Construtoras tradicionais do segmento de luxo abrem negócios para famílias com menor poder aquisitivo Geórgea Choucair Obra de moradia popular em Belo Horizonte: país tem déficit habitacional de 8 milhões de casas Donos de incorporadoras e construtoras estão voltando os olhos para a média e baixa renda. Obras habitacionais no segmento econômico, que foram cortadas das estratégias de muitas empresas nos últimos anos, começam a ser reerguidas. O crédito imobiliário farto, o prazo mais longo de pagamento e a queda na taxa de juros permitiram que o consumidor de baixa renda tivesse mais acesso ao financiamento habitacional. Como esse público representa a maioria da população que está em busca da casa própria, as construtoras investem em marcas populares para atender esse segmento. O déficit habitacional brasileiro é de 8 milhões de moradias. Desse total, 93% estão concentrados em famílias com renda de até cinco salários mínimos mensais (R$ 2.075). O grupo Lider anunciou o retorno às atividades no segmento de baixa renda, por meio de sua marca Primóvel. A Arco Incorporadora, que sempre foi focada no luxo e alto luxo, voltou seus negócios para a média e baixa renda. A incorporadora Klabin Segall, que chegou ao mercado mineiro neste ano, também pretende atuar no segmento de baixa renda no estado, por meio de sua marca Olá. A incorporadora Rossi acaba de entrar no mercado de Minas e o segmento econômico é um dos focos da empresa. A construtora e incorporadora Gafisa lançou no ano passado a Fit Residencial (para a média renda) e a Bairro Novo (baixa renda). Essa última em parceria com a Odebrecht Empreendimentos Imobiliários, braço de habitação da empreiteira. A construtora mineira Direcional, da área de empreendimentos populares e de médio padrão, atraiu a atenção de investidores e passou a ter novo sócio em março. Vendeu 25% do seu capital para o Tarpon Investment Group, que administra fundos com investidores nacionais e estrangeiros, em negócio de R$ 250 milhões. “Com a abundância de crédito e o prazo maior das linhas de financiamento imobiliário, o valor da prestação da casa própria ficou próximo do aluguel. Com isso, várias empresas passaram a ver o mercado da baixa renda como promissor”, afirma André de Souza Lima Campos, diretor de Programas Habitacionais do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG). A incorporadora paulista Rossi lançou em junho seu primeiro empreendimento imobiliário em Minas: o Botanique, na estrada de Nova Lima. São prédios baixos de até quatro pavimentos, voltados para a classe média, com valores a partir de R$ 230 mil. “Estamos desenvolvendo o conceito de praças residenciais com parques integrados. E queremos transportar isso para a baixa renda. O segmento econômico é o grande mercado para o próximo ano. E é um público que nunca foi atendido por moradia, pois faltava crédito”, diz Frederico Kessler, diretor regional da Rossi. O plano da empresa é lançar unidades populares com preços a partir R$ 70 mil. A marca Rossi vai ser mantida do padrão econômico ao alto luxo. Depois de cinco anos fora do segmento de baixa renda, o grupo Lider decidiu voltar a construir para esse público. A iniciativa veio depois da joint-venture com a construtora e incorporadora Cyrela Brasil Realty, em que foi criada a incorporadora Lider Cyrela. “O potencial desse segmento é gigante. É a base da pirâmide no déficit habitacional, e o cenário está favorável para o setor”, afirma Dennyson Porto, diretor de incorporação da Lider Cyrela. Cerca de 15% dos negócios da empresa este ano vão ser feitos no segmento econômico e em 2009 a meta é que de 30% a 35% dos imóveis sejam para esse público. “E pretendemos estabilizar em 40% a atuação nessa área”, afirma Porto. A Arco Incorporadora está lançando o primeiro condomínio fechado para a média renda em Nova Lima. O Vivendas do Jambreiro terá 90 casas geminadas com três quartos e área média de 93 metros quadrados. O diretor-comercial da Arco, Adriano Buldrini, afirma que essa classe social sempre teve preferência pela casa na hora de escolher a moradia. “E o nosso projeto permite expandir a unidade. Aquele famoso puxadinho é feito de forma planejada”, observa Buldrini.