o preço do aço aumentou 8,95%. BRUNO MARQUES