Eduardo Henrique Moreira *
Nós, construtores, pensávamos que o grande desafio nas nossas empresas e obras era a incorporação dos conceitos da implantação de um sistema de gestão de qualidade. Sem dúvidas, as empresas do setor da construção têm, cada vez mais, se preparado e estão empenhadas para responder aos desafios a elas impostos. Não foi por mero acaso que o Governo Federal, por meio do Ministério das Cidades, escolheu o setor da construção para em 1992 instituir o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H), que inicialmente nem incorporava o ‘H’ de Habitat. Destaco que este simples acréscimo de letra trouxe uma amplitude de visão, integrando ao foco da gestão, o contexto da qualidade em que está inserido o empreendimento. O resultado dessa iniciativa foi que, passados 25 anos, o PBQP-H se consolidou, e hoje, temos mais de 350 empresas certificadas no nível A apenas em Minas Gerais, conforme informações do site do próprio PBQP-H, neste mês.
Em uma visão ampla do desafio inicial de implantar um sistema de gestão, cabe aqui uma reflexão das características do processo produtivo de uma edificação, cujos produtos finais, na maioria das vezes, são específicos e únicos. Outra análise é que um produto, usualmente, é produzido em uma linha industrial. Já no caso da edificação, para cada produto é necessária a instalação de um canteiro de obras com características específicas para aquele empreendimento, ou seja, monta-se e desmonta-se o canteiro de obras a cada novo produto. Uma grande conquista nesse sentido foi a mudança de cultura dos colaboradores, que agora estão totalmente engajados e já internalizaram os processos de melhoria da qualidade.
O desafio atual é em outro nível, e se refere aos sistemas de gestão de qualidade implantados conforme as premissas de evolução. Nosso foco é o resultado final, ou seja, o desempenho, um conceito que já vem sendo discutido na academia desde a década de 1970. O tema, inicialmente trazido ao setor da construção a partir do ano 2000, foi efetivamente disseminado com a criação da Comissão de Estudos de Desempenho da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que estruturou e publicou a “ABNT NBR 15.575 – Edificações Habitacionais – Desempenho”.
A norma, cuja proposta é estabelecer parâmetros técnicos para vários requisitos importantes de uma edificação, como desempenho acústico, desempenho térmico, durabilidade, garantia e vida útil, requer do construtor conhecer o comportamento em uso de uma edificação e de seus sistemas. Dentro desse contexto, o envolvimento de todos os elos do processo construtivo da edificação é imprescindível, cabendo destaque ao processo de elaboração e gestão de projetos. Também é necessário dar ênfase aos produtores de insumos e materiais, que deverão conhecer, demonstrar e garantir o desempenho dos produtos que serão inseridos nos sistemas construtivos.
Para grande parte dos agentes do setor da construção, o atendimento aos requisitos e critérios de desempenho, considerando o tamanho e complexidade do setor, ainda é um grande desafio. É inegável que, ao estabelecer parâmetros para avaliar o resultado final, a norma de desempenho teve como alvo explícito o conforto do usuário da edificação, mas, ao estabelecer requisitos e critérios claros e objetivos, ela também trouxe outros benefícios. Dentre eles estão as definições de incumbências e a responsabilidade em todo o processo, e ainda, a tão sonhada isonomia competitiva, ou seja, a premissa de que para atuar no processo construtivo de edificações habitacionais, a regra é o atendimento ao desempenho.
Nesta reflexão, cabe o questionamento: conseguiríamos discutir desempenho sem antes termos implantado os sistemas de gestão de qualidade? Com certeza, não! Essa sequência não se deu por mero acaso, mas sim, pelo processo naturalmente evolutivo.
* Eduardo Henrique Moreira, vice-presidente da Área de Materiais, Tecnologia e Meio Ambiente do Sinduscon-MG