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Habitação: crédito bate recorde

Financiamentos com recursos da poupança cresceram 93% no ano até o mês passado. A forte demanda por crédito imobiliário acarretou um novo recorde nos financiamentos habitacionais a partir do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). No país houve um aumento de cerca de 93% no acumulado de janeiro a agosto deste ano sobre o mesmo intervalo de 2007, com o volume atingindo R$ 19,876 bilhões. Do total, cerca de R$ 2 bilhões vieram para Minas Gerais, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Demanda – Minas seria um Estado de suma importância, tanto no mercado primário de desembolsos quanto no secundário, conforme avaliação da entidade. A expectativa é que a demanda do segundo semestre continue superando a primeira parte do ano, com novos volumes recordes do SBPE. O último foi em 1981, quando foram financiados 267 mil imóveis. Historicamente, os seis primeiros meses do ano correspondem a 40% dos desembolsos e a segunda metade do exercício, pelos 60% restantes. O resultado seria seqüência do ótimo desempenho do setor imobiliário, que a despeito das altas da Selic, que chegou a 13,75% ao ano, continua com juros relativamente baixos que possibilitaram aos bancos flexibilizar prazos e volume de recursos. A expansão de crédito imobiliário no país tem ganhado cada vez mais dinamismo com base na queda das taxas de juros do setor, no grande número de instituições financeiras competindo no mercado de financiamentos para a casa própria e no aumento da renda do trabalhador. Os efeitos dos volumes de crédito para habitação disponibilizados se espalham sobre toda a atividade econômica, sobretudo na cadeia da indústria da construção. MARX FERNANDES Crise pode impactar no longo prazo As incertezas do cenário econômico internacional não deverão afetar os investimentos em lançamentos imobiliários no curto prazo, mas impactos podem ocorrer no próximo ano, na opinião de especialistas. Isto seria um reflexo da dificuldade na captação de recursos por parte das empresas. De acordo com o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão, a instabilidade poderá provocar a redução de recursos disponíveis no mercado. “Se esta crise se prolongar, poderemos ter impactos no setor”, disse. Apesar disso, ele lembra que os reflexos na indústria da construção civil deverão se dar em menor escala. “As fontes de recursos para o setor já estão bem definidas”, afirmou. Conforme Simão, as principais fontes são a cardeneta de poupança e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Walter Bernardes, lembrou que um dos canais de captação de recursos que deverá apresentar retração será a Securitização de Recebíveis Imobiliários (SRI). “É um mercado que estava começando a se desenvolver no país, mas com a crise deverá sofrer um revés”, informou. As empresas que buscavam se captalizar nas bolsas de valores também deverão sentir os impactos da crise, conforme Bernardes. Segundo ele, o cenário deverá prejudicar os planos de construtoras que pretendem abrir capital. Apesar disso, em 2008 as construtoras não deverão sentir os impactos da crise nas bolsas de todo o mundo, conforme o presidente da Câmara da Indústria da Construção da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (CIC/Fiemg), Teodomiro Diniz Camargos. “Os recursos necessários para os lançamentos neste ano já foram captados”, afirmou. Conforme publicado anteriormente pelo DC, a incerteza em relação à captação de recursos no mercado já refletiu em revisão de metas de alguma empresas. A Inpar, por exemplo, reduziu as projeções do Valor Geral de Vendas (VGV) de lançamentos para 2008 e 2009. A expectativa para este ano passou de R$ 2,5 bilhões para R$ 1,65 bilhão. No próximo ano as projeções da empresa é de um VGV de R$ 1,85 bilhão, enquanto inicialmente era de R$ 3 bilhões. RAFAEL TOMAZ Empresas optam mais por permutas A dificuldade em captação de recursos por parte das construtoras poderá intensificar a aquisição de terrenos através de permutas no Estado. A modalidade de compra já é uma tendência que vem sendo registrada em Minas Gerais. Ao formar os bancos de terrenos por meio de permutas as empresas poderão ter maior disponibilidade de capital para os lançamentos de novos empreendimentos imobiliários, de acordo com o diretor de Desenvolvimento Imobiliário do grupo Paranasa, Jânio Valeriano Alves. “É uma forma atrativa para os empresários e proprietários que buscavam valor agregado para seus terrenos”, afirmou. Segundo o diretor, os lançamentos da Paranasa em sua maior parte estão em terrenos adquiridos por meio de permuta. “Isso é uma tendência em Minas”, afirmou. Conforme ele, grandes construtoras já sinalizaram que só deverão formar os seus bancos de terrenos por meio de permuta, pois perceberam que esta é melhor saída. De acordo com Alves, os valores dos terrenos no Estado foram inflacionados em virtude da alta demanda. “Algumas construtoras se capitalizaram ao negociar ações na bolsa de valores e compraram uma grande quantidade de área para futuros lançamentos”, informou. Segundo ele, estas ações foram prejudiciais, pois muitas empresas ficaram sem capital para investir em novos lançamentos. De acordo com Alves, mesmo com a crise, as projeções da companhia para este ano foram mantidas. Em 2008 a empresa deverá registrar um Valor Geral de Vendas (VGV) lançado de aproximadamente R$ 100 milhões. “Ainda estamos avaliando as projeções para o próximo ano, mas não esperamos impactos significativos”, informou. (RT) Cimento tem “alta pontual” Os preços do cimento não aumentarão nos níveis do segundo semestre do ano passado, quando apresentaram elevação superior a 50%, segundo o secretário Executivo do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), José Otávio de Carvalho. De acordo com ele, apesar do período de “pico” das vendas e das altas nos custos de produção, as indústrias não estão repassando os preços. No ano passado houve uma recuperação de preço defasado que surgiu a partir de um período de retração do setor da construção civil e de obras de infra-estrutura, culminando em recuo nas vendas do insumo, obrigando as cimenteiras a reduzir os preços em mais de 50%, conforme Carvalho. De acordo com ele, as pequenas elevações das últimas semanas foram pontuais. “O que ocorreu é que quando algumas indústrias interrompem parte do processo produtivo, os compradores de determinada região suprida pelo fornecimento acabam comprando em outros parques fabris, acarretando repasses no valor do frete, que fica mais caro”, explicou Carvalho. Conforme dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), de janeiro a agosto deste ano o cimento apresentou alta de 2,82% na Capital, no que diz respeito às compras feitas diretamente da indústria. O saco de 50 quilos passou de R$ 14,20 para R$ 14,60 no período. MARX FERNANDES Somente através da Caixa Econômica Federal (Caixa), os recursos do SBPE responderam por R$ 656,501 milhões em crédito habitacional no Estado nos oito primeiros meses do ano, apresentando uma elevação de cerca de 50% na comparação com igual intervalo de 2007. De acordo com o gerente regional de Negócios da Caixa em Minas, Marivaldo Araújo Ribeiro, de janeiro a agosto a instituição financeira estatal foi responsável por R$ 1,531 bilhão em financiamentos imobiliários com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e SBPE. O volume total aumentou 50% em relação a igual período de 2007, dos quais, com os recursos do FGTS, o banco disponibilizou R$ 875,012 milhões, enquanto o SBPE respondeu por R$ 656,501 milhões. No entanto, o número de unidades financiadas aumentou apenas 3%, passando de 32 mil residências para 33 mil na comparação entre os dois períodos. No país, o número de unidades financiadas apenas em agosto subiu 90%, atingindo 34,798 mil habitações. No acumulado do ano o número chegou a 197,820 mil. Ainda de acordo com informações da Abecip, somente no mês de agosto os financiamentos imobiliários com recursos do SBPE atingiram um valor recorde de R$ 3,494 bilhões no país, com crescimento de 95% em relação a agosto do ano passado. Nos 12 últimos meses encerrados em agosto, foram contratados R$ 27,830 bilhões, expansão de 102,8% ante a média móvel anterior. A expectativa da Abecip é que o número de unidades financiadas com recursos do SBPE supere as 300 mil em 2008, com contratações que devem alcançar R$ 30 bilhões.