Injeção de até R$ 4 bilhões chega no momento certo. O anúncio de injeção de R$ 2,5 bilhões a R$ 4 bilhões no setor da construção civil nacional, feito pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, trouxe ânimo às construtoras mineiras para enfrentar a crise financeira internacional, que gerou carência de crédito no mercado interno. Com o movimento do governo federal, os representantes das empresas afirmaram que podem trazer de volta projetos de lançamentos para o próximo ano, que haviam sido engavetados. O montante, que viria através da liberação de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou da Caixa Econômica Federal (Caixa), seria voltado para capital de giro das construtoras. Conforme o diretor de Desenvolvimento do grupo Paranasa, Jânio Valeriano Alves, o governo federal, até então, parecia despreocupado com os avanços da crise internacional na construção civil. “Apenas com o fato de ter sinalizado um plano de apoio às empresas do setor, o governo federal aliviou os empresários”, afirmou. Para ele, somente o fato de o governo federal ter mostrado preocupação em relação ao setor poderá trazer de volta as projeções das empresas para lançamentos em 2009 e 2010. “Temos percebido algumas empresas reprogramando a atividade para os próximos anos. O setor é movido a capital intensivo e precisa de linhas baratas e com prazos longos”, ressaltou Alves. Ponta – A solução tem que vir o mais rápido possível, já que leva tempo do anúncio da ajuda até os recursos serem disponibilizados, conforme Alves. “Estamos falando de crise há aproximadamente um ano, só que desde setembro a infecção mostrou avanços mais rápidos. No momento, parece que temos uma resposta hábil do país em relação à situação”, avaliou. A Paranasa manterá o cronograma de crescimento e de empreendimentos previstos, tanto no setor imobiliário quanto industrial, já que atua em ambos. O incremento em 2008 poderá chegar a 30%, ante o ano passado, segundo Alves. Para o diretor-presidente da Construtora Futura, Nelson Baeta, o setor precisava dos recursos, que quase não chegam a tempo. “Não podemos deixar o crescimento da construção civil esfriar, após o aquecimento dos últimos dois anos”, afirmou. De acordo com ele, os bancos privados já estão negando crédito, sendo que somente a Caixa tem disponibilidade atualmente. Apesar do momento de receio, a Futura manterá o cronograma de lançamentos e pisará no freio somente em relação às prospecções, segundo Baeta. Em 2008 a construtora pretende manter estabilidade na comparação com o exercício anterior. Mas em 2009 o crescimento esperado é de 30%, com um valor geral de vendas de R$ 25 milhões. O mercado sentiu a retração de crédito nos bancos, conforme o diretor da Ápia Empreendimentos, Felipe Pretti Monte-Mór. “O pacote virá em uma boa hora para acalmar o setor, que caminhava para retração e já revisava o planejamento de crescimento”, afirmou. MARX FERNANDES Mercado diz que ainda é cedo para medir impacto São Paulo – O pacote que o governo está montando para o setor de construção civil e que deverá resultar em crédito extra de até R$ 4 bilhões foi bem recebido pelo mercado. As ações das construtoras reagiram positivamente destacando-se durante o dia de ontem entre os papéis negociados na Bovespa. Os efeitos práticos das medidas que estão por vir, no entanto, ainda não podem ser medidos, uma vez que ainda não se sabe de que maneira esse dinheiro ficará disponível ao segmento. O analista Rafael de Pinho, da Bultick Capital Markets, está entre os profissionais que vêem a medida com bons olhos, mas ainda não consegue fazer uma avaliação dos impactos reais. “A sinalização de que o governo prepara um pacote para o setor é positiva, mas ainda precisamos esperar para entender de que forma esse repasse será feito para avaliar os impactos”, explicou. Em relatório divulgado ontem, a corretora Fator avalia que o atual ambiente de liquidez apertada já começou a afetar as vendas de imóveis e que as construtoras com empreendimentos voltados às classes de menor pode de compra devem apresentar maior risco em face de suas taxas mais altas e prazos mais curtos. “Nossas projeções são de que as empresas que cobrimos necessitarão de R$ 3 bilhões entre o segundo semestre de 2008 e 2009, respectivamente”, apontou o relatório. A instituição continua com recomendação “atraente” para Gafisa, PDG Realty, Rodobens e Tecnisa, que segundo a corretora estão mais preparadas para enfrentar o atual aperto de liquidez. A instituição não explica, no entanto, quais as razões que a levaram a incluir essas empresas na lista das mais bem preparadas. Outro analista, que preferiu não ser identificado, ressaltou que, se o crédito for colocado à disposição via Sistema Financeiro de Habitação (SFH), o efeito deverá ser limitado, já que os bancos continuarão sendo seletivos na concessão de novos financiamentos. O analista avaliou ainda que, caso os recursos sejam utilizados para a compra de recebíveis das empresas de construção, por exemplo, o efeito será maior, já que aumenta a capacidade de investimento das companhias. Cbic – A expectativa do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Paulo Safady Simão, é de que os recursos sejam liberados através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Caixa Econômica Federal em linhas específicas para as construtoras utilizarem na compra de ativos e manutenção da produção. O dirigente também espera mecanismos para que as construtoras descontem recebíveis. Ou seja, permitir que elas transformem em dinheiro, agora, os créditos que vão entrar em seu caixa nos próximos meses e anos, decorrentes da venda financiada de imóveis. “Pelo menos foi exatamente isso que nós pedimos para o governo”, afirmou. O valor entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões já sinalizado, ressaltou Simão, é o mesmo que o setor estima ser necessário para que não haja uma queda brusca no número de empreendimentos em 2009. “É financiamento para as empresas manterem o fluxo de produção no próximo ano, porque crédito ao consumidor já existe”, disse. A expectativa é de que o pacote seja detalhado pelo ministro da Fazenda Guido Mantega no Encontro Nacional da Indústria da Construção Civil, que começa hoje em São Luís, no Maranhão e contará com a participação de cerca de 700 empresários do setor. (AE) Pacote vai envolver BNDES Rio – O pacote de medidas de ajuda do governo ao setor da construção civil envolverá o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal, num aporte conjunto de recursos para capitalização das construtoras. A Caixa lançará linha de crédito especial voltada a capital de giro; o BNDES subscreverá debêntures e participará do capital de empresas com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo. O governo ainda não bateu o martelo em torno do valor total do pacote, que pode ir de R$ 2,5 bilhões a R$ 4 bilhões, para serem desembolsados imediatamente. As medidas, delineadas há uma semana, aguardam a aprovação dos ministérios do Planejamento e da Fazenda e o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Caixa e BNDES devem dividir meio a meio o ônus financeiro do programa. Segundo fontes, o objetivo do programa, além de permitir a conclusão de empreendimentos imobiliários já iniciados, é facilitar processos de eventuais fusões e incorporações entre as companhias. Conforme dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo há em torno de 100 mil construtoras no país, dos mais variados portes. Apenas 25 são listadas em bolsa. Doze são acompanhadas mais de perto pelo mercado financeiro. A participação do BNDES se restringiria às companhias de capital aberto, com limite de participação acionária. Seria uma linha também de capital de giro, mas por meio de debêntures conversíveis em ações. (AE)