Autor: José Pastore* Enquanto países avançados terceirizam serviços na nuvem, o Brasil continua combatendo a terceirização na terra. É isso mesmo: a cada dia a economia mundial explora mais as vantagens comparativas desse tipo de contratação via Internet. A Revista The Economist publicou interessante matéria sobre a expansão de empresas especializadas nesse campo (The workforce in the cloud, 1/6). Tais empresas oferecem uma enorme gama de serviços, executados por profissionais especializados em tempo real nas áreas de marketing, propaganda, programação, administração, recursos humanos, contabilidade, auditoria, redação, tradução, educação, design, radiologia, medicina, engenharia, direito e várias outras. Eles operam em plataformas de trabalho que permitem a mobilização de grande volume de conhecimentos armazenados em satélites – daí a expressão “na nuvem”. É a consolidação do trabalho remoto que economiza espaço, tempo, energia e, sobretudo, elimina as deseconomias das aglomerações urbanas. As relações de trabalho que ali se instalam assumem as mais variadas formas. Há profissionais que “vendem” às prestadoras de serviços algumas horas do seu tempo, ficando as demais reservadas para trabalhos por projeto. Outros oferecem todo o seu tempo e trabalham como se empregados fossem. Há ainda os que só trabalham por projeto. Todos recolhem por sua conta as contribuições para a Previdência Social e para vários tipos de seguros. As prestadoras oferecem os serviços de profissionais que apresentam o melhor preço, não o menor preço. Do outro lado, as tomadoras avaliam os currículos e pesquisam a reputação dos profissionais. Dos dois lados, qualidade pesa muito. Cumpridos esses requisitos, o trabalho é contratado, executado, avaliado e remunerado. As empresas prestadoras recolhem uma comissão sobre o valor do contrato. Esse sistema tem pouco mais de dez anos, mas já congrega um número enorme de profissionais. No final de 2012, uma dessas empresas, a o-Desk, tinha 2,7 milhões de profissionais e 540 mil clientes espalhados em todo o planeta. Só nos Estados Unidos, tais serviços geram uma receita anual de aproximadamente US$ 3,5 bilhões. O negócio é explosivo. Para 2014, preveem-se US$ 5 bilhões. Os profissionais são livres para oferecer seus serviços a quantas empresas desejarem. Quando necessário, cumprem cláusulas de sigilo ou de pedido de exclusividade. Esse é o novo mundo do trabalho. Intermediação e terceirização estão se fundindo. Tudo é contratado de modo simples e direto. As remunerações dos profissionais são relativamente mais baixas do que no trabalho presencial mas compensam, pois eles podem viver em áreas menos caras porque não precisam se deslocar para trabalhar. Muitos trabalham de forma individual e isolada, outros trabalham em grupo, com base em redes. Nesse caso, há uma útil maximização de sinergias entre os especialistas e o espaço a percorrer é infinito. A criatividade se propaga a altas velocidades. A Internet está consolidando uma força de trabalho especializada, flexível e globalizada. Ao descrever esse novo mundo, viram com desânimo as discussões sobre terceirização no País. O assunto rola no Congresso desde 1998. Na Justiça do Trabalho gasta-se tempo com a discussão sobre atividades-fim e atividades-meio. As centrais sindicais buscam fórmulas amarradas a uma estrutura sindical ultrapassada. Enquanto isso, os concorrentes vão terceirizando na nuvem, de forma direta, expedita e segura. O Brasil não pode continuar refém de ideologias descoladas do mundo real. Recentemente, caímos da 32.ª para a 51.ª posição no campo da competitividade entre os 60 países estudados pelo IMD da Suíça. Isso é grave. Para a contratação de serviços terceirizados, há que se buscar fórmulas simples que deem liberdade para quem contrata e proteção para quem é contratado. Todo o resto é secundário. * José Pastore é professor de relações do trabalho da Faculdade de Economia e Administração e membro da Academia Paulista de Letras *Publicado no Jornal Estado de São Paulo em 18 de junho de 2013