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Aço: setor sinaliza para uma retração da produção

Efeitos da crise começam a surgir. A produção de aços planos, que já vinha caindo nos últimos meses, teve redução mais acentuada em setembro, já sentindo os reflexos da crise no mercado internacional. Comparando o nono mês deste ano com o mesmo mês de 2007, houve queda de 8,2%, com a produção de planos caiu de 1,278 milhão de toneladas no ano passado para 1,173 milhão de toneladas neste ano. A laminação de planos também registrou queda de 2,3% entre janeiro e setembro de 2007 (11,637 milhões de toneladas) e o mesmo período de 2008 (11,369 milhões de toneladas). Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). Mas, nem mesmo o aperto na produção de planos indica que novos aumentos do insumo estejam por vir, por causa dos reflexos da crise internacional. O Conselheiro executivo do grupo Nippon Steel, que detém 24,7% do controle acionário da Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S/A (Usiminas), Yoshiaki Nakamura, já havia informado ao DIÁRIO DO COMÉRCIO, que a intenção de realizar um novo reajuste, que seria o quarto deste ano, no preço do aço está sendo avaliada por causa do atual cenário de incertezas no mercado internacional, que já teve reflexos sobre a demanda mundial. Apenas a Usiminas, maior fornecedora da indústria automotiva no país, já reajustou os preços três vezes neste ano, somando aumento de aproximadamente 40%. Expansão – Já a produção brasileira de aço bruto cresceu 7,3% nos primeiros nove meses deste ano. As usinas produziram 26,826 milhões de toneladas do insumo entre janeiro e setembro de 2008 contra 25,002 milhões de toneladas em igual período de 2007. Na mesma base de comparação a fabricação de laminados cresceu 3,1%, saindo de 19,111 milhões de toneladas para 19,694 milhões de toneledas. Apesar do crescimento, os dados apontam para retração na comparação com os números do acumulado do ano até agosto, quando a evolução da produção de aço bruto foi de 7,5% e de laminados 3,2% frente o mesmo intervalo de 2007. Especialistas afirmam que os efeitos da crise devem ter reflexos sobre o desempenho de 2009, tendo em vista os contratos de longo prazo do segmento de siderurgia, que ainda estão sendo cumpridos este ano. Minas Gerais continua liderando a produção nacional e foi responsável por 35,7% do total de aço bruto brasileiro (9,585 milhões de toneladas) e pelo mesmo percentual de laminados (8,884 milhões de toneladas) no acumulado do ano até setembro. A produção brasileira de longos registrou forte expanção, passando de 7,473 milhões de toneladas nos primeiros nove meses do ano passado para 8,325 milhões de toneladas em igual intervalo do atual exercício, incremento de 11,4%. O crescimento da construção civil é o principal motor da fabricação de aços longos. ALINE LUZ Baosteel pode reduzir preços O anúncio do grupo siderúrgico chinês Baoshan Iron and Steel (Baosteel) em reduzir os preços de vendas do aço em 20% no mês dezembro frente novembro e diminuir a produção ainda este mês é avaliado de maneiras diferentes. Especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO acreditam que a informação pode ter cunho estratégico, já que as negociações do reajuste de preço do minério de ferro se aproximam, ou seja simplesmente uma resposta à crise. Regulação do mercado e acordo com o governo chinês, com algum tipo de compensação fiscal, também são apontadas como possíveis justificativas. O presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira para o Progresso da Mineração (Apromin) e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), José Mendo Misael de Souza, disse que o anúncio da redução dos preços do aço em dezembro e da redução na produção já em setembro pela grupo chinês Baosteel não são tão claras a ponto de se fazer uma análise das implicações da informação. “Pode ser um ajuste pontual da empresa. Ou mesmo um sinal da presença do governo chinês na decisão do grupo, que pode ter algum tipo de compensação com a redução do preço. Pode ainda ser rearranjo para o fechamento do ano, á que não há menção de projeções para 2009”, sugeriu. O analista de mercado dos setores de mineração e siderurgia da SLW Corretora, Pedro Galdi, disse que o setor de siderurgia, assim como a economia mundial, vive um momento de desaceleração e, conseqüentemente, na elevação de estoques, o que tende a provocar redução nos preços. “Ainda é cedo para dizer se a informação do grupo Baosteel já implica em um aceno às negociações sobre o preço do minério de ferro, que se iniciam no fim do ano”, explicou. Galdi informou que a decisão dos grupos siderúrgicos estão condicionadas aos reflexos da crise na região de atuação, além de depender também dos planos da empresa. “O grupo pode reduzir a produção para regular o mercado e manter os preços, por exemplo. Mesmo com perspectivas de desaceleração, o crescimento e a demanda dos chineses ainda é muito elevada”, ponderou. O sócio da DLM Invista Administração de Recursos, Marcelo Domingos, acredita que o momento é de pressão por queda nos preços, já que os compradores começam a apresentar mais cautela no seguimento de planos de investimentos. “O grupo de chinês pode estar agindo estrategicamente, já que as negociações do preço de minério de ferro se aproximam ou pode ser simplesmente um ajuste para regular o mercado”, analisou. ALINE LUZ IBS: situação é confortável Rio – A crise financeira ainda não está retratada nos números de setembro da produção siderúrgica. Dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) mostram que a produção atingiu 3 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 5% em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo o vice-presidente do IBS, Marco Polo de Mello Lopes, acredita que ainda é cedo para rever expectativas de crescimento para o setor em função da crise. O executivo acredita que só nos indicadores de outubro será possível mensurar com mais clareza os desdobramentos das turbulências no front externo. Mas, lembra que já é possível identificar sinais de retração, como a decisão de montadoras de conceder férias coletivas aos seus funcionários. Ele acredita que a parada tem como pano de fundo o fato de boa parte da produção das montadoras ter como destino o comércio externo em um momento em que a economia da Europa e dos Estados Unidos caminha para recessão. O vice-presidente, porém, pondera que a situação da siderurgia brasileira é melhor do que a mundial. Isto porque, o governo vem dando ênfase a manutenção dos investimentos em infra-estrutura por meio do PAC e também ao setor da construção civil. Na semana passada, a Caixa Econômica Federal informou que o governo prepara medidas para socorrer construtoras que fizeram lançamentos imobiliários e que, em razão da crise, ficaram sem dinheiro para finalizar seus empreendimentos. (AE)