Construção civil. Habitação popular é a primeira a pagar pela alta nos custos do material e da mão-de-obra Valor médio de uma casa de dois quartos subiu 22% em um ano, segundo Cohab Zu Moreira O aumento dos custos da construção civil impacta significativamente a área de habitação popular. Segundo a Companhia de Habitação de Minas Gerais (Cohab-MG), executora do programa do governo estadual Lares Habitação Popular (PLHP), o valor médio de uma casa popular de dois quartos, já com toda a infra-estrutura de água, luz e esgoto, sofreu reajuste de 22%: saltou de R$ 18 mil para R$ 22 mil, em um prazo de um ano. Se antes a Cohab conseguia construir, em média, cem casas com R$ 1,8 milhão, hoje, com os mesmos recursos, conseguiria levantar apenas 80 moradias. Em um Estado onde o déficit habitacional beira 800 mil moradias, o custo da construção no segmento popular é um gargalo a ser combatido. “O Estado, até aqui, tem feito suplementações para que o programa não sofra cortes de recursos e assim cumpra as metas”, garante o presidente da Cohab-MG, Teodoro Alves Lamounier. O Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) prevê a construção anual de 5.000 casas populares, destinadas a famílias com renda de até três salários mínimos. Desde 2005, a Cohab já investiu cerca de R$ 286 milhões no programa. Neste ano, a previsão é de que sejam liberados cerca de R$ 170 milhões. De acordo com o Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), o Custo Unitário da Construção (CUB) apresentou crescimento de 12,25% entre outubro de 2007 e setembro deste ano. Entre os materiais que apresentaram as maiores altas no acumulado dos últimos 12 meses, os de destaque foram os vergalhões de aço (61,91%), o cimento portland (32,74%) e as telhas (30,9%). “Os insumos da construção estão subindo indiscriminadamente em função da demanda aquecida do mercado”, reconhece o diretor da área de materiais e tecnologia do sindicato, Cantídio Alvim Drumond. Defasagem. De acordo com ele, apenas neste mês o cimento foi reajustado em 7,6%. Tabela fornecida por uma construtora mostra que o preço médio de um saco de cimento portland variou cerca de 80% entre julho do ano passado, quando custava R$ 8,80, e outubro deste ano, quando saltou para R$ 15,80. “Durante muito tempo o preço do cimento ficou defasado”, completa Drumond. A Lafarge, fabricante das marcas Campeão, Mauá, Davi e Montes Claros, informa que entre dezembro de 2007 e setembro de 2008, a empresa reajustou os preços dos seus produtos em torno de 9%, “em função dos aumentos acumulados da tarifa de energia elétrica industrial e dos custos de transporte e combustíveis” comunicou a empresa. A cimenteira produzirá este ano 15% a mais que em relação a 2007. As cimenteiras Liz e Holcim também foram procuradas mas não puderam se pronunciar sobre o assunto. Reclamação Sem sócio. Segundo o Sinduscon-SP, as 100 mil pequenas, médias e grandes construtoras do país não querem o Estado como sócio. Precisam apenas de linhas de crédito para enfrentar a crise Custos Mão-de-obra encarece 30% O engenheiro da construtora B&M, Roger Miranda, afirma que para executar obras do programa de moradia popular em Águas Vermelhas, no Norte de Minas, teve que “importar” 40 profissionais da Bahia e Pernambuco, em razão da falta de mão-de-obra qualificada na região. “Tivemos um aumento de cerca de 30% nos custos de mão-de-obra”, afirma Miranda, que aposta na produtividade dos pedreiros para compensar a alta. Em média, um pedreiro recebe cerca de R$ 800 nessa empreitada. De lá, os operários devem seguir para Conceição do Rio Verde, no Sul do Estado, onde serão construídas mais 50 casas populares. “É uma despesa considerável, porque inclui transporte, alimentação e hospedagem”, afirma Miranda. Em Minas Gerais, os encargos trabalhistas e previdenciários que incidem na construção civil chegam a 199,04% (acima da média nacional que é de 132,45%), segundo estudo divulgado na última sexta-feira pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), em parceria com o Sinduscon-MG. Atraso. Segundo Roger Miranda, outra dificuldade na execução das obras é o atraso no fornecimento de produtos à base de aço, principalmente a tela eletro-soldada. “Os fornecedores estão pedindo de 40 a 60 dias para entregar o produto”, conta. O Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) foi procurado, mas não se pronunciou. Esses gargalos, segundo o engenheiro, prejudicam o andamento das obras. “Há obras em que o cronograma está atrasado em dez meses”, afirma. Apesar disso, ele garante que os contratos serão cumpridos. Não é a crise que afeta projeto Recursos vêm do orçamento do Estado, ao contrário das classes mais altas Zu Moreira Ao contrário dos estragos causados nas construtoras com ações na Bolsa de Valores, que anunciam adiamento de investimentos, a crise financeira global não deve afetar o financiamento à moradia popular em Minas Gerais. A garantia é do presidente da Companhia de Habitação de Minas Gerais (Cohab-MG), Teodoro Alves Lamounier. “A maioria dos recursos é do orçamento do Estado. O crédito mais afetado é aquele voltada para o mercado imobiliário, para pessoas da classe média e alta”, afirma. O Lares Habitação Popular, um dos projetos estruturadores do governo estadual, é financiado com recursos do Fundo Estadual da Habitação de Interesse Social, que subsidia a metade do valor da casa às famílias com renda até três salários mínimos. A outra metade é custeada pelo próprio beneficiado, por meio de prestações pagas em 20 anos e que não podem ultrapassar 20% da receita mensal da família. Reservas. De acordo com Lamounier, neste ano o fundo tem reservas de pouco mais de R$ 100 milhões para o subsídio. A outra parte dos custos fica sob a responsabilidade do município. Além de doar o terreno para a construção, a administração municipal tem que prover a infra-estrutura de água, esgoto e iluminação, em parcerias com órgãos de saneamento e de energia. “A não ser que a crise tome proporções devastadoras, fato pouco provável, por ser uma crise localizada, o rumo dos investimentos não muda”, afirma ele. De fato, o aumento do ritmo de construções de casas ou conjuntos populares no Estado tem beneficiado o setor da construção civil. Desde 2005, já foram investidos cerca de R$ 290 milhões no programa, segundo a Cohab. Calcula-se que o número de empregos diretos e indiretos nas obras beira os 25 mil, com a geração de R$ 96,5 milhões em geração de renda. Há quatro anos, o volume de casas populares construídas não ultrapassava mil unidades. A B&M Construtora, com sede em Uberaba, é uma das empresas do interior do Estado que tem na habitação popular seu principal nicho. Pelo programa, ela deve construir até meados do próximo ano cerca de 370 moradias. Contratos. “É um programa que movimenta a construção civil, principalmente no interior do Estado”, afirma o gerente comercial da empresa, Roger Miranda. A B&M tem contratos no Norte de Minas, Zona da Mata e no Sul do Estado. Segundo ele, assim que o contrato é assinado, o dinheiro é depositado em um prazo de uma semana. “Isso ameniza o aumento dos custos com a construção”, completa. Como fazer Funcionamento. É a prefeitura que procura a Cohab. Ela tem que doar o terreno com toda a infra-estrutura de abertura de ruas, água, esgoto e energia elétrica. É também a prefeitura que cadastra as famílias. Ecológicas Casas terão coletor de luz solar A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) planeja destinar cerca de R$ 30 milhões para a compra e instalação de sistemas de captação de luz solar para o aquecimento da água usada nas moradias populares construídas pela Companhia de Habitação de Minas Gerais (Cohab-MG). O convênio prevê que até 2011 a estatal atenda cerca de 15 mil habitações. “A empresa já instalou, fora do convênio, cerca de 2.000 equipamentos neste ano”, afirma o engenheiro de soluções energéticas da Cemig, José Carlos Ayres de Figueiredo. Por ano, a companhia prevê aportes de R$ 10 milhões no programa Lares Habitação Popular. Esse volume de recursos representa 25% dos investimentos previstos neste ano para programas de eficiência energética. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determina que as concessionárias invistam 0,5% da receita operacional líquida em ações nessa área. Aparecida de Fátima Maciel, de uma das 210 famílias beneficiadas no mês passado pelo programa em São Sebastião do Paraíso, no Sul de Minas, aguarda a instalação do coletor, que custa em média cerca de R$ 1.600. “Espero ver o meu instalado, porque economizar na conta de luz é sempre bom”, afirma. Segundo o engenheiro, com o equipamento, a economia da conta de energia pode variar de 30% a 50%, dependendo do número de pessoas que habita a casa. No caso de Aparecida, ela divide o espaço com o filho Miguel Alves Tomaz Júnior. “Em relação ao chuveiro elétrico, a economia pode chegar a 70%”, afirma ele. “Se você economiza na luz, podem sobrar recursos para pagar a prestação da casa”, sugere o diretor de desenvolvimento e construção da Cohab-MG, José Antônio Costa Cintra, embora não esteja estabelecido no contrato a obrigatoriedade desse abatimento. Pelo programa, a prestação da casa popular não pode ultrapassar 20% do orçamento mensal da família, que poder variar de um a três salários mínimos. Ou seja, a prestação pode chegar, no máximo, a até R$ 248. Para quem paga em dia, a Cohab estabelece um bônus de até 20% nas parcelas. Metas A Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais (Cohab) afirma que até meados do próximo ano cerca de 7.000 unidades serão entregues pelo governo estadual. Ontem, mais dois conjuntos habitacionais foram entregues: nos municípios de Luminárias, Sul de Minas, e Chácara, Zona da Mata. Desde o início do programa Lares Habitação Popular, em 2005, a Cohab já entregou 14.252 casas em 213 municípios. Na semana passada, 70 casas populares já haviam sido entregues à população de Iturama, no Triângulo Mineiro. Apesar do atraso no cronograma das obras, devido a questões como falta de insumos da construção civil e mão-de-obra qualificada, além das eleições municipais, que restringem a atuação dos prefeitos, a companhia garante que a meta estabelecida pelo programa, de 5.000 moradias por ano, será cumprida. (ZM) Déficit Rápida avaliação Para o diretor da Cohab, José Antônio Costa Cintra, o programa reduzir o déficit habitacional no interior do Estado. “Ele é importante para manter a população em suas cidades”, disse. Segundo a Fundação João Pinheiro, em 2000, a carência de moradias era de 640.559 unidades, o que representava 13,4% do total de domicílios. Em 2006, último dado disponível, a fundação contabilizou um déficit de 721.117 unidades, ou 12,6% do total de domicílios. Cerca de 93% estão concentrados em famílias que ganham até três mínimos.