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Crise. Até o otimista Lula admite que o Brasil pode correr riscos, mas tranqüiliza população e mercado

Crédito para moradia está garantido Brasileiro não corre risco de prestações aumentarem de uma hora para outra Helenice Laguardia Enquanto em outros setores a crise do sistema financeiro norte-americano chega à vida real, o mercado imobiliário brasileiro parece estar bem distante dela. A tranqüilidade do setor vem da origem dos recursos para a habitação. “A poupança e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) alimentam nosso crédito. A escassez será para quem usa recursos da Bolsa”, diz o presidente da Câmara da Construção da Fiemg, Teodomiro Diniz Camargos, sobre o dinheiro carimbado para a casa própria. Para quem tem prestações a perder de vista, o vice-presidente de comunicação social do Sinduscon-MG, Jorge Luiz Oliveira de Almeida, também acalma os ânimos. “Se tivermos um aumento substancial da inflação, aí toca a sirene do perigo, mas o mutuário não corre o risco de ter operações aumentadas de uma hora para outra, a não ser que o mundo entre numa bancarrota”, contemporiza. Em 2008, mais de 300 mil unidades serão financiadas com R$ 32 bilhões da poupança e outras 400 mil unidades com R$ 20 bilhões do FGTS. “Em 2009, teremos desenvolvimento bem próximo, mas vamos sofrer. A crise é muito forte”, avisa o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Paulo S. Simão. Na planta. Atrasos nas obras também não são esperados. “Quem lançou obra, pegou dinheiro na Bolsa, comprou terreno, mas deixou parcela reservada para a construção e vai captar o resto no mercado com a venda”, explicou Teodomiro Diniz. Porém, a construtora ancorada somente na Bolsa de Valores para negócios futuros pode ter dificuldades. Para o economista da Fundação Getúlio Vargas, André Braz, o crédito imobiliário e qualquer outro vão ficar mais caros devido à elevação da taxa de juros. “Na próxima reunião do Copom, a taxa deve subir mais meio ponto percentual”, alerta. Mesma frase Quem está preocupado é o Bush, diz Lula MANAUS. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que o Brasil pode correr risco com a crise financeira dos Estados Unidos, por não saber até onde vão as turbulências. Ele procurou tranqüilizar a população e o mercado interno,afirmando que o momento é de acreditar no país e que o Brasil não será vítima, como foi em outras ocasiões. No entanto, reconheceu que a crise é uma das maiores que já viu. “A crise é muito séria e tão profunda que não sabemos o tamanho. Talvez seja uma das maiores que o mundo já viu. A diferença é que, nas crises de dez anos atrás, nossos países estavam muito fragilizados economicamente.” Lula disse que a crise financeira mundial exige “juízo e responsabilidade”. Perguntado se estaria preocupado com a situação dos mercados, ele respondeu: “Neste momento, quem está mais preocupado com isso é o (George W.) Bush.” Pacote Bush implora aprovação Washington, EUA. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, tentou assegurar ontem aos Estados Unidos que o Congresso aprovará o pacote para resgatar o sistema financeiro e advertiu que se isso não ocorrer milhões de pessoas sofrerão conseqüências penosas e duradouras nas suas vidas. Bush falou ontem com os candidatos à presidência, o democrata Barack Obama e o republicano John McCain, e também com líderes dos dois partidos. A idéia é reapresentar o pacote na quinta-feira. Bush insistiu que o Congresso “deve atuar” e a economia espera “medidas decisivas da parte do nosso governo”. Ele assegurou “a nossos cidadãos e aos cidadãos do mundo inteiro que esse não é o final do processo legislativo”. Obama e McCain, por sua vez, pediram ao Congresso que redobre seus esforços para salvar o projeto de pacote . Ambos indicaram que parte fundamental do projeto seria aumentar a garantia federal aos depósitos bancários, de US$ 100 mil para US$ 250 mil. Segundo Obama, será “catastrófico” se o pacote não for aprovado. McCain, por sua vez, pediu ao Tesouro do país que compre US$ 1 trilhão em hipotecas, lembrando que a crise imobiliária e as hipotecas “estão na raiz dessa crise”. Segundo McCain, o Tesouro pode fazer isso sem a autorização do Congresso. Em resposta ao apelo de Bush, a líder da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, e o líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, disseram que trabalharão com os republicanos “sem mais atraso” na elaboração de um projeto de lei bipartidário. Jornal dos EUA destaca perda de prestígio político de Bush O jornal “The New York Times”, em editorial na sua edição de ontem, intitulado “O que é pior do que um projeto emergencial falho?” destaca que após oito anos apoiando incondicionalmente o presidente Bush, seus correligionários decidiram discordar dele na questão da sobrevivência do sistema financeiro do país. Segundo o jornal, “o não-apoio dos republicanos está enraizado na análise e no princípio, em vez de se basear na postura política e na rigidez ideológica”. O “NYT” também destaca que a crise é um problema tanto dos donos de imóveis quanto dos analistas de Wall Street. “As imperfeições no projeto emergencial são resultado de um processo democrático que pode ser repensado, revisitado e retrabalhado”, diz.