Empresas que atuam no ramo de construção civil em Minas não se desfazem de ativos. A crise trouxe impactos negativos para o setor imobiliário, diminuindo os negócios, que passaram fase de forte aquecimento Apesar de a crise financeira ter feito cair as vendas de imóveis em todo o país no último trimestre do ano passado e levado algumas construtoras a adiarem ou cancelarem investimentos, as empresas que atuam no ramo de construção civil em Minas Gerais não estariam se desfazendo de ativos – no caso os terrenos adquiridos para implantação de novos empreendimentos imobiliários (land banq), como forma de se capitalizarem. A construtora Lider, por exemplo, teria até criado uma nova empresa, joint venture, para atuar especificamente na aquisição de novos terrenos. De acordo com o diretor de incoporação da Lider, Dennyson Porto Teixeira, a empresa continua comprando novas áreas. No entanto, teria apenas ficado mais cautelosa na hora da escolha dos negócios. “Os terrenos são a matéria-prima da incorporação. Estamos com o land banq normal, não tivemos que desfazer de nada. Pelo contrário, estamos trabalhando para crescermos mais em 2009”, afirmou Teixeira. O gerente de vendas da Direcional Engenharia, Guilherme Diamante, também afirmou que a empresa continua em processo de aquisição de novas áreas. Por outro lado, segundo ele, reconhece que a construtora está com o estoque reduzido em função da crise e tem optado por negociar permutas. “Diferente de outros grupos, nós não trabalhamos com muito estoque. A empresa opera com estoque mais enxuto e estamos dando preferência a permutas, já que o dinheiro está mais caro depois da crise.” Conforme Diamante, mesmo com a turbulência econômica, 2008 foi um bom ano para a empresa que comemorou crescimento recorde. “Vendemos cerca de quatro vezes mais do que em 2007”, comemorou. A mesma estratégia foi adotada pela Even Construtora e Incorporadora, de acordo com o gerente-geral da empresa em Belo Horizonte, Marcelo Dzik. Segundo ele, ao invés de acumular grandes estoques, a empresa sempre fez aquisições pontuais, para suprir a demanda de lançamentos anuais. “A Even trabalha com estoque suficiente para o que ela acredita ser necessário para o período”, explicou. Dzik reconheceu que a crise trouxe impactos negativos para o setor, diminuindo os negócios que antes vinham pasando por um período de forte aquecimento. No entanto, conforme o executivo, não foram necessárias ações drásticas para reverter o problema. “Apenas adequamos nosso modelo de operação ao mercado”, disse. Mesmo com a crise, o Sinduscon-MG estima que o setor apresentou crescimento de 8% no Estado em 2008 em relação ao ano anterior. E, a expectativa do sindicato é que, em 2009, o segmento continue aquecido. LUCIANE LISBOA Poupança é a principal fonte para imóveis São Paulo – A poupança vai permanecer por mais tempo no posto de principal fonte de recursos para o setor da construção civil, reflexo da redução dos lançamentos de empreendimentos imobiliários residenciais. Antes do acirramento da crise internacional, a expectativa era de que os volumes aplicados na tradicional caderneta fossem suficientes para mais três anos e, a partir daí, outros instrumentos ganhariam relevância no financiamento à produção e aquisição de imóveis. No entanto, a desaceleração na oferta de novas unidades habitacionais e a queda nos juros, básicos, que estimula a aplicação em poupança, mudaram esse quadro. “O problema entre recursos e prazo está equacionado no momento. Lá na frente, vai depender da reação do mercado”, afirmou o diretor-executivo da unidade de Negócios Imobiliários do Ggupo Santander, José Roberto Machado. Em dezembro do ano passado, o total de recursos no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) era de R$ 215,4 bilhões, valor 14,7% superior ao registrado no mesmo mês de 2007 Para Machado, em 2009 a evolução do estoque deverá manter o ritmo. Por outro lado, as incorporadoras devem tomar menos empréstimo. O montante do Valor Global de Vendas (VGV) dos lançamentos das 12 empresas que a Fator Corretora acompanha era de R$ 26,7 bilhões em 2008 e foi revisado pelas próprias companhias para R$ 23,465 bilhões e para R$ 19,835 bilhões nas contas da corretora. No mercado em geral a expectativa é de que a atividade seja menor neste ano, com poucos lançamentos no primeiro trimestre. Mas, mesmo com esse fôlego extra proporcionado pela desaceleração econômica, bancos e agentes desse setor estudam outras fontes de recursos que no futuro possam suprir a queda no saldo da caderneta de poupança e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que respondem hoje pela maior parte do financiamento à produção e aquisição de imóveis. “Estamos olhando todas as fontes alternativas de funding para o futuro”, disse o executivo do Santander na apresentação dos resultados de crédito imobiliário do banco na quinta-feira passada. (AE)