Preocupação com meio ambiente levanta a questão de como fazer uma edificação ecologicamente correta Humberto Siqueira Quem busca um imóvel ambientalmente correto vai encontrar muitos apelos de áreas verdes, mata virgem, proximidade de parques e outros. Mas esse não é o conceito correto de um prédio ecologicamente correto. A proximidade com as áreas descritas facilita o contato com a natureza, mas não significa que a construção e o funcionamento do edifício levam em consideração critérios ambientais, que preservam o planeta. Para ser um green building ou edifício verde de fato, é preciso mais. O conceito surgiu nos Estados Unidos e rapidamente chegou à Europa. A idéia é que essas edificações agridam o mínimo possível o meio ambiente, fazendo uso de materiais recicláveis ou ambientalmente corretos, bem como apresente funcionamento condizente, como aproveitando ao máximo a iluminação natural e energia solar. Ou reaproveitando água de chuva. Para Nelson Kawakami, diretor-executivo do Green Building Council do Brasil (GBC Brasil), os sistemas ideais são naturais e os recursos devem ser aproveitados com sabedoria. “A inteligência e a eficiência da construção não prescindem de conforto, não abrem mão de tecnologias, da qualidade de vida e do bom senso. O selo verde em construções é o futuro. A questão não é em quanto tempo conseguiremos promover essa evolução, mas sim a forma como vamos promovê-la.” De bem com o planeta Preocupação com o meio ambiente deve começar ainda na escolha do terreno. Canteiro de obras deve ser limpo, permitir o reaproveitamento de resíduos e usar recursos naturais Humberto Siqueira A cadeia da construção civil é responsável por consumir grande parte de recursos naturais. Gera 60% dos rejeitos, 40% dos gazes do efeito estufa e consome 40% de toda a energia produzida. O conceito de construção sustentável do Green Building Council do Brasil (GBC Brasil) é adotar técnicas e produtos visando reduzir em 30% a emissão desses gases, em 40% o consumo de energia e em 50% o volume de água. Quem adere ao conceito recebe o selo Leed, sigla em inglês para Liderança em design ambiental e energético No Brasil existe apenas um edifício pronto com o certificado. Mas outros 60 em construção estão em processo de obtenção do título. A única obra já certificada no país está em São Paulo. “Em Minas, essa discussão é incipiente, há diversas obras com projetos diferenciados, seja em tecnologia, em climatização, em adequação de espaços, em respeito às condições ambientais, mas nenhum projeto que reúna tantas características como as necessárias para uma certificação Leed”, afirma Nelson Kawakami, diretor-executivo do GBC. A procura tem crescido consideravelmente, principalmente em indústrias. “A Petrobras tem construído seus novos empreendimentos dentro dessa filosofia. Cerca de 30% desses 60 são para clientes residenciais, que estão começando a despertar para a responsabilidade ecológica.” Nelson explica que a preocupação com o meio ambiente deve começar ainda na escolha do terreno. “Deve gerar o mínimo possível de intervenção, remoção de terras, fácil acesso a transportes e permitir o reaproveitamento de resíduos. A própria obra em si é diferente. O ambiente é limpo, valorizando os operários e a qualidade de vida dos vizinhos.” O conceito causa um impacto nos custos. Nelson calcula encarecer a obra entre 5% e 10%. “Mas reduz os custos do condomínio entre 8% e 10%. Isso compensa bastante. Esse gasto inicial maior se paga ao longo dos anos. Estudos mostram que de todo dinheiro injetado num edifício durante sua vida útil, apenas 20% equivalem à construção. Os outros 80% são despesas de operação e manutenção”, detalha. Valorização na revenda é mais uma vantagem apontada por Nelson. Segundo ele, um edifício verde tem valorização 7% maior do que outro sem o selo. O green building pode aproveitar também água de torneiras para descarga de banheiro, faz uso de motores e lâmpadas de longa vida e do cimento conhecido como CP3. Uma variedade que usa escórias de alto-forno em sua composição, evitando que esse material seja descartado e agrida a natureza. Deve, ainda, reaproveitar 10% dos resíduos gerados na própria construção. QUALIFICAÇÃO Embora reconheça ser necessário capacitar a mão-de-obra brasileira para trabalhar com esse novo conceito, Nelson afirma não existirem tantas diferenças. “O operário precisa saber separar resíduos, organizar a obra. Mas não interfere, para ele, se pinta com tinta de látex ou com outra à base de água”, compara. Por enquanto, as exigências para receber a certificação Leed no Brasil são as mesmas dos Estados Unidos. Um comitê com mais de 100 profissionais está adaptando essas necessidades para as características brasileiras. “Não temos fins lucrativos. Somos uma ONG com o objetivo fim na educação. Divulgar informações e estimular a construção civil sustentável”, garante. Para tanto, o executivo planeja atuar junto às instituições financeiras para facilitar investimentos; atua na promoção de políticas públicas que beneficiem tais práticas; na disseminação do conhecimento por meio de cursos, palestras, workshops e eventos de fornecedores de serviços e materiais; e uso da ferramenta de certificação de empreendimentos Leed adaptada ao mercado brasileiro. Os interessados em buscar a certificação podem acessar o site www.usgbc.org. São quatro modalidades de certificação: normal, prata, ouro e platinum. O GBC Brasil realiza em Belo Horizonte, em 2 de outubro, o seminário Construção e certificação de edifícios sustentáveis. Em 6 de novembro, o curso Aplicação da ferramenta de avaliação para certificação green building. As inscrições já estão abertas no site www.aeacursos.com.br. Informações: (11) 2626-0101 ou 3739-0301.