Carta de crédito. Ausência da taxa de juros é atrativo da modalidade, mas ela requer cuidados ALESSANDRA MIZHER Opções não faltam para quem quer realizar o sonho da casa própria. Oferta exorbitante de crédito imobiliário e crescimento dos investimentos das construtoras em novas unidades habitacionais têm levado o setor a colecionar recordes. Segundo especialistas, este não foi apenas o ano de crescimento dos financiamentos para a compra de imóveis com recursos da poupança. O consórcio imobiliário também bateu recorde de participantes nos primeiros quatro meses de 2008. De janeiro a abril, mais de 484 mil pessoas pagaram cotas de consórcio para compra de um imóvel, segundo a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac). O total de participantes é 15,4% maior em relação ao mesmo período de 2007 e o mais alto registrado desde os anos 90. Os consórcios são grupos de pessoas q u e , mediante o pagam e n t o d e uma mensalidade por um prazo determinado, concorrem a sorteios para receber o bem escolhido ou a carta de crédito para a compra de algum bem. “Os consórcios foram criados no Brasil na década de 60 e podem ser uma ótima opção de poupança programada para o consumidor brasileiro. Os grupos fechados precisam da administração de uma empresa de consórcio mediante autorização do Banco Central. No caso dos imóveis, o tempo para pagamento das parcelas podem variar de 60 a 120 meses”, revela o presidente da Abac, regional Sudeste II, Fabiano Lopes Ferreira. Entretanto, a escolha da forma de pagamento da casa própria requer muitos cuidados. O advogado especialista em direito imobiliário Kênio de Souza Pereira explica que sem conhecimento específico o consumidor pode cair mais facilmente em golpes ou negócios inadequados para a sua realidade financeira. “Muitas vezes, o mercado imobiliário utiliza práticas agressivas e aproveita da ansiedade do comprador. A compra do imóvel requer calma e análise.” A primeira dica é conhecer as diferentes opções oferecidas no mercado. O ideal, segundo Pereira, seria que as pessoas poupassem antes da compra do imóvel, pois assim teriam mais chance de negociar o valor do bem, no caso de pagamento à vista. Porém, como nem sempre é possível juntar uma quantia maior de dinheiro antes de fechar o negócio, o melhor mesmo é saber que existem outras opções além do tradicional financiamento imobiliário. Crédito Poupança ao contrário Comprar um imóvel nunca foi tão fácil. Crédito imobiliário disponível e juros estáveis são alguns dos principais ingredientes que estimulam os compradores a assumir um financiamento imobiliário. Já no caso dos consórcios, o atrativo é justamente a ausência de juros na composição das parcelas. Neste caso, é cobrada uma taxa de administração, o fundo de reserva e o seguro de vida, fazendo com esta modalidade tenha um custo bem inferior se comparado ao financiamento imobiliário. “A vantagem do consórcio é o preço final do imóvel, que acaba sendo menor, uma vez que não existe a cobrança de juros. Para se ter uma idéia, o custo do financiamento de R$ 50 mil em um banco privado pode chegar a R$ 93 mil, no prazo de 120 meses. No caso do consórcio, o mesmo crédito, dividido em 120 prestações, custa cerca de R$ 60 mil ao consorciado”, explica Paulo Tavares, presidente em exercício do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de Minas Gerais (Creci-MG). O presidente da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), Fabiano Lopes Ferreira, considera o consórcio o caminho mais simples e econômico para a compra da casa própria. Ele conta que em alguns casos, dependendo do prazo e do tamanho do grupo de pessoas, além do comprador sorteado, é possível estabelecer outros vencedores que poderão ser contemplados com a maior oferta de lance entre os interessados, aumentando ainda mais as chances dos participantes. “Todas essas vantagens têm refletido na procura dos consórcios, que apresentaram no último mês um aumento de 12,8%, se comparado a junho de 2007. Trata-se do 102º mês consecutivo de crescimento do setor”, diz Ferreira. Segundo dados do Sistema Financeiro Habitacional, em janeiro deste ano, as contemplações nos consórcios representavam 22,9% dos imóveis vendidos parceladamente. “A cada cinco imóveis comercializados por empréstimo bancário, um é pelo consórcio”, completa o presidente da Abac. SORTE. Entretanto, o problema do consórcio é que o comprador vai ter que depender da sorte para receber, o quanto antes, o valor destinado a compra. Somente depois de sorteado e com a carta de crédito em mãos é que o cliente poderá iniciar as buscas pelo imóvel. Para o advogado especialista em direito imobiliário Kênio Pereira essa é uma boa alternativa para quem não tem o hábito de poupar e principalmente para quem não está com pressa com a compra imobiliária. “O consórcio é voltado especialmente para quem não tem disciplina para poupar e que só consegue comprar algo se tiver um carnê para pagar todo mês. Mas a melhor opção ainda é poupar em caderneta ou em algum fundo de investimento”, revela Pereira. A explicação é simples. No consórcio, o comprador terá que pagar uma taxa para a empresa administrar seu próprio dinheiro. Além disso, a correção é bem menor do que é paga em qualquer tipo de investimento. É como se fosse uma poupança ao contrário. “E o cliente ainda corre o risco de quando receber a carta de crédito os imóveis terem valorizado bem mais que o dinheiro oferecido, não permitindo que o comprador adquira um imóvel semelhante ao planejado no momento da aquisição do consórcio”, ressalta Paulo Tavares. Taxas dos bancos HSBC Valor. R$ 30 mil a R$ 210 mil Taxas. 18% de administração (1% é diluído nas primeira quatro parcelas, em antecipação), 3% de fundo de reserva para o período e 0,037% ao mês de seguro de vida mensal em grupo Prazo. 144 meses Bradesco Valor. R$ 30 mil a R$ 300 mil Taxas. 18% de administração (com antecipação de 1%), 3% de fundo de reserva e 0,03764% ao mês de seguro de vida Prazo. 144 meses Panamericano Valor. R$ 25 mil a R$ 150 mil Taxas. 18% a 20% de taxa administrativa; as demais não foram informadas pela instituição Prazo. 180 meses Porto Seguro Valor. R$ 30 mil a R$ 150 mil Taxas. 0,1% ao mês de administração, 0,0028% ao mês de fundo de reserva e 0,031% ao mês sobre o saldo devedor Prazo. 180 meses Rodobens Valor. R$ 35 mil a R$ 200 mil Taxas. Administração de 18% a 23,5% e de 0,0281% a 0,0562% ao mês de seguro prestamista Prazo. De 75 a 150 meses Banco Real Valor. R$ 30 mil a R$ 400 mil Taxas. 17% de administração, 3,5% de fundo de reserva, 0,0430% ao mês de seguro de vida, taxa de adesão de 0,5% (dividido nas quatro primeiras parcelas) Prazo. 120 meses Itaú Valor. R$ 30 mil a R$ 200 mil Taxas. De 17% a 19% de administração, de 3% a 6% de fundo de reserva, de 0,2% a 1% da carta de crédito e 0,04719% ao mês de seguro de vida em grupo Prazo. De 120 a 180 meses Caixa Econômica Federal (CEF) Valor. Até R$ 300 mil Taxas. De 13% a 17% de administração, 0,03683% ao mês de seguro de danos pessoais e 0,01513% ao mês de seguro contra danos materiais Prazo. De 60 a 120 meses Promessas Cuidado com fraudadores Na hora de comprar um imóvel os cuidados devem ser redobrados, principalmente se a modalidade for o consórcio imobiliário, explica o advogado Kênio Pereira. “Verificamos anúncios oferecendo a casa própria pelo preço de uma pizza por dia. Isso consiste em propaganda enganosa, pois induz a população a desejar algo que não está ao seu alcance. Vemos também anunciadas cotas de consórcio nas quais o vendedor promete entregar a carta de crédito logo após adquirir a cota. Somente depois é que se descobre que é um consórcio normal e que só conseguirá o crédito se for sorteado ou se der um lance muito alto”, revela o advogado. Pereira conta que pode acontecer de o vendedor falar ao comprador para conseguir a carta de crédito por meio de um lance fraudulento. Nesse caso, o consorciado oferece o lance de um valor que não possui e, ao ser contemplado, faz a reposição do restante. O presidente da Abac, Fabiano Lopes Ferreira, dá dicas aos interessados em adquirir um consórcio: “Só procure empresas autorizadas a oferecer o serviço e que não tenham problemas nos órgão de defesa do consumidor. Leia atentamente o contrato e não acredite em nenhuma promessa verbal. Lembre-se: não há como garantir a data em que o contemplado será sorteado”, completa Ferreira.