Integrantes das Forças Armadas são capacitados para combater o mosquito transmissor da doença e auxiliar agentes de saúde no trabalho de erradicação dos focos em Minas Pedro Rocha Franco A proximidade do período de maior proliferação do mosquito Aedes aegypti, entre março e maio, preocupa as autoridades de saúde. Como forma de auxiliar os municípios no combate à larva e diminuir os riscos de epidemia, o Exército reforçou a força-tarefa de prevenção da doença. Nesta semana foram treinados 100 militares para compor reserva técnica de contigente da Secretaria de Estado de Saúde. Em casos de aumento significativo da infestação ou na falta de agentes de zoonoses, os soldados devem ser convocados para apoiar a tropa de combate ao mosquito. Um novo inseticida também faz parte das armas contra a dengue. De segunda até quinta-feira, os militares foram capacitados em aspectos teóricos e passaram por aulas práticas de como é feita a atuação no campo. Ao todo, foram quatro dias de treinamento, com oito horas diárias. Entre os conteúdos ensinados pelos técnicos da secretaria, estão noções básicas do vetor, como os hábitos e principais locais de depósito dos ovos; os primeiros sintomas apresentados pela pessoa infectada; tópicos sobre a doença e sobre o Programa Nacional de Controle da Dengue. Além disso, a montagem do material e a utilidade de cada item foi detalhada. Lanterna, coador para captura e formulário de aspectos da imóvel compõem o kit de zoonoses. Ao todo, no país, devem ser treinados 2 mil militares do Exército, Marinha e Aeronáutica. Os soldados aprenderam as diferenças nos locais usados pelo mosquito para a proliferação em casas, prédios e imóveis comerciais. Segundo a coordenadora de Zoonoses e Fatores de Riscos Biológicos, Talita Chamone, da Secretaria de Estado de Saúde, o treinamento foi diferenciado para cada ambiente, pois lojas não têm área de acúmulo de entulhos, como plantas, quintais e calhas, o que torna imóveis residenciais mais propícios para a identificação de focos. Em seguida às aulas, foi feita simulação na estrutura do imóvel do 12º Batalhão de Infantaria, no Bairro Prado, para ver se eram encontrados recipientes apropriados para proliferação do mosquito, como caixas-d’água e pequenos vasilhames. “É preciso o envolvimento de todos no combate ao mosquito. Quanto mais parceiros, maior será o controle à doença”, afirma Talita. INSETICIDA Entre os ensinamentos dados aos militares, está o modo adequado para se usar um novo inseticida, considerado mais eficaz no combate ao vetor. A substituição do Temephos pelo Difluberazon se deve à resistência apresentada por 40% dos mosquitos. Além de ser usada dosagem menor, o novo inseticida é menos tóxico. Segundo Chamone, com base em estudos de monitoramento de resistência feitos pelo Ministério da Saúde, houve indicação da necessidade de mudança. Inicialmente, o novo produto será usado em 21 cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte, quatro municípios do Triângulo Mineiro, quatro do Vale do Aço, além de Governador Valadares e Montes Claros. “Com o tempo, o vetor passa a ficar imune ao inseticida e é preciso fazer a substituição.”. O monitoramento é feito com a captura do mosquito adulto. Em seguida, é levado para o laboratório e, em condições adequadas de temperatura e ambiente, é feita a proliferação. Com a transformação do ovo em larva, é testado inseticida em uma certa quantidade e, se for elevado o número de sobreviventes, significa a necessidade de se alterar o produto. Seplag punida por não limpar lotes Luciana Melo Não basta conscientizar somente a população para evitar focos do Aedes aegypti. O poder público também descuida da prevenção e do trabalho de combate à dengue. A Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais (Seplag) foi multada pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) por não fazer o serviço de limpeza de sete lotes na Rua Padre Tiago de Almeida, no Bairro Camargos, na Região Noroeste. Além de cobrar R$ 871,84 como forma de punição, a SLU também vai precisar fazer a limpeza do local e assim cobrar pelo serviço. Desde janeiro do ano passado, esse trabalho já rendeu R$ 1,5 milhão aos cofres municipais. Em Belo Horizonte, a dengue já atingiu 42 pessoas e as notificações chegam a 713 casos. Para conscientizar a população sobre o risco de uma epidemia, o Sindicato da Construção Civil iniciou ontem um trabalho de vistorias em canteiros de obras para que os operários trabalhem levando em consideração os cuidados para prevenir os focos do Aedes aegypti. A fiscalização que é feita pela SLU tem função preventiva e corretiva. Segundo a chefe da Divisão de Fiscalização da SLU, Simone Teixeira Martins a ordem e não permitir que lotes mal conservados representam um perigo à saúde dos moradores da capital, sejam eles privados ou públicos. “Não podemos dar um tratamento diferenciado à população e outro para o poder público. Respeitamos todo o processo, previsto em lei, para aplicarmos a multa e fazermos a limpeza. Ainda não recebemos nenhum recurso por parte da Seplag, em relação a esses lotes”, afirma Simone. VIGILÂNCIA A assessoria comunicação do governo do estado informou que o vice-governador Antonio Anastasia determinou que a Seplag tome “medidas enérgicas” em relação ao problema dos lotes no Bairro Camargos e reafirmou a necessidade de manter a vigilância e os cuidados para que esse situação não se repita e que nenhum imóvel público ofereça risco à proliferação do Aedes. De acordo com a chefe da Divisão de Fiscalização da SLU, além da multa por descumprir os cuidados em relação à dengue, quando o poder público faz a limpeza forçada do local, o proprietário também arca com os custos desse serviço, pagando R$ 1,10 por metro quadrado e 8% de taxa administrativa. A portaria municipal 05/09, que autoriza a entrada da SLU em lotes murados para fazer a limpeza e ações de combate à dengue, foi publicada em 8 de janeiro. Antes da entrada forçada, a SLU segue um trâmite legal com notificação ao dono do imóvel, a partir de publicação feita no Diário Oficial do Município (DOM). Depois da publicação, o responsável pode tomar a providência de limpar o lote, em 15 dias, e escapar da multa. Se nenhuma ação for tomada, o endereço é novamente publicado no DOM com aviso de que a limpeza será feita. Para evitar acúmulo de focos do Aedes aegypti , o técnico em segurança do trabalho do Serviço Social da Indústria e Construção Civil de Minas Gerais Alexandre Souza visitou um prédio em construção na Rua Centralina, no Bairro Santa Inês, na Região Leste. Ele foi treinado pela Secretaria Municipal de Saúde para identificar áreas que podem servir como focos do vetor da dengue. Ao visitar os locais da construção, Alexandre Souza chamou a atenção do encarregado pela obra, Sérvio Geraldo Xavier, de 55 anos, a respeito de uma água empoçada na área privativa do prédio. O técnico também orientou o operário a usar cloro ou água sanitária na caixa-d’água. “Os agentes de zoonose já vieram aqui, mas a gente sempre aprende mais com as visitas. É um trabalho muito importante, porque temos muito medo da dengue”, afirma Sérvio Geraldo.