Na década de 80, o nome de uma lanchonete em São Paulo virou notícia nacional: “O Engenheiro que virou Suco”. O fato foi noticiado nos jornais demonstrando o péssimo momento que a engenharia nacional estava atravessando. Hoje, podemos dizer que o Brasil está vivendo a “vingança” daquele engenheiro. O crescimento recente do país e da construção civil fez explodir a demanda por profissionais da área e valorizou novamente uma das profissões mais antigas do mundo. Nos últimos cinco anos, vários fatores impulsionaram as atividades da construção civil, levando-as a um incremento de 5,22%. A maior oferta de crédito imobiliário, aliada à redução da taxa de juros dos financiamentos e a prazos maiores para pagamento, o aumento do emprego formal, o crescimento da renda familiar e a estabilidade macroeconômica são alguns deles. Números recentes mostram ainda que a construção civil nacional gerou, no ano passado, 15.496 mil vagas formais no mercado de trabalho – o segundo melhor resultado anual desde 1999 – acumulando um estoque de 2,108 milhões trabalhadores de vários níveis. A estimativa da FGV Projetos é de que o setor deverá registrar aumento de 8% nessas vagas em 2010. Um fato tem chamado a atenção e vem engrossando esses números: o ingresso da mão de obra feminina nos canteiros. O que já pode ser visto em um passeio pelas obras é constatado pelo estudo “Boletim Mulher e Trabalho”, da Secretaria Especial de Política para as Mulheres, órgão do governo federal, que mostra que de setembro de 2007 a abril de 2008, a presença das mulheres na construção cresceu 15% e a dos homens reduziu em 6%. Segundo o estudo, até aquele abril havia aproximadamente 69 mil representantes do então “sexo frágil” nas seis principais regiões metropolitanas do país. Abro aqui um parêntesis para registrar que a presença feminina nas obras não é tão novidade assim: o acervo do Núcleo de Estudos da Cultura, Oralidade, Imagem e Memória da Universidade de Brasília retrata mulheres trabalhando na construção da capital federal em meio aos canteiros e nos acampamentos transformados em vilas e cidades. Se por um lado o incremento das ocupações na construção civil revela um movimento interessante para a economia nacional – pois a criação de emprego implica na geração de renda e consumo -, por outro lado, aponta para um quadro preocupante: não bastam novas vagas, é necessário qualificar os profissionais admitidos. O setor já se deu conta disso e tem criado cursos, treinamentos, reciclagens, enfim, alternativas para solucionar a situação. Ao certo, não sabemos quantificar essas oportunidades, mas um levantamento deste jornal, publicado em matéria do último dia 25, mostrou que este ano estão sendo ofertadas 384.103 vagas em cursos de qualificação e aperfeiçoamento profissional direcionadas ao comércio, indústria e construção civil no estado de Minas Gerais. Dessas vagas, 503 são direcionadas exclusivamente à atividade construtora e cerca de 160 mil contemplam o setor de alguma maneira. O problema é que o montante não é suficiente, principalmente diante de um cenário animador, com perspectivas positivas em função das obras que serão erguidas para as Olimpíadas, Copa do Mundo e, ainda, para atender à infraestrutura necessária para o crescimento do país. A saída então é que todos os envolvidos – sejam empresários, escolas profissionalizantes particulares e públicas, governos federal, estaduais e municipais, por meio de programas diversos – aumentem o investimento na qualificação para dar conta do crescente movimento do setor e “vingar” os milhares de engenheiros e profissionais da área que, nos anos 80, viraram administradores, comerciantes, lojistas, feirantes, desempregados… suco! * Jorge Luiz Oliveira de Almeida é diretor de Comunicação do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG).