Fonte: CBIC
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) revisou a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Construção para 1,5% em 2023. De acordo com a economista da entidade, Ieda Vasconcelos, a terceira redução consecutiva do ano se justifica pelo fato de o setor estar colhendo os frutos do prolongado cenário de juros elevados, além da demora no anúncio das novas condições do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (MCMV) e pela redução de lançamentos imobiliários nos primeiros meses deste ano.
“A construção, que cresceu 10% em 2021 e 6,9% em 2022, vai crescer 1,5% em 2023. Isso significa que o setor está colhendo os frutos amargos de uma taxa de juros tão elevada por tanto tempo”, explicou.
Os dados foram apresentados durante coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (31), com a presença do presidente da CBIC, Renato Correia, da economista da entidade e do Sinduscon-MG, Ieda Vasconcelos e do gerente de análise econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Souza Azevedo.
Apesar da redução na expectativa de crescimento, as perspectivas do setor para os próximos meses são positivas. Fatores como a decisão do Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) que aumentou em quase R$ 30 bilhões o orçamento para o financiamento habitacional de 2023; as novas condições do MCMV; e o novo programa de aceleração do crescimento, que deve ser anunciado em agosto, refletem nas projeções positivas do mercado.
“A aprovação do arcabouço fiscal, a tramitação da Reforma Tributária e o aguardado ciclo de redução da taxa de juros em agosto, que pode conter a fuga de recursos da caderneta de poupança, também são fatores que trazem maior segurança e previsibilidade ao setor, contribuindo de forma positiva”, destacou Ieda, ao lembrar que o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou a expectativa de crescimento da economia brasileira de 0,9% para 12,1% em 2023, impactando nas projeções positivas do mercado.
De acordo com o levantamento da CBIC, caso a construção mantenha o ritmo de crescimento de 1,5% ao ano, somente em 2035 o setor recuperaria o seu pico de atividades alcançado em 2013. “No primeiro semestre tivemos várias notícias positivas, como o aumento de recursos do MCMV. Mas o ciclo da construção é longo e ainda tem fase de projetos, por exemplo. Isso só vai se materializar no final deste ano ou início de 2024. E para se transformar em PIB, precisamos executar obras”, enfatizou Renato Correia.
Um dos principais impactos da elevada taxa de juros se dá no número de unidades financiadas com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que registrou queda de 26,43% no primeiro semestre de 2023 em comparação com o mesmo período do ano passado, reduzindo de 354 mil, em 2022, para 261 mil este ano. Já os valores financiados com recursos do SBPE caíram 10,39%. “O número de unidades financiadas caiu mais do que os recursos aplicados. Isto é, os ajustes de mercado no preço quase não impactaram a quantidade de recursos financiados”, alertou Renato Correia.
Dados do Banco Central mostram que no 1º semestre deste ano a caderneta de poupança (SBPE) perdeu R$ 54,5 bilhões. Mantendo esse ritmo, segundo análise da economista da CBIC, até o final do ano a queda pode chegar a R$ 109 bilhões. “Os saques da poupança estão em nível superior aos depósitos desde 2021, mas ganharam maior intensidade em 2022, quando a taxa de juros Selic alcançou o patamar de 13,75% a.a.”, explicou Ieda.
Nível de atividade
O estudo Sondagem da Construção, feito em parceria com a CNI, mostrou a resiliência do setor. No segundo trimestre deste ano, o setor apontou o melhor nível de atividade (49,8 pontos) desde o terceiro trimestre de 2022 (53,6 pontos).
Amparado pela perspectiva do cenário positivo, o nível de confiança do empresário também aumentou para 51,4 pontos, superando o patamar registrado nos primeiros três meses do ano. Segundo a economista da CBIC, o dado aponta que a confiança está mais disseminada entre os empresários do setor. “O empresário da construção está mais confiante para os próximos seis meses”, afirmou.
Custo da construção
Outro ponto destacado durante a coletiva foi a estabilidade nos preços dos materiais de construção. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), calculado e divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), acumulou alta de 3,93% nos últimos 12 meses encerrados em junho deste ano, o menor patamar desde junho de 2020 (3,68%).
Contudo, apesar da desaceleração registrada nos últimos meses, o INCC/FGV permanece com aumento superior à inflação oficial do país. Permanecendo o custo da construção com o patamar ainda muito elevado. De acordo com o presidente da CBIC, vale a pena reforçar o entendimento que o material de construção e equipamentos subiu 52,29% em três anos, de junho de 2020 a junho deste ano, já a inflação oficial subiu 25%.
“O setor não tem condições de absorver nenhum novo aumento de custos. O custo está estabilizado, mas em um patamar muito elevado. É importante estarmos atentos para que novos aumentos não prejudiquem a atividade. Não há mais margem de aumento material”, reforçou Renato Correia.
Geração de emprego
Em relação às vagas formais geradas, o setor registrou, em junho deste ano, pelo sexto mês seguido, saldo positivo de 20.953 postos de trabalho. Desde julho de 2020 a construção tem apresentado resultados positivos no mercado de trabalho, com exceção dos meses de novembro e dezembro, quando já é considerado sazonal para o setor. “É importante considerar que o volume de emprego que a construção gera hoje é fruto de um processo produtivo longo, iniciado em anos anteriores e contribui com a economia nacional”, apontou Ieda.
No primeiro semestre de 2023 a construção gerou 169.531 novos empregos formais, apontando crescimento de 7% este ano, alcançando a marca de 2,590 milhões de trabalhadores.
Com exceção dos estados de Roraima, Acre e Amapá, todos os estados brasileiros registraram saldos positivos em novas vagas no setor no primeiro semestre do ano. Os estados de São Paulo (42.671), Minas Gerais (28.706), Rio de Janeiro (13.145), Paraná (10.781) e Goiás (9.818) foram os cinco maiores geradores de novas vagas no período, representando 62% do total da criação dos novos empregos no setor.
“Nós já tivemos uma empregabilidade maior e ainda temos espaço para crescer. É preciso que o setor tenha uma previsibilidade maior dos recursos para seguir esse caminho de mais vagas”, comentou Correia.
Segundo o gerente de análise econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Souza Azevedo, a construção é um importantíssimo gerador de empregos. “É possível observar uma desaceleração, mas ainda tem espaço para crescimento. Infelizmente a construção tem perdido força devido aos problemas que o setor tem enfrentado”, comentou.