Sinduscon – MG

Notícias

Home / A batalha do aço

A batalha do aço

Aumenta a importação de produtos na construção civil para competir com os nacionais, considerados bem mais caros. Construtoras formam cooperativa para compras no exterior Aços importados usados na construção civil chegam ao mercado de Minas Gerais com a promessa de mexer com seus concorrentes nacionais nos próximos meses. Os primeiros carregamentos de vergalhões produzidos na Europa desembarcaram mês passado em Belo Horizonte e há construtoras que já cotaram o produto a preços até 40% inferiores aos de fabricação nacional. Distribuidoras independentes de aço estão se organizando para aumentar a oferta de vergalhões trazidos do exterior, com certificação pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), informou ontem a Associação Mineira dos Distribuidores de Aço (Amida). O Sindicato da Indústria da Construção Civil no estado (Sinduscon-MG) recebeu na segunda-feira o primeiro lote de vergalhões de origem turca para análise. A intenção das construtoras é avaliar as opções do vergalhão importado, não só do ponto de vista de se certificarem de que o produto importado atende às determinações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), quanto das condições logísticas para ter acesso ao produto estrangeiro, segundo Geraldo Jardim Linhares Júnior, vice-presidente da Área de Materiais, Tecnologia e Meio Ambiente do Sinduscon-MG. “É claro que se nós tivermos a alternativa da importação, fica mais fácil equilibrar os custos”, afirma. O Sinduscon está estruturando uma cooperativa de compras dos associados, que deverá estar pronta para partir para a importação no segundo semestre. “Podemos importar não só o aço, mas porcelanato e outros materiais, dependendo da condição de competitividade de preços e de fornecedores. Estimatimos uma economia de 7% a 15%”, afirma Jardim. A disputa do aço nacional com o produto importado deve crescer este ano, em função da retomada do crescimento da economia brasileira e do aquecimento da indústria da construção civil para atender às obras do programa Minha Casa, minha vida e a necessidade de infraestrutura para a realização dos jogos da Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. A Construtora Castor é uma das grandes empresas do setor que estão decididas a importar aço, informou Cantídio Alvim Drumond, superintendente de obras da construtora. “O problema do aço nacional é a concentração dos fabricantes, dominando os preços. É uma matéria-prima cara, que representa 9% do custo direto da construção”, afirma. O mercado brasileiro está nas mãos de três fabricantes, sendo dois deles as gigantes Gerdau e ArcelorMittal. A terceira é a Siderúrgica Barra Mansa, do grupo Votorantim. As três empresas já foram acionadas na Justiça com denúncias de prática de preços combinados, prejudicial à concorrência. A distribuidora de ferro e aço Santa Clara, há 18 anos no mercado de aços para construção e setor agropecuário, prevê forte crescimento da oferta de produtos importados neste ano, inclusive de vergalhões que começou a trazer da Europa em janeiro. A procura das construtoras aumentou, segundo o dono da distribuidora, Ricardo Maia, que investe, desde 2004, numa estrutura profissional de compras voltava para o exterior. A oferta do aço para construção em concreto armado é resultado de uma política de diversificação, depois de a Santa Clara ter se firmado na distribuição de arames farpados, galvanizados e recozidos, pregos, grampos e telas exagonais importadas da Ásia. “Todos os produtos atendem as especificações técnicas do mercado brasileiro. Num ano de retomada do crescimento, o país deverá consumir 3 milhões de toneladas de vergalhões e esse consumo tende a aumentar ao ritmo de 300 mil toneladas por ano”, afirma Maia. O empresário tem mantido contato com fornecedores estrangeiros, nos últimos três anos, de países como a Portugal, Espanha, Inglaterra, Alemanha e Turquia. Pedro Galdi, analista de mineração e siderurgia da corretora SLW, não tem dúvida de que as importações vão crescer, não só em função da retomada da economia, como também, em consequência de preços de aço mantidos no mercado interno em níveis bem superiores aos dos produtos importados. É o caso da bobina de aço a quente, considerada uma referência de preços no mercado internacional de aços planos (destinados às indústrias automotiva e de eletroeletrônicos), vendida a US$ 1.100 por tonelada, em média, no Brasil, ante a cotação no exterior de US$ 650. O produto nacional sai, portanto, 69% mais caro. “Com certeza, a importação ajuda a regular os preços”, diz Galdi. Rubson Lopes Nogueira, vice-presidente da Associação Mineira dos Distribuidores de Aço (Amida) afirma que a própria sobrevivência da rede depende da importação. No segmento de pregos, por exemplo, de três dezenas de marcas existentes no fim dos anos 1990, restaram não mais de três opções. “A entrada de produtos importados mostra que estamos nos livrando dessa camisa de força que domina o preços e prejudica o consumidor brasileiro”, afirma. Segundo o Instituto Aço Brasil (IABr), as diferenças de preços entre o aço nacional e o importado refletem a alta carga tributária brasileira, que representa 38% do Produto Interno Bruto do país (o PIB é a soma da produção de bens e serviços), além do chamado Custo Brasil. Ainda assim, de acordo com Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente executivo do IABr, a indústria brasileira tem conseguido oferecer aços para construção a preços iguais ou até inferiores aos de marcas estrangeiras.