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FHC alerta para incerteza, mas considera que o momento é uma oportunidade para investir

O sociólogo e ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso foi a personalidade responsável por abrir o primeiro dia de painéis do 84º Enic – Encontro Nacional da Indústria da Construção. Durante a sua apresentação, o estadista fez uma contextualização da evolução econômica e política brasileira e depois analisou o cenário macroeconômico mundial e o papel dos empresários brasileiros neste ambiente de crise. “O empresário sabe que se não investir agora, no momento ruim, quando o momento for bom ele vai perder espaço”, afirmou. De acordo com Fernando Henrique, o papel de destaque, hoje, do Brasil no ambiente internacional é consequência de uma série de medidas econômicas e políticas implementadas a partir do final da década de 1980. “Para que a indústria brasileira ganhasse competitividade foi preciso uma mudança de patamar qualitativo. O primeiro passo foi a Constituição de 1988, o segundo foi a abertura da economia e o terceiro a estabilidade econômica e o controle da inflação”, disse. Ao longo desse período de reformas no Brasil, o país passou a ser mais bem avaliado pelos investidores internacionais, que viram no país oportunidades de negócios. A nova visão possibilitou o forte movimento de entrada de recursos estrangeiros no Brasil. Responsável pela privatização de várias empresas públicas durante os seus mandatos como presidente, entre 1995 e 2002, FHC analisou como positiva essa mudança, citando o exemplo da gigante Vale e as empresas de telecomunicações. Nos últimos anos, com o fortalecimento de outros países fora do eixo da América do Norte e Europa, especialmente a China, o mercado internacional teve um forte crescimento mundial. Desde o início da década de 1990, a economia mundial cresceu 65%. Para o ex-presidente, as transformações ocorridas internamente no Brasil possibilitaram que o país também aproveitasse esse processo de crescimento global. “A melhora dos indicadores econômicos do Brasil foi acompanhada por um processo de mobilidade social e o surgimento de novas camadas na sociedade com a ascensão das classes médias e populares”, ressaltou. Com isso, países que tinham pouca representatividade no cenário internacional passaram a ganhar espaço. A criação dos Brics surgiu a partir do destaque dealguns países fora do grupo dos desenvolvidos. Segundo o ex-presidente, à medida desse desenvolvimento veio também a evolução da percepção do negócio. “Esse espírito empresarial teve antecedentes no Brasil, porque nossa economia sempre foi agrária. Mas agrária de grande exportação e com conhecimento empresarial. Depois trouxeram para a indústria e para os serviços essa capacidade de avançar e desenvolver”, afirma. Mas agora o cenário de crise requer cautela. “Olhando para frente a perspectiva é de incerteza. Em 2004 e 2005 diríamos: pé no acelerador. Mas, agora dizemos: olha, cuidado. Não é necessário frear, mas preste atenção”, pontuou FHC. Hoje, a China é o principal motor da economia mundial e tem uma grande capacidade de poupança, que chega a ser de 40% a 45% do Produto Interno Bruto (PIB). Com taxas médias de crescimento acima dos 10% por vários anos. Ela usou esses recursos não para aumentar o consumo, mas para investir em infraestrutura, como estradas de ferro, trens-bala e aeroportos. Entretanto, agora, está havendo uma mudança de ênfase da condução da política chinesa. Até o fim desse ano, a direção chinesa toda vai mudar e devem entrar uma geração considerada reformista, que deve reduzir o ritmo de crescimento de 12% ao ano para 8%. Isso afeta o Brasil, por que ele se transformou em um país que é exportador de minério e alimentação, sobretudo para a China. Com o fenômeno de inversão dos valores no mercado internacional, quando as commodities ficaram mais caras e os produtos industrializados pouco se valorizaram ou mesmo ficaram mais baratos, a balança comercial brasileira foi beneficiada. Entretanto, ao contrário da China, a principal deficiência brasileira está justamente na infraestrutura. Mesmo com o bom desempenho da economia nos últimos anos, os investimentos em modais de transporte não foram suficientes, tornando-se um gargalo para o setor produtivo. Hoje, o desafio de aumentar a produtividade passa, necessariamente, por investimentos em alternativas para o escoamento da produção. De acordo com Fernando Henrique, uma grande vantagem do Brasil é o seu mercado interno aquecido, que neste momento de fragilidade do comércio internacional está minimizando os impactos. Por isso, o estadista considera que empresários devem ficar atentos às oportunidades que podem aparecer neste momento conturbado economicamente e se prepararem para a competitividade no pós-crise. Por Bruno Carvalho – Enic.