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De bem com a vizinhança

Empresas investem em bom relacionamento com moradores do entorno da construção Denise Menezes Barulho ensurdecedor, vindo da serra circular, do bate-estaca, de marteladas, do motor da betoneira ou mesmo da animada conversa dos operários, durante no mínimo oito horas por dia. Tumulto no já conturbado trânsito urbano. Calçadas com impedimento de acessos. Trincas que, aparentemente do nada, surgem nas paredes e muita poeira. Morar perto de um canteiro de obras não é nada agradável, por mais que a situação seja transitória e, no final, todos que vivem no entorno saiam ganhando, com a valorização dos imóveis da região ou com outra melhoria que venha com a conclusão do empreendimento. “Ninguém quer uma obra ao lado. O tempo de construção de um empreendimento imobiliário é significativo, de dois a três anos, e alguns problemas como barulho e poeira são praticamente inevitáveis, embora haja formas de minimizar seus efeitos”, diz o diretor da Patrimar Engenharia, Marcelo Martins. Para impedir que uma verdadeira guerra seja travada com moradores de imóveis próximos aos seus canteiros de obras, a Patrimar e outras grandes construtoras mineiras investem no desenvolvimento de programas de relacionamento com a vizinhança, com ações que visam a prevenir transtornos e corrigir rapidamente eventuais danos que a obra possa causar aos vizinhos. “É um investimento relativamente barato, se comparado aos prejuízos que uma disputa com a vizinhança pode provocar, como a interrupção mesmo que passageira da obra, em função de fiscalizações de vários órgãos do poder público, movidas por denúncias, ou pela presença da polícia no canteiro para averiguar reclamações de barulho excessivo fora do horário legal de execução do trabalho”, admite o diretor da MIP Edificações, Márcio Afonso Pereira. A convivência com canteiros de obras não é novidade para Ronaldo Mineiro Machado Coelho. Arquiteto, com 40 anos de profissão, e morador, desde criança, do Bairro Funcionários, em Belo Horizonte, onde as casas já foram quase todas substituídas pelos edifícios, ele admite que o barulho e a poeira de obras já fazem parte da sua rotina. Há um ano convive pacificamente com os vigias, operários, engenheiros, gerentes e diretores da RKM Engenharia, que constrói ao lado de sua casa o Edifício Zaidal, e tem pela frente no mínimo mais dois anos de convivência com a movimentação de uma obra. “Não posso falar por todos os vizinhos, mas o meu relacionamento com os representantes da empresa é muito bom. Desde que busquei o primeiro contato, para saber informações sobre o projeto, até hoje, quando negocio com a RKM a correção de trincas que apareceram nas paredes e teto de parte da minha casa, depois que a empresa fez uma demolição, sempre fui bem atendido”, diz o arquiteto. Antes de começar as obras Empresas se antecipam à construção de um empreendimento com ações que permitem mostrar aos moradores do entorno que, apesar dos transtornos, os benefícios são grandes A preocupação em garantir uma boa relação com a vizinhança começa antes do início das obras e, em alguns casos, logo que a empresa adquire o terreno para a construção do empreendimento. “Temos de manter uma postura pró-ativa e mostrar para o vizinho que, apesar dos transtornos naturais de uma obra, o empreendimento vai trazer benefícios a todos e que a empresa está aberta para o diálogo no caso de eventuais problemas”, diz Marcelo Martins, diretor da Patrimar Engenharia. Ele informa que a primeira providência da construtora é contratar um perito especializado para execução de uma vistoria nos imóveis do entorno. O objetivo é checar o estado conservação de cada um deles e comprovar responsabilidades, caso haja danos em algum imóvel vizinho durante o período de construção do empreendimento. A MIP Edificações, afirma seu diretor, Márcio Afonso Pereira, segue o mesmo procedimento. “Contratamos um engenheiro civil, especializado em segurança do trabalho, a quem cabe as responsabilidades de fazer a vistoria e elaborar um laudo, inclusive com fotos, de todos os imóveis na proximidade das obras. O documento fica com a empresa, mas também à disposição do vizinho, para que possamos, no futuro, averiguar se um eventual dano reclamado pelo morador foi mesmo provocado durante a obra”, explica Márcio. Já na RKM Engenharia, diz a gerente de Marketing, Adriana Bordalo, a primeira iniciativa é treinar os operários para que mantenham uma postura profissional e cordial com a vizinhança durante as obras. “Temos consciência do transtorno que uma obra traz aos moradores vizinhos. Então, treinamos todo o pessoal de obra para que tenham atitudes que minimizem os problemas”, destaca. De acordo com Adriana Bordalo, nas obras da RKM, as máquinas, como as serras, são ligadas só depois das 8h da manhã, para que o barulho não perturbe o vizinho muito cedo. O operário é orientado a não falar alto e, nos momentos de folga, não ficar sentado na calçada, dificultando a passagem do pedestre. “Para que os operários fiquem dentro do canteiro, mantemos espaços internos onde eles podem descansar e refeitórios bem arrumados e limpos.” COMUNICADO Outra providência tomada pelas construtoras antes do início das obras é estabelecer um canal direto de comunicação com os vizinhos. Na Arco Incorporadora, diz a coordenadora do Serviço de Relacionamento com o Cliente, Rejane Amorim, a ação é promovida simultaneamente à elaboração do laudo de vistoria, com o envio de uma carta a cada vizinho do local onde o empreendimento será construído. “Na carta, comunicamos a data do início das obras, antecipamos os problemas que podem ocorrer, informamos os dados do engenheiro responsável pela construção do empreendimento e o telefone do Serviço de Relacionamento com o Cliente da Arco, que fica à disposição do consumidor para o esclarecimento de dúvidas e encaminhamento das eventuais demandas”, afirma a coordenadora. Procedimento semelhante é mantido pela RKM e pela Patrimar que, na correspondência, buscam enfatizar também os benefícios que o empreendimento em questão vai trazer para a região. “Fornecemos informações sobre o prédio que será construído e explicamos que, apesar dos transtornos inerentes de uma obra, como barulho e poeira, o empreendimento vem para valorizar a região. Principalmente no nosso caso, que trabalhamos com empreendimentos residenciais de alto luxo”, afirma Adriana. Nas cartas enviadas pela Patrimar, assinala Marcelo Martins, é informado ainda o horário diário de execução das obras, que, na empresa, é das 7h30 às 17h, e o prazo previsto para a conclusão da construção. Na MIP, informa Márcio Afonso Pereira, o contato é estabelecido por meio de visitas aos vizinhos de um funcionário da empresa, que fornece informações básicas sobre a obra e deixa com eles um cartão com nomes e telefones da diretoria da empresa, que pode ser acionada em caso de problemas. Monitoramento do trabalho Estabelecido o contato com o vizinho, garantem os construtores, durante todo o período de obra, há um monitoramento constante dos trabalhos para que os problemas sejam evitados ou minimizados e eventuais danos possam ser reparados, no menor espaço de tempo possível. “Com o andamento das obras, em função das interferências que o trabalho cria na rotina dos moradores vizinhos, vamos estreitando o relacionamento. Os vizinhos ligam, fazem reclamações, críticas e sugestões, que acatamos quando são pertinentes e, em alguns casos, o atendimento da demanda nem é obrigatório, mas fazemos para manter essa boa relação”, diz a gerente de Marketing da RKM Engenharia, Adriana Bordalo. De acordo com Márcio Afonso Pereira, diretor da MIP Edificações, antes do início de cada etapa das obras, a empresa faz uma preparação que visa a segurança dos imóveis vizinhos. Na fase de fundação, quando o trabalho é executado de forma mecânica, o que pode causar uma trepidação em todo o quarteirão, é feito um monitoramento da freqüência e intensidade do bate-estaca, para evitar fissuras nos imóveis do entorno. Já na etapa de estrutura, o cuidado é o de orientar os operários para que evitem a queda de materiais, principalmente os pesados, como madeiras, que podem causar acidentes e danos aos imóveis vizinhos, e para que equipamentos só sejam ligados depois das 8h da manhã. “Depois, para a montagem dos andaimes, necessários para a execução das fachadas, fazemos uma cobertura de proteção com tela e a atenção é redobrada na hora de desmanchar esses andaimes, mais uma vez para evitar a queda de materiais”, informa. Concluídas a execução de fachadas e a retirada dos andaimes, afirma o diretor da MIP, os focos de conflito com os vizinhos são reduzidos em 90%. “Aí, é trabalhar para manter o pessoal de obra com uma postura profissional, tomando cuidados como falar sempre em voz baixa, evitar palavrões e fazer refeições ou descansar em local reservado dentro do canteiro de obra”, assinala. Se as medidas preventivas não forem suficientes para evitar danos aos imóveis de terceiros, as construtoras se responsabilizam pelos reparos. “Por isso é feita a vistoria cautelar. Se for verificado, por meio da avaliação dos laudos, que o problema foi de fato causado pela obra, a empresa se responsabiliza pelo reparo, que é executado ainda durante a construção ou depois da conclusão do empreendimento, dependendo do caso”, diz a coordenadora de Relacionamento com o Cliente da Arco Incorporadora, Rejane Amorim. Já serviços como pinturas, por exemplo, são executados depois da conclusão do empreendimento, para evitar retrabalho, já que o revestimento pode ser danificado novamente caso seja feito com as obras em andamento. Na RKM, garante Adriana, algumas melhorias em imóveis do entorno são feitas, mesmo sem obrigatoriedade, para satisfazer o vizinho e ainda para valorizar o próprio empreendimento. “Fazemos sempre a pintura dos imóveis vizinhos até para valorizar o nosso empreendimento, com a renovação do entorno”, diz. A MIP também investe nesse tipo de ação. Segundo Márcio, a empresa, para manter o bom relacionamento com um vizinho de um empreendimento residencial construído na Rua Gonçalves Dias, no Bairro de Lourdes, arcou com a pintura da quadra e de uma lateral de sua casa e com os custos da troca da cerca elétrica. “São custos pequenos e que garantem o caminho do bom relacionamento.”