Brasileiros com renda de até R$ 2 mil vão poder contratar financiamentos com juros de 5% ao ano. Caixa bate recorde Paula Takahashi Os interessados na compra da casa própria que ganham até R$ 2 mil mensais podem comemorar uma das boas notícias divulgadas ontem pela Caixa Econômica Federal. A taxa de juros para trabalhadores que recebem dentro dessa faixa salarial vai ser limitada a 5% ao ano mais Taxa Referencial (TR), em empréstimos habitacionais com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a partir de 2009. Hoje, a taxa é de 6% ao ano mais TR. A medida vale para imóveis avaliados em até R$ 80 mil. Para Teodomiro Diniz Camargos, presidente da Câmara da Indústria da Construção da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a ação é muito importante e vai beneficiar exatamente a parcela da população que tem mais dificuldade de acesso à casa própria. “A grande maioria das pessoas se concentra na faixa de um a três salários mínimos e são consumidores que precisam de juros baixos, prazos longos e parcelas que caibam no salário. Essa é uma medida muito acertada”, avalia. Outra boa notícia é destinada às construtoras. O Conselho Curador do FGTS aprovou uma linha de crédito de R$ 3 bilhões para as empresas no próximo ano por meio da compra de debêntures (títulos emitidos pelas construtoras) ou cotas de fundos imobiliários que vierem a ser criados pelas construtoras como forma de repassar os empréstimos. Esse montante de R$ 3 bilhões também é o valor que a Caixa Econômica Federal detém para operações de capital de giro, cujos primeiros contratos já foram assinados para empresas do ramo. “Essa irrigação do mercado é muito positiva, pois existe uma grande carência por crédito”, ressalta Diniz Camargos. O crédito também secou mundialmente, mas não foi suficiente para impedir que a Caixa batesse mais um recorde no financiamento habitacional. A instituição financeira anunciou ontem que, até 28 de novembro, já foram assinados 446 mil contratos, totalizando a liberação de R$ 20,4 bilhões. O resultado representa uma elevação de 60% em relação aos R$ 12,7 bilhões alcançados em 2007. O anúncio foi comemorado. “Já é uma ótima notícia para tranqüilizar o setor, principalmente aqueles construtores que têm como público alvo consumidores que dependem do crédito”, avalia André de Sousa Lima Campos, diretor de programas habitacionais do Sindicato das Indústrias da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG). Para ele, o resultado reflete o crescimento do setor nos últimos anos. “A crise vem aumentando nos últimos meses, mas o aquecimento ocorre desde o ano passado”, explica. “A Caixa mantém a linha de crédito e os juros, diferentemente de outros bancos e a expectativa é de que o cenário de expansão de crédito imobiliário continue”, acrescenta. A Caixa já divulgou que, para 2009, as metas serão superiores a este ano, justamente devido à manutenção dos prazos e taxas de juros para financiamento. “Isso sinaliza que vai ter crédito, sem o qual não existe mercado. É um grande estímulo para as empresas e uma forma de compensar a forte retração de crédito apresentada por bancos privados”, afirma Diniz Camargos. Ainda este ano, a instituição financeira espera atingir 500 mil contratos, com injeção de R$ 22,8 bilhões. “A Caixa mantém todos os sinais de que vai continuar oferecendo crédito ao cliente final sem mudanças de condições. Além disso, o governo já sinalizou que o setor é importante na geração de emprego, que pode alavancar a economia nesse momento de crise, portanto as medidas e recursos do governo devem continuar”, ressalta Campos. (Com agências) TORNEIRA ABERTA Recursos liberados pela Caixa para casa própria Financiamento habitacional, até 28 de novembro 446 mil contratos R$ 20,4 bilhões Alta de 60%* Empréstimos com recursos da caderneta de poupança Mais de R$ 9,3 bilhões Alta de 76%** Empréstimo com recursos do FGTS R$ 10,2 bilhões Alta de 60%** *Em relação ao mesmo período de 2007 ** Em relação a 2007 Produtor pede crédito extra Marta Vieira As liberações do crédito rural em Minas Gerais terão de ser pelo menos 20% maiores no ano que vem, a despeito dos efeitos da crise financeira mundial, para que as necessidades de financiamento da safra 2009/2010 sejam atendidas. O alerta foi feito, ontem, pelo presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), José Silva Soares, ao fazer um balanço das atividades da instituição, que completa 60 anos neste sábado. Outro desafio será reverter a concentração dos empréstimos nas mãos de grupos menores de produtores rurais. “Se o governo não acenar muito firmemente com a garantia de recursos e de seguro, a próxima safra será muito afetada”, afirmou. O dinheiro liberado ao campo este ano até outubro não mostrou reflexos da turbulência na economia. Segundo o presidente da Emater-MG, os créditos repassados aos agricultores e às empresas do agronegócio mineiro nos primeiros 10 meses do ano cresceram 13,7%, bem acima da média nacional de 2,9%, na comparação com o mesmo período de 2007. Foram, ao todo, 46,996 mil contratos fechados para o estado, avaliados em R$ 1,309 bilhão. Os recursos destinados ao Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf), que tem em Minas a segunda melhor demanda no país, depois do Rio Grande do Sul, somou 39 mil contratos e R$ 286,6 milhões, valor 15% superior ao dos mesmos meses do ano passado. Na avaliação de Silva Soares, o resultado positivo pode refletir o fato de a crise financeira ter se agravado num momento em que boa parte dos plantios estava preparada. Além disso, contribuíram o anúncio antecipado do governo do plano de safra, em julho deste ano, portanto, quando não se imaginava o turbilhão nas bolsas de valores, e as boas condições do clima nas regiões produtoras mineiras. Um grande problema, no entanto, é observado na má distribuição dos recursos. O número de contratos do crédito rural diminuiu 4,4% nos primeiros 10 meses de 2008, ante os 49.174 financiamentos acertados de janeiro a outubro de 2007. REIVINDICAÇÕES O governador Aécio Neves apresentou ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma lista de reivindicações dos produtores rurais mineiros para enfrentar a crise econômica mundial. Entre elas estão a suspensão imediata das dívidas da cafeicultura, sejam de custeio ou de comercialização, como forma de recuperar a estabilidade no fluxo de pagamentos dentro da cadeia produtiva. Aécio Neves também solicitou a realização de contratos de opção de venda, envolvendo um volume de 6 milhões de sacas. As propostas foram formuladas por entidades de classe da agropecuária e apresentadas pela Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg).