Nos últimos anos, o mercado imobiliário da capital mineira registrou expressivo avanço. Em 2010, por exemplo, o indicador da Fundação IPEAD/UFMG que mede o dinamismo da atividade, a Velocidade de Vendas de apartamentos, e os novos lançamentos alcançaram patamares recordes na série histórica da pesquisa “Construção e Comercialização”, feita mensalmente pelo órgão desde 1994. Já o número de unidades vendidas foi expressivo, ficando praticamente empatado com o desempenho de 2009, que foi o melhor já registrado pela pesquisa. O contínuo crescimento do financiamento imobiliário, a geração de vagas formais, o aumento da renda e o Programa Minha Casa, Minha Vida ajudam a justificar este cenário. Mas, após dois anos de vendas recordes de apartamentos novos em Belo Horizonte, o mercado imobiliário parece começar a se adequar para vivenciar um crescimento mais sustentável. Pelo menos é isso o que parece sinalizar os números apurados em junho pela Fundação IPEAD no primeiro semestre deste ano, quando se observa, em uma avaliação geral, que o dinamismo das vendas reduziu 16,04% em relação aos primeiros seis meses de 2010, enquanto os lançamentos caíram 31,62%. O fator que tem influenciado essa dinâmica vem se confirmando ao longo dos meses: a acentuada queda das vendas e lançamentos das unidades de R$100 mil até R$250 mil, onde se encaixam imóveis atendidos pelo Minha Casa, Minha Vida (o valor máximo da unidade do programa em 2011 foi alterado de R$ 130 mil para R$ 150 mil). A análise da pesquisa desagregada por faixa de valores demonstra que as vendas de imóveis de R$100 mil a R$250 mil diminuíram 55,76%, passando de 1.406 unidades vendidas de janeiro a junho de 2010 para 622 unidades vendidas no mesmo período de 2011. Também os lançamentos dessa mesma faixa de valores caíram 65,99%. Deve-se destacar, porém, que no ano passado esse segmento apresentou vendas bastante satisfatórias e, portanto, a base de comparação é elevada. Além disso, a escassez de terrenos e o alto custo destes, a mudança do cenário econômico, que era mais otimista no início de 2010, os juros altos e a inflação mais elevada, são alguns fatores que podem ajudar a compreender esse movimento. Também é preciso lembrar que o ano passado foi o auge do Minha Casa, Minha Vida, o que contribuiu para elevar as vendas de imóveis com preços mais baixos. Por outro lado, cresceram a comercialização e os lançamentos de apartamentos novos com valores maiores quando se compara os primeiros seis meses de 2010 e 2011. Para os imóveis de R$250 mil até R$500 mil, a alta das vendas foi de 23,71%, passando de 1.067 unidades para 1.320. Já os apartamentos acima de R$500mil aumentaram as vendas em 24,78%, passando de 335 unidades para 418 unidades. E os lançamentos também tiveram alta expressiva. Na faixa de R$250 mil até R$500 mil, o aumento foi de 33,98% e acima de R$500 mil, a alta foi de 9,57%. O incremento das vendas de imóveis de maior valor fez com que o Valor Global de Vendas (VGV) aumentasse, apesar da redução do número de unidades vendidas. De acordo com a pesquisa, o total de 2.360 unidades comercializadas no primeiro semestre de 2011 proporcionou um VGV de R$960,5 milhões, enquanto as vendas de 2.811 unidades em igual período do ano passado geraram um VGV de R$901,4 milhões, o que significa uma expansão de 6,56% no indicador. A pesquisa mostrou ainda que o VGV médio das vendas de cada apartamento novo foi de cerca de R$407 mil no primeiro semestre de 2011, enquanto em igual período de 2010 foi de aproximadamente R$321 mil. Sempre é bom destacar que a dinâmica desse mercado pode estar vivenciando um processo de adequação como dito anteriormente. Existem fatores positivos que estão delineando as perspectivas de desempenho favorável à atividade, e, sem dúvida, a continuidade de expansão do crédito imobiliário é um deles. Mas é necessário aguardar para ver o ritmo das vendas no segundo semestre. Mesmo porque o Brasil, apesar de não estar no centro da crise que compromete o cenário internacional, terá um crescimento menor do que o ano passado. Além disso, destacam-se, ainda, os desafios que o setor enfrenta como a dificuldade de contratação de mão de obra qualificada, a dificuldade com locação de máquinas e equipamentos e a nova Lei de Uso e Ocupação do Solo em Belo Horizonte. *Jorge Luiz Oliveira de Almeida é diretor de Comunicação do Sinduscon-MG.