O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 15% ao ano pela segunda vez consecutiva. Os juros seguem no maior patamar em quase 20 anos, decisão que já era esperada pelo mercado. O Banco Central busca conter a inflação, porém os efeitos da política monetária começam a aparecer em indicadores que apontam desaceleração da atividade econômica.
A inflação medida pelo IPCA acumulou alta de 5,13% em 12 meses até agosto, abaixo dos 5,23% registrados no período anterior, mas ainda acima da meta de 3%, que tem intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%. Pela regra vigente desde janeiro, o Brasil descumpre a meta sempre que o índice supera o teto por seis meses seguidos — o que já ocorre atualmente.
Apesar disso, a Pesquisa Focus do Banco Central mostra melhora nas expectativas. A projeção para a inflação de 2025 caiu de 5,68% em março para 4,83% em setembro.
Na construção, os juros altos já mostram reflexos. O PIB do setor recuou 0,2% no segundo trimestre, a segunda queda consecutiva. Segundo Ieda Vasconcelos, economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e do Sinduscon-MG, o cenário é de atenção. “O setor é dependente de crédito e, por isso, o alto patamar dos juros no país atinge suas atividades. Um outro fator importante a ser ressaltado é que os dados do PIB da Construção também envolvem as atividades de pequenas obras e reformas realizadas pelas famílias, que num contexto de juros altos também podem ser afetadas”, explica.
Do lado da atividade econômica, o PIB cresceu 0,4% no segundo trimestre, após alta de 1,3% no primeiro, confirmando o ritmo mais fraco. O consumo das famílias também perdeu fôlego, passando de 1% para 0,5% no mesmo período. O IBC-Br, considerado uma prévia do PIB, iniciou o terceiro trimestre com retração de 0,53% em julho, a terceira queda seguida. Indústria, agropecuária e serviços recuaram no mês.
O comércio varejista também vem acumulando resultados negativos: em julho, as vendas caíram 0,3% em relação a junho, quarto recuo consecutivo. A indústria registrou queda em sete dos 15 locais pesquisados pelo IBGE.
Em contraste, o mercado de trabalho continua positivo. A taxa de desemprego caiu para 5,6% no trimestre encerrado em julho, a menor desde o início da série histórica, com recorde de 102,4 milhões de pessoas ocupadas. O rendimento médio chegou a R$ 3.484, alta de 1,3% no período. O Caged registrou 129,7 mil vagas formais em julho, embora esse tenha sido o segundo menor resultado do ano.
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