Nos últimos anos, o Brasil assistiu ao incremento significativo em seu crédito imobiliário, cujas consequências sociais e econômicas são inegáveis: maior acesso da população à casa própria e crescimento das atividades da construção civil, com geração de renda e emprego. Uma conjunção de fatores possibilitou essa escalada, dentre eles destacam-se a estabilidade econômica, a recuperação da renda da população, o crescimento do emprego formal e a flexibilização das condições de financiamento com linhas de crédito com prazo ampliado de até 30 anos, redução da taxa de juros e prestações mais acessíveis, além de novos produtos e prestações sem atualização e maior cota de financiamento. Mas, mesmo com todo esse avanço, o crédito imobiliário no Brasil ainda é muito baixo. Números do Banco Central indicam que em outubro de 2010 ele correspondia a modestos 3,7% do Produto Interno Bruto. Isso significa que os financiamentos habitacionais a pessoas físicas e cooperativas habitacionais totalizaram, naquele mês, R$129,1 bilhões, com crescimento de 40,6% no ano e de 51,5% nos últimos 12 meses. O que chama atenção é que esse percentual é superior ao observado em períodos recentes. Em dezembro de 2004, por exemplo, ele era de inacreditáveis 1,3% do PIB. Vale lembrar que a literatura econômica internacional é pacífica em afirmar os bons resultados socioeconômicos para a nação quando esse número corresponde a 50% do PIB. Portanto, o país ainda pode, deve e precisa crescer muito nessa área. Nesse contexto, vale lembrar também que o processo de concessão de crédito imobiliário brasileiro é bem mais eficiente e seguro do que os de outras economias. A boa notícia é que as expectativas sinalizam que o processo de expansão observado nos últimos anos continuará e deve se acelerar. De acordo com projeções da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o financiamento imobiliário poderá totalizar 11% do PIB em 2014. Sem dúvida, um avanço para o país que, por longos anos, vivenciou completa estagnação nessa área. Estudo realizado pela Fundação João Pinheiro demonstra que o déficit habitacional nacional é de mais de 5,5 milhões de moradias. A grande maioria – quase 90% do total – está concentrada nas famílias com renda até três salários mínimos. Esses números evidenciam a importância de se manter a habitação na pauta de prioridades das políticas públicas. Pode-se afirmar que existe uma grande demanda que precisa ser atendida e muito espaço para um incremento ainda maior do crédito habitacional. Não existem dúvidas que o ambiente para expansão do financiamento imobiliário é positivo. Mas é urgente ampliar a discussão sobre novas fontes de recursos para o sistema. A Abecip estima que nos próximos dois anos poderá ocorrer uma escassez dos recursos da caderneta de poupança. Estima-se também que a relação crédito imobiliário/PIB poderá alcançar 4% por agora. Mas esse percentual ainda é muito baixo e várias vezes menor do que o registrado em outras economias. De toda forma, é necessário destacar que o Brasil parece ter encontrado a chave para abrir a porta da casa própria para as famílias que fazem parte da triste mazela social chamada déficit habitacional. Mas é necessário manter essa porta aberta para que um maior número de pessoas consiga passar por ela. É preciso estabelecer estratégias eficientes e duradouras, sem perder de vista os objetivos. O horizonte parece estar bem mais claro, mas o desafio é grande. O país precisa vencê-lo. * Jorge Luiz Oliveira de Almeida é diretor de Comunicação do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG).