Instituições reforçam discurso de iniciativas globais coordenadas e se preparam para injetar mais recursos Paulo Paiva Enquanto no Brasil o Banco Central (BC) enfrenta o dilema de cortar ou não os juros, justamente depois de uma série de iniciativas para injetar recursos no sistema financeiro e manter a economia aquecida, BCs ao redor do mundo devem lançar novas ações coordenadas de emergência esta semana para tentar acalmar o pânico que tomou conta dos mercados financeiros, que pode se agravar ainda mais por conta de dados que apontam para uma recessão global – recessão que, no Brasil, ainda tem a forma de desaceleração econômica, embora a questão cambial esteja afetando gravemente o balanço de uma série de gigantes de setores como celulose e mineração. Especialistas falam que essas perdas podem chegar a R$ 40 bilhões. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), presidido por Ben Bernanke, deve cortar mais uma vez a taxa básica de juro americana, seguindo as fortes vendas de ações e o colapso das moedas de alguns países desenvolvidos e economias emergentes da Ásia e da América Latina. Os primeiros dados sobre o desempenho da economia dos EUA no terceiro trimestre, que serão divulgados na quinta-feira, devem mostrar uma contração de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) depois de uma expansão de 2,8% no trimestre anterior – o que, tecnicamente, ainda não significa recessão. SINAIS Mas os especialistas estão em alerta. “Cada vez mais, os sinais apontam para uma profunda e sincronizada recessão global”, disse o economista Bruce Kasman, do JPMorgan. “Ainda é muito cedo para medir com precisão a profundidade da desaceleração, uma vez que o cenário depende de quão bem as ações dos governos poderão conter a crise financeira.” A probabilidade de o Fed cortar a taxa de juro em 0,5 ponto percentual era calculada, ontem, em 74%, e a chance de uma redução de 0,75 ponto era de 26%. Líderes da Ásia e da Europa reforçaram a intenção neste fim de semana de dar um impulso na confiança dos investidores, que enfrentam a pior crise financeira em 80 anos. “Precisamos usar todos os meios necessários para impedir que a crise financeira impacte sobre a economia real”, afirmou o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, no sábado, durante o final de uma cúpula de dois dias entre 43 líderes asiáticos e europeus em Pequim. O presidente do banco central da China, Zhou Xiaochuan, afirmou que trabalhará um plano para fornecer ajuda emergencial a bancos, se necessário. O ministro da Economia do Japão, Kaoru Yosano, afirmou ontem que o governo deve aumentar seu esquema de proteção aos bancos para cerca de US$ 106 bilhões. A Coréia do Sul deve cortar o juro hoje. A Arábia Saudita revelou planos para injetar US$ 2,67 bilhões no Saudi Credit Bank, criado para concessão de empréstimos sem juros a cidadãos pobres. Governos já comprometeram cerca de US$ 4 trilhões para apoiar bancos e restaurar as atividades dos mercados abertos na tentativa de conter a crise e estão considerando regras financeiras mais rígidas para se defenderem de qualquer repetição da atual situação. Analistas de câmbio afirmam que a extrema volatilidade do dólar, que incluiu movimentos de 10% em algumas taxas apenas na sexta-feira, pode obrigar os bancos centrais do G7, ou dos 20 principais países, a intervir em breve para uma estabilização dos mercados mundiais. Mas outros analistas acreditam que os movimentos são pouco mais que a desarticulação dos excessivos desbalanceamentos de moedas e de investimentos que foram montados ao longo da última década via baixas taxas de juros globais. Em resumo, será uma semana com mais emoções fortes. (Com agências) União fortalece imóveis Em meio à crise global que já afeta o crédito no Brasil, inclusive para a casa própria, o setor jurídico começa a unir forças com o imobiliário – eleito como prioritário pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para manter o crescimento econômico. As dificuldades legais na hora de comprar e alugar imóveis levam empresas do segmento a valorizar cada vez mais a parte jurídica nas negociações. Em Belo Horizonte, começa a operar em novembro a Excelência Negócios Imobiliários, que nasceu de parceria com a Carvalho Pereira e Pires Advogados Associados. “Vamos fundir a segurança jurídica com o ramo imobiliário. Antes de colocar o imóvel à venda, será feito um rastreamento do bem, com consulta nos fóruns se a unidade tem alguma pendência judicial”, afirma José Arthur de Carvalho Pereira Filho, um dos sócios da empresa. Muitas vezes, diz, o vendedor do imóvel pode ter uma ação judicial em andamento e a venda que já foi fechada acaba sendo cancelada. A Excelência nasceu da parceria de advogados com consultores imobiliários. “Vamos trabalhar não como vendedores, mas consultores de imóveis”, afirma Hugo Gabrich, diretor da Excelência. Grande parte dos imóveis que são colocados hoje à venda no mercado, diz, não passam por rastreamento para saber como está a situação judicial ou se tem impedimentos como penhora, dívidas, processos. “E isso faz o comprador perder tempo. Depois de ter escolhido o imóvel, pode não conseguir comprá-lo”, observa Gabrich. A Excelência pretende operar com cerca de 20 corretores de imóveis. O perfil desse profissional, segundo os executivos, mudou. “O cliente exige mais qualificação, não há mais espaço para o mostrador de imóveis”, diz Gabrich. A profissão, que no passado era usada como “um bico”, hoje exige qualificação e tem levado engenheiros, arquitetos e diversos profissionais com curso superior a abandonar a carreira para vender imóveis. O rendimento médio mensal, segundo Gabrich, chega a R$ 10 mil.