Demanda e oferta equilibradas. As construtoras mineiras serão “oportunistas” em relação à crise no mercado financeiro internacional, adequando custos de mão-de-obra e produção, além da oferta de produtos no mercado. Segundo representantes de empresas ouvidas pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, mesmo com a revisão de lançamentos para 2009, ainda há muita demanda reprimida, que garantiria as projeções de crescimento no longo prazo, após a “euforia” dos dois últimos anos. Para o diretor comercial da Mip Edificações, construtora do grupo mineiro Mip, Marco Antônio Andrade Carneiro, o momento é oportuno para as empresas do setor. De acordo com ele, os custos com insumos e mão-de-obra não devem baixar em 2009, mesmo com a redução de lançamentos devido ao grande número de empreendimentos lançados entre o ano passado e o primeiro semestre deste exercício e que ainda serão construídos. No entanto, a adequação do mercado vem, só que no médio prazo, a partir de 2010, já como um reflexo da retração nos lançamentos no ano que vem, segundo Carneiro. Aliás, para ele, os custos cairão com fornecedores que abastecerão o mercado interno com folga devido aos investimentos anunciados para ampliar a produção e que ainda estão em fase de maturação, sobretudo nos setores siderúrgico e cimenteiro. A melhor lição da crise para as construtoras será o foco no crescimento sustentado das empresas. “As metas da Mip não se voltarão para incremento de forma rápida, como ocorreu nos dois últimos anos, mas de maneira lucrativa”, afirmou. A empresa possui um planejamento de lançamentos para os próximos cinco anos, que não será revisto, conforme Carneiro. O crescimento da Mip neste ano deve ser de 30% sobre 2007. Necessidade – “Porém, 2009 dependerá do mercado. Nossos estoques estão baixos e a empresa possui a vantagem competitiva de ser capitalizada, ao contrário das construtoras que estão na bolsa. Por isso, a necessidade de continuar lançando produtos”, explicou. A Mip usa capital próprio para aquisição de terrenos, construção dos empreendimentos e financiamento dos imóveis, segundo Carneiro. Mesmo com a perspectiva de retração, o equilíbrio esperado para a cadeia da construção civil e para o mercado imobiliário do Estado compensará qualquer desaceleração, avaliou o presidente da rede NetiMóveis, José DeFilippo Neto. “As vendas de novas unidades crescem, em média, 60% ao ano desde 2006, com 3,3 mil unidades comercializadas a cada exercício. O que houve até agora foi uma certa euforia e, com a crise, as coisas tendem a se acertar”, ressaltou. Para o diretor da Patrimar Engenharia Ltda., Marcelo Martins, os empreendimentos que estão sendo divulgados e construídos no mercado hoje são resíduos de lançamentos ocorridos há mais de quatro meses. “Haverá uma retração sazonal dos novos imóveis a partir de novembro, devido ao Natal e ao período de férias. Isso não pode ser confundido com readequação do mercado”, afirmou. MARX FERNANDES MRV: 3º trimestre é positivo A MRV Engenharia e Participação S/A registrou um crescimento de 99,6% no volume de lançamentos no terceiro trimestre de 2008 frente ao mesmo período do ano anterior. Entre julho e setembro deste ano, o valor geral de vendas (VGV) foi de R$ 507 milhões, enquanto no mesmo intervalo de 2007 os lançamentos totalizaram R$ 254,3 milhões. Quando a comparação é feita entre os nove primeiros meses de 2008 frente a igual período anterior, a elevação foi de 90,7%, passando de R$ 686,8 milhões em 2007 para R$ 1,996 bilhão neste ano. De acordo com o vice-presidente executivo e diretor de Relações com Investidores, Leonardo Guimarães Corrêa, o crescimento tem como uma das principais causas o aquecimento do mercado imobiliário. Segundo ele, a elevação do poder de compra e o aumento da renda estão alavancando os negócios da companhia nos últimos anos. Grande parte dos clientes da MRV são pessoas que possuem renda mensal entre R$ 2 mil e R$ 8 mil. Cerca de 70% dos empreendimentos lançados pela empresa são de imóveis de até R$ 130 mil. Apesar de ter atuação em todo o país, as atividades da empresa são mais concentradas em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Somente a última região foi responsável por 75,4% do total de R$ 507,5 em lançamentos realizados no terceiro trimestre de 2008. Internamente, o IPO realizado em julho de 2007 também contribuiu para a injeção de capital nos empreendimentos, segundo Corrêa, elevando a capacidade de investimento. Frente ao segundo trimestre de 2008, o volume de lançamentos entre julho e setembro sofreu queda de 36,4%. Burocracia – Para o diretor, alguns fatores como a burocracia para a liberação da documentação para o início das obras fazem com que os negócios não dependam apenas da disponibilidade de recursos e da decisão da empresa. “Mesmo com menor oferta de imóveis o volume de unidades vendidas caiu pouco, o que demonstra como mercado está aquecido”, destacou. O volume de negócios fechados entre o terceiro trimestre de 2008 e o mesmo intervalo do ano anterior sofreu crescimento de 122,5%. De julho a setembro deste ano foram contratados R$ 424,9 milhões em vendas, mas na mesma base de comparação de 2007 foram fechados R$ 191 milhões em negócios. Atualmente, a construtora conta com R$ 9,548 bilhões em banco de terrenos, valor que mantém a média de junho quando chegava a R$ 9,934 bilhões. De acordo com o vice-presidente executivo, a tendência é manter o mesmo nível, pois depois que um lote é comprado demora cerca de 18 meses para que um lançamento seja realizado. CAMILA COUTINHO Não haverá mudanças de planos em 2009 Mesmo com a incerteza gerada pela crise financeira mundial e, principalmente na economia brasileira, a MRV prevê manter o ritmo de vendas no quarto trimestre de 2008. No entanto, o clima de confiança da empresa não fica restrito aos negócios neste ano, pois a expectativa é que em 2009 a demanda por imóveis continue acelerada. Para o vice-presidente executivo e diretor de Relações com Investidores, Leonardo Guimarães Corrêa, não há como determinar como o mercado vai se comportar diante da turbulência econômica, mas ainda não há motivos para mudar o direcionamento dos negócios. Segundo Corrêa, no momento serão observados os reais impactos no consumo dos Estados Unidos e no Brasil, pois as maiores alterações foram registradas apenas no mercado financeiro. “Somente depois que houver alguma alteração de comportamento poderemos avaliar como o segmento imobiliário será afetado”, disse. A perspectiva positiva apontada por Corrêa é fundamentada, segundo ele, no movimento nos pontos-de-venda da MRV e no volume de reserva de imóveis desde o início de outubro de 2008, quando a crise eclodiu em todo o mundo. Como a procura por imóveis se mantém aquecida, até o momento não há perspectiva de redução no volume de lançamentos para o próximo ano. Mesmo com a elevação da taxa de juros para financiamento imobiliário anunciado por três dos maiores bancos brasielros – Bradesco, Unibanco e Itau – a MRV não espera retração na demanda por unidades habitacionais no Brasil. De acordo com o diretor, pessoas, que anteriormente não tinham condições econômicas para adquirir um imóvel, agora têm acesso a diversas linhas de financiamento e não devem deixar de comprar porque houve um reajuste nas tabelas. “O encarecimento do juro não deve fazer com que a parcela para a aquisição de imóveis fique significativamente mais cara. O aumento do preço não será suficiente para desacelerar a demanda por casas e apartamentos”, disse. (CC) Ritmo de contratos na Caixa permanece acelerado A Caixa Econômica Federal (CEF) manteve o ritmo de financiamentos para a casa própria até setembro. Mesmo com o receio que ronda as perspectivas de demanda no setor imobiliário com a crise financeira no cenário externo, o banco já fechou cerca de 40 mil contratos para habitação de janeiro a setembro, volume aproximadamente 4% superior ao mesmo intervalo de 2007. Segundo o gerente Regional de Negócios da Caixa em Minas Gerais, Marivaldo Araújo Ribeiro, o número de residências financiadas pelo banco no Estado em 2007 foi de aproximadamente 53 mil contratos. Até setembro deste ano, a instituição teria fechado cerca de 70% do total do exercício anterior. De acordo com Ribeiro, com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) foram 22,233 mil financiamentos até o mês passado, sendo que a partir do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) foram 17,927 mil unidades contratadas. No país, no mesmo período (de janeiro a setembro), o volume de contratos é recorde, com 344,420 mil residências financiadas, próximo ao total de 2007, quando a Caixa fechou 405 mil negociações para a casa própria. Juros – O banco estatal não fará revisão das taxas de juros para o segmento imobiliário, segundo Ribeiro. “Há 28 meses a Caixa possui captação positiva dos recursos do FGTS e SBPE, que são mais do que suficientes para manter o ritmo de financiamentos habitacionais”, ressaltou. A perspectiva do banco é fechar o ano com R$ 23 bilhões em crédito imobiliário no país, dos quais R$ 3 bilhões em Minas. De janeiro a setembro deste ano, a Caixa liberou R$ 1,7 bilhão em financiamentos para habitação no Estado. Do total, cerca de R$ 255 milhões, ou 15%, ficaram com as empresas para aplicação em novos empreendimentos. No mesmo período, a instituição financeira registrou R$ 1,1 bilhão em captação líquida de poupança em Minas. O montante foi 13% superior ao acmulado no mesmo intervalo de 2007, acima do país, cujo crescimento foi de 11,6% na mesma base de comparação. O banco informou que 60% de toda captação é obrigatoriamente destinada aos financiamentos para a casa própria, através do SBPE, garantindo recursos para o mercado imobiliário, que movimenta toda a cadeia da construção civil no país.(MF)