O crescimento acelerado das cidades tem provocado sérios problemas estruturais nas grandes cidades. A falta de saneamento básico, a poluição, a carência de espaços verdes e a dificuldade de deslocamento impactam diretamente na qualidade de vida do cidadão e no desenvolvimento econômico sustentável das cidades. Para discutir as soluções emergenciais e estratégicas, o painel Desafio de Pensar o Futuro das Cidades apresentou cases concretos que podem nortear as decisões nas esferas públicas e privadas. Nos últimos anos está se observando uma intensificação dos processos de urbanização das populações ao redor do mundo. O êxodo rural tem aumentado a densidade demográfica de algumas regiões que muitas vezes não estavam preparadas para receber adequadamente esse contingente. Na década de 1960, apenas 44,7% da população brasileira vivia em cidades. Hoje, o percentual se elevou para cerca de 80%, com a perspectiva que em 13 anos o nível chegue a 89%. Durante o painel, que teve o jornalista Chico Pinheiro (TV Globo) como moderador, o presidente da CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Paulo Safady Simão, destacou a importância de nortear as estratégias de desenvolvimento no país por cinco eixos, considerados fundamentais, que passam por escutar o cidadão, identificar a vocação de cada região, buscar referências bem sucedidas, buscar a eficiência nas gestões e promover a continuidade de programas e projetos que obtiverem bons resultados. “Hoje, nós temos uma sociedade civil mais organizada. No mundo, em alguns lugares, ela é até compulsória e participa da formulação das leis”, disse. Um dos exemplos de planejar o convívio no espaço urbano no futuro veio da cidade paranaense de Maringá. Há vinte anos, membros da comunidade se reuniram para definir quais melhorias deveriam ser realizadas no município. Agora, novamente, a sociedade se organizou para produzir o documento chamado Maringá 2030, apontando a cidade que eles querem no futuro. A iniciativa foi dos próprios habitantes, que procuraram uma empresa de consultoria e uma universidade para auxiliar nos trabalhos. De acordo com o prefeito de Maringá, Silvio Barros, é preciso que as pessoas tenham consciência das reais necessidades de toda a coletividade. “Democracia não é para quem quer, é para quem pode. É para quem tem maturidade para entender o que representa a mobilização. Você não pode querer o benefício da democracia de mobilizar as pessoas para a vontade coletiva, quando o interesse que fez as pessoas se mobilizarem foi individual”, disse o Silvio Barros. Com a evolução das tecnologias e a proliferação dos equipamentos e meios de comunicação, principalmente a internet e os smartphones, uma nova forma de organização civil pode se dar nas redes sociais. De acordo com o gerente de Novas Tecnologias Aplicadas da SmarterCities da IBM Brasil, Cezar Taurion, aplicações para dispositivos móveis podem assumir o papel de agregadores de demandas da população. Uma possibilidade seria estimular a criação de programas que disponibilizassem uma navegação fácil nos bancos de dados abertos por meio da Lei de Acesso à Informação, sancionada pela presidente Dilma Rousseff e que passou a vigorar em maio. Cezar Taurion também apontou soluções tecnológicas que poderiam contribuir de forma significativa para o cotidiano das cidades e para a economia de recursos naturais. A internet e objetos inteligentes podem modificar as estruturas das cidades. Em algumas, mais de 50% da água sai das adutoras e não chega às casas. Com um sensor seria possível identificar os vazamentos e solucioná-los”. O executivo da IBM complementa que sistemas de trânsitos inteligentes, integrado aos modais, podem identificar a possibilidade de congestionamentos com antecedência, permitindo que medidas sejam tomadas para redirecionar o fluxo antes que aconteça a retenção. Já um sistema meteorológico identifica pontos passíveis de alagamento antes da tempestade, indicando os locais onde a prefeitura deve fazer a limpeza dos bueiros e alertar a população. Um dos conceitos que vem sendo adotado nas cidades projetadas para o futuro é a troca do modelo baseado em trânsito de veículos para trânsito de pessoas. As intervenções urbanas buscam promover polos em vários pontos da cidade abrigando comércio, serviços e habitação. Na parte central, o estímulo seria para a adoção do transporte pública, transformando ruas e avenidas em amplos espaços verdes. Os exemplos das cidades de Londres, na Inglaterra, e Dubai, nos Emirados Árabes, foram usados pelo arquiteto e sócio do escritório Foster &Partners, Edson Yabiku para demonstrar a viabilidade. Ao final do painel, Chico Pinheiro abriu espaço para a participação do público e o debate entre os presentes se aprofundou sobre o papel dos agentes públicos, das entidades do setor privado, do setor público e da sociedade civil organizada. Questionado por um congressista, Chico Pinheiro disse que a mídia tem aberto espaço para a discussão de temas ambientais, mas que é dever também da sociedade demandar mais dessa questão aos meios de comunicação. Também foram questionados os incentivos governamentais à indústria automobilística, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), em um cenário em que necessita reduzir a frota, o consumo de combustíveis fósseis e as emissões de gás carbônico. Por Bruno Carvalho – ENIC