Venda de imóveis na planta e em construção é adiada pelo temor de aumento das taxas de juros e paralisação de obras Denise Menezes No cenário de incertezas provocadas pela crise financeira mundial, o mineiro reage com cautela e tem adiado a decisão de compra de imóveis vendidos na planta e em construção. Elevação das taxas de juros dos financiamentos imobiliários, paralisação de obras e atraso na entrega do imóvel – em função de problemas de liquidez que possam atingir construtoras e incorporadoras, já que o crédito para a produção encolheu – são os principais temores do consumidor. O vice-presidente da Área Imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Jackson Camara, admite que os clientes estão com o pé no freio, mas garante que até agora não há qualquer alteração na área produtiva das empresas que justifique o temor de paralisação de obras ou atraso na entrega do bem. “Em Minas, o cliente pode contar com produtos de empresas sólidas, mineiras e nacionais. Mas, evidentemente, precisa ter critério ao escolher com quem negociar para não entrar em uma canoa furada”, adverte. Camara reconhece que as empresas do setor que optaram pela abertura de capital, a princípio, são as que mais sofrem os efeitos da crise, em função da queda no valor de suas ações negociadas em bolsa. Entretanto, pondera que o impacto dessa desvalorização na área produtiva da empresa é relativo. “Houve uma grande desvalorização, mas o impacto disso na saúde financeira, na liquidez das empresas de capital aberto, que possa refletir na área produtiva, tem de ser analisado caso a caso, e é prematuro fazer qualquer tipo de avaliação”, diz. Já em relação ao crédito imobiliário, o vice-presidente do Sinduscon-MG afirma que até agora não há mudanças de regras. “O que pode haver é uma elevação dos juros. Mas nada que preocupe. O Brasil tem dinheiro para habitação que continuará a ser emprestado, apesar da tempestade”, considera. Na mesma linha de raciocínio, Alexandre Gribel, diretor-presidente da Gribel Imóveis, líder na comercialização de lançamentos no mercado mineiro, lembra que os juros do sistema brasileiro habitacional estão limitados a 12% ao ano. “E as taxas que vinham sendo praticadas pelo mercado, antes da crise, não estavam muito abaixo disso”, ressalta. Linha de crédito Diretor regional da incorporadora Rossi, Frederico Kessler assegura que em Minas investimentos serão mantidos A intenção do governo de disponibilizar, por meio da Caixa Econômica Federal (CEF), uma linha de crédito de R$ 3 bilhões, com juros abaixo dos cobrados pelo mercado, direcionada às empresas da construção civil atende ao principal pleito do setor. Empresários e executivos alertam, porém, que é preciso estabelecer critérios bem estudados para que o dinheiro chegue a quem de fato necessite e possa também retornar com segurança aos cofres públicos. Em documento divulgado no início da semana passada, ao final do 80º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), realizado em São Luís (MA), os empresários do setor já mostravam essa preocupação e defenderam, entre outras medidas, critérios rígidos de crédito na concessão de recursos públicos e que o dinheiro seja dirigido para compor o capital de giro das empresas ou para facilitar operações de empresas e de empreendimentos, inclusive fusões, incorporações e aquisições. “O governo deve abrir linhas de crédito, com juros mais baixos e prazos maiores, para financiar a produção. Mas a concessão do crédito deve estar sujeita a critérios rígidos, para que o dinheiro emprestado não seja usado em outros fins, como já vimos acontecer tantas vezes”, afirma o vice-presidente da Área Imobiliária do Sinduscon-MG, Jackson Camara. O vice-presidente executivo e de Relações com o Investidor da MRV Engenharia, Leonardo Corrêa, observa que qualquer tipo de medida que estabeleça a concessão de crédito para o setor deve ser operacionalizada pela Caixa Econômica Federal. “De todas as instituições do sistema financeiro nacional, a CEF é a mais experiente e a maior conhecedora do mercado imobiliário brasileiro, com maior volume de empréstimos processados. Portanto, é ela um canal de primeira grandeza para ser o condutor e o difusor dos recursos públicos destinados à construção.” Já a autorização para que a CEF compre participação em empresas da construção civil em dificuldades, estabelecida pelo governo federal na Medida Provisória 443, que esta semana deverá ser apreciada pela Câmara dos Deputados, é criticada por boa parte dos empresários. “Dinheiro público deve ser usado em educação, saúde, infra-estrutura e em atividades que fomentem o desenvolvimento. Não é para salvar quem não fez o dever de casa direito. É o mercado quem tem de resolver isso, por meio de vendas, fusões e incorporações”, defende Camara. Ricardo Alfeu é outro crítico da medida. “A Caixa é um agente financeiro e tem que atuar como tal, não como sócio de empresas. Isso não vai funcionar”, prevê. Já o diretor regional da Rossi, Frederico Kessler, pondera que a intenção do governo ao editar a medida foi acalmar o mercado, mas pode ter causado efeito contrário. “Ficou a impressão de que o setor como um todo está em dificuldades, o que não é o caso”, analisa. Porto seguro para investidor Se por um lado a crise tem provocado a cautela do cliente que pretendia comprar um imóvel na planta, por outro, tem contribuído para a aceleração de vendas dos imóveis, residenciais e comerciais, já prontos. São investidores em busca de um porto seguro para suas economias. “Temos registrado uma procura maior do investidor que quer aplicar pelo menos parte de seus recursos na aquisição de um imóvel para alugar. É uma situação recorrente em momentos de crise”, atesta Caio Mário Campos Ferreira, diretor do Creci-MG. Ele defende que não só os imóveis prontos, mas também as unidades na planta, representam um bom negócio para quem pretende diversificar suas aplicações, para preservar suas economias dos efeitos da crise. “Em 21 anos de atuação no mercado, nos quais o país passou por diversos problemas econômicos, nunca vi imóvel cair de preço. Além disso, especialistas do mundo todo consideram que o imóvel no Brasil ainda é barato e, em momentos como este que estamos vivendo, é possível fazer ainda melhores negócios”, acrescenta o diretor-presidente da Gribel Imóveis, Alexandre Gribel. Unir o útil ao agradável. Assim o professor aposentado Nelson Rodrigues explica a sua decisão de comprar, num momento de incerteza econômica, um imóvel residencial na Região Sul de Belo Horizonte. “O investimento imobiliário é, na minha avaliação, a aplicação mais segura que existe. Como também já estava com a intenção de me mudar, aproveitei o momento e considero que fiz um bom negócio”, diz. Ele observa, porém, que quem pretende investir em imóveis deve sempre buscar a ajuda de um especialista, um corretor credenciado, para a identificação do melhor negócio. “Um imóvel residencial, por exemplo, vai ter sempre uma demanda para a locação, porque todos precisam de uma moradia. Mas a ajuda de um especialista é importante para identificar qual bem dará a melhor rentabilidade ao capital investido”, explica, ao informar que nos últimos dois anos fez três negócios imobiliários com a ajuda da equipe da Lar Imóveis. Rentabilidade e, principalmente, segurança para recursos recebidos de um seguro motivaram Mércia, que prefere não revelar seu sobrenome, a comprar um imóvel residencial no Bairro Buritis, Região Sul de BH, que pretende disponibilizar para a locação. “Num momento como este, de muita desinformação, a gente não sabe o que vai acontecer com o dinheiro depositado em banco ou numa aplicação financeira. Então, é hora de buscar segurança. E o investimento em imóveis é palpável e rentável, além de ficar livre de qualquer especulação financeira”, considera. Mércia adianta que pretende adquirir outros imóveis, no curto prazo, também como uma forma de investimento. “Estou procurando imóveis na Região Sul e conto com a assessoria de um corretor, porque quero bens rentáveis e também com boa liquidez, já que posso precisar vendê-los rapidamente.” Em Minas, empresas mantêm lançamentos Metas serão revistas somente se houver retração significativa de demanda. É o que garantem importantes construtoras e incorporadoras que atuam no estado Denise Menezes Em Minas Gerais, importantes construtoras e incorporadoras prometem manter a programação de lançamentos, apesar dos sinais de desaceleração da economia brasileira, em função da crise financeira mundial. “As empresas estão capitalizadas em patamar suficiente para manter as metas de lançamento projetadas para o resto deste ano e para 2009. O que pode haver, se confirmada uma retração de demanda, é uma revisão dessa estratégia para 2010”, diz o diretor-presidente da RKM Engenharia, Ricardo Alfeu. Ele garante que a RKM e a sua parceira no mercado mineiro, Klabin Segall, estão em situação confortável, tanto para tocar as obras dos empreendimentos já lançados, quanto para manter as metas de lançamentos programadas para 2009. Segundo Alfeu, o principal público dos empreendimentos da empresa é formado por profissionais liberais e empresários que têm suas atividades ligadas ao mercado interno, portanto, menos sujeitas às oscilações da economia mundial. Em nota divulgada à imprensa, no início do mês, a incorporadora Rossi comunicou, entre outras decisões, uma redução média de 14%, este ano, e de 25%, em 2009, no número de lançamentos no país, em função do cenário macroeconômico adverso. Mas o diretor regional da empresa, Frederico Kessler, assegura que em Minas os investimentos não serão interrompidos. “Vamos manter nossas metas para Minas Gerais. Estamos lançando, no mês que vem, o Rossi Soneto, no Jaraguá, Região da Pampulha, e também um empreendimento em Uberlândia. O mercado mineiro ainda tem demanda reprimida pelos vários anos em que ficou contido. Com isso, mesmo num cenário de desaceleração, teremos espaço para crescimento”, diz, ao garantir que a Rossi não notou até agora qualquer retração de demanda em relação ao Rossi Botanique, empreendimento situado em Nova Lima e que marcou a reestréia da empresa no mercado mineiro. “Estamos com 90% das unidades desse empreendimento vendidas”, informa. Frederico kessler observa que a empresa, de capital aberto, não teve a sua saúde financeira afetada pela desvalorização de suas ações negociadas em bolsa. “O valor de mercado das empresas de capital aberto não tem correlação com seu desempenho operacional. A saída dos investidores, com a venda dos papéis das empresas, afeta o valor das suas ações e não o caixa das empresas. A Rossi tem uma situação financeira consolidada, além de linhas de crédito garantidas para a produção de suas obras”, afirma. Em raciocínio semelhante, o vice-presidente executivo e de Relações com o Investidor da MRV Engenharia, Leonardo Corrêa, reforça que não há correlação direta entre o valor das ações e a saúde financeira das empresas, e afirma que todos os negócios no mundo perderam valor com a crise, não só as empresas de capital aberto. “A diferença é que, com ações em bolsa, a perda fica mais evidente, já que temos cotação on-line, que nos permite o acompanhamento dos negócios em tempo real”, argumenta. Na MRV, diz Corrêa, não há previsão de alteração de metas de lançamentos deste ano, mas a empresa está avaliando o mercado e poderá fazer alguma adequação, no planejamento para 2009, às condições econômicas do país e ao nível de demanda. “Seremos prudentes. Temos um plano de crescimento grande e vamos ficar com o dedo no pulso da demanda. Nossa oferta vai acompanhar sempre o nível da demanda”, destaca.