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Imóveis comerciais na contramão da crise

Nova realidade. Com cautela, empreendedores buscam oportunidades para diversificar investimentos no mercado imobiliário Giselle Araujo Especial para O TEMPO Contrariando as expectativas dos mais receosos, a crise financeira que faz tremer a economia mundial ainda não abalou as sólidas estruturas do mercado imobiliário. Apesar do momento de cautela, o setor tem registrado aumento na procura por imóveis, especialmente os de tipo comercial. Em busca de segurança, muitos investidores estão se arriscando menos nas flutuações do mercado financeiro e apostando mais na solidez do setor imobiliário, segundo especialistas de diversos segmentos do mercado. Elevadas perdas relacionadas ao financiamento de imóveis nos Estados Unidos desencadearam a crise. A ameaça à estabilidade financeira dos bancos e fundos de investimentos levaram os investidores a desfazer suas posições em créditos hipotecários, afetando o funcionamento de vários mercados. “Nesse contexto, entretanto, é importante entender que a crise que surgiu no mercado imobiliário norte-americano jamais teria as mesmas proporções no Brasil. Costumamos reclamar da burocracia para a obtenção de crédito, mas é ela que impede que cheguemos à mesma situação que instaurou a crise nos Estados Unidos”, observa o advogado especialista em direito empresarial Fabiano Zettel. Choque. De acordo com o presidente em exercício do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci-MG), Paulo Tavares, depois do choque inicial, o mercado reagiu com cautela aos rumores apocalípticos. “Num primeiro momento, realmente pensou-se que seria uma ducha fria no mercado, que vinha de um aquecimento expressivo. Claro que a situação leva à reflexão, a uma “pisada no freio” por parte das construtoras, mais no que se refere a lançamentos residenciais. No entanto, no caso dos imóveis comerciais, a crise até mesmo movimentou o mercado para essa área.” Vento a favor. Ao contrário dos EUA, esta seria uma das justificativas para manter o setor brasileiro imune à crise Recursos para financiamento têm equação própria Giselle Araujo Cautela quer dizer atenção e, não, “pare”. Assim, as construtoras tendem a retomar o ritmo dos lançamentos de unidades avulsas ou de terceiros (imóveis de dois e três quartos), desacelerado no início da turbulência. “Investidores nos procuraram para adquirir imóveis desse tipo por dois motivos: para aliviar a preocupação com o dinheiro aplicado em bancos e para aproveitar a demanda do mercado de locação de dois e três quartos, que cresce nesse período do ano e que ainda tem pouca oferta”, afirma o presidente em exercício do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci-MG), Paulo Tavares. Apesar do clima de incertezas que se impõe ao cidadão comum, o momento não impossibilita a realização do sonho da casa própria. “Há um pânico infundado quando as pessoas dizem que não está na hora de comprar nada. Com prudência e coerência, acredito que, ao contrário do que se imagina, é possível contratar prestações fixas, respeitando a realidade de cada um”, comenta o especialista em direito empresarial Fabiano Zettel. De acordo com ele, a solidez do Sistema Financeiro de Habitação brasileiro garante segurança ao setor. “A Caixa Econômica Federal (CEF), responsável pela maioria dos financiamentos habitacionais, trabalha com uma realidade muito positiva. Se dependesse da captação de recursos para crédito no mercado externo, talvez a instituição tivesse que repassar as dificuldades lá de fora para o consumidor, mas não é o caso.” Fabiano Zettel Mais recursos. O anúncio do aumento no volume de recursos para financiamento imobiliário, divulgado pela CEF, corrobora a avaliação de Fabiano. Apesar das turbulências, a instituição não registrou queda no crédito imobiliário no último mês. E a previsão é que em 2009 os recursos para financiamentos sejam elevados entre 20% e 25%. “Os recursos para o financiamento imobiliário permanecem abundantes e, este ano, devem registrar crescimento de 63% em relação a 2007”, informa o presidente do Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (Secovi-MG), Ariano Cavalcanti. “Por terem origem no FGTS e na poupança, os recursos para financiamento imobiliário têm uma equação própria e, de certa forma, à parte do vetor da crise.” Histórico. Cavalcanti ressalta que durante as crises pelas quais o Brasil passou nas últimas décadas, o imóvel sempre se manteve como um porto seguro. “Isso sem falar que, em termos patrimoniais, o imóvel teve uma das melhores performances na história econômica brasileira. Creio que a lição que fica – e o tempo nos dirá – é a de que o imóvel continua sendo uma excelente estratégia patrimonial”, completa. “O governo precisa tomar duas providências para melhorar o mercado de aluguéis: alterar a Lei do Inquilinato, para reduzir o tempo de ação de despejo, que leva cerca de um ano, incentivando o investidor a comprar mais imóveis para alugar. A outra medida é isentar o comprador de unidades de dois e três quartos para locação do imposto de renda sobre o aluguel.” Cartilha Cbic Crítica. Além de informações sobre o mercado imobiliário brasileiro, efeitos e providências contra a crise, a cartilha divulgada pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) considera “desnecessária, indesejável e desconfortável” a participação acionária do governo em construtoras e incorporadoras Defesa. O setor defende a criação de linhas de crédito em vez da participação do Estado como sócio das empresas. Estopim Crédito livre gerou a crise atual A turbulência econômica que assusta o mundo inteiro teve início no mercado imobiliário dos Estados Unidos. A origem está no chamado crédito subprime (de segunda linha), que facilita o acesso de pessoas com histórico de inadimplência e dificuldade de comprovar renda a empréstimos para comprar imóveis. Para compensar o grande risco, já que os devedores oferecem menos garantia de pagamento, o crédito tem taxa de retorno mais alta, o que atrai o mercado investidor. De olho nos juros maiores dos títulos subprime, gestores de fundos compram esses títulos dos bancos que fizeram o primeiro empréstimo. Uma nova quantia pode ser emprestada, antes de o primeiro empréstimo ser quitado. Outros investidores compram o título adquirido pelo primeiro e assim sucessivamente, formando-se uma cadeia de venda. Quando quem toma o crédito não consegue honrar a dívida, o mercado passa a evitar o empréstimo e a compra de subprime, gerando uma crise de liquidez com retração de crédito. (GA) Condomínios Segurança atrai compradores Com foco no segmento de condomínios, o diretor da Alpha Sul Consultoria Imobiliária, Márcio Lanna, afirma que não registrou queda nas vendas, mas acompanha de perto o desenrolar da crise. “Há uns nove meses, o mercado estava bastante aquecido, era muito bom para ser verdade. Fizemos muitos negócios, mas havia muita especulação”, comenta. “Agora, a poeira baixou e estamos fazendo transações mais certas, principalmente no segmento comercial, que registra uma demanda cada vez maior. E os clientes estão vindo para comprar, não especular.” Para o corretor de imóveis Gilmar Marques, o momento reforça a tradição e a solidez do mercado imobiliário quando o assunto é segurança patrimonial. “No contexto da crise, as pessoas estão evitando os riscos, querem alternativas concretas para aplicar suas economias. Claro que o mercado vai sentir algum efeito, mas nada nas proporções dos setores de bens como veículos, por exemplo.” O advogado e economista Lausimar Neves adquiriu três lotes no Vale do Sol por considerar o investimento seguro. De acordo com Gilmar Marques, o cliente foi atraído também pela rentabilidade do produto. “No início do ano, cada lote valia R$ 30 mil. Agora, os terrenos estão sendo comercializados por R$ 60 mil, e a tendência é valorizar ainda mais, já que estamos numa das áreas que mais crescem na região metropolitana, próxima ao Alphaville.” A despeito da crise, o comerciante Fabrício Augusto decidiu investir no terreno. “Tirei o dinheiro da poupança e comprei o lote, o que já estava nos meus planos.” (GA)