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Inflação não pode abafar velhos problemas

Há algum tempo, a inflação passou a ser notícia constante no noticiário nacional e a moçada mais nova, hoje na faixa dos 20 a 25 anos, fica com uma interrogação na cabeça: o quê isso significa? A melhor explicação é mostrar que ela – ou ele, o “dragão” – mexe com o bolso: encarece o custo de vida, consome a renda e reduz o poder de compra. Sim, esta explicação atende aos menos curiosos. Mas, aos mais interessados podemos acrescentar explanações mais elaboradas para mostrar que a retomada da inflação pode ser muito prejudicial ao desenvolvimento do país. Algumas das causas apontadas por diversos analistas como razões para a escalada dos preços são a expansão acelerada do crédito e o consequente vigor do consumo no país, o aumento no preço das commodities e a maior pressão nos preços dos serviços. Esse cenário fez nascer o temor de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial do regime de metas para inflação medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), poderá encerrar o ano acima do teto permitido (6,5%). É claro que o país não pode permitir que o dragão assustador da inflação fique com os seus olhos abertos, afinal foi a estabilidade macroeconômica, duramente conquistada, que nos permitiu entrar em um patamar de desenvolvimento. Ajustar o passo do crescimento econômico e do controle inflacionário não é uma tarefa simples e fácil e, por isso, até hoje, passados quase 17 anos do Plano Real, ainda tem quem acredite – e aposte – que o país não consegue realizá-la. Mas é preciso lembrar que o Brasil vem desenvolvendo fundamentos econômicos sólidos, o que indica o caminho para o crescimento. Aliás, crescimento já amplamente percebido. A estabilidade econômica, que não aconteceu da noite para o dia, é uma conquista da sociedade, que pagou um preço elevadíssimo por ela e que certamente não a deixará ir embora facilmente. A realidade técnica demonstra um futuro próspero. Crescimento econômico não é proibido e não pode assustar. As oportunidades são verdadeiras e estão batendo à porta. Não se pode deixá-las partir porque podem demorar a voltar. É evidente que a inflação é um problema que precisa ser enfrentado com bastante seriedade e, por isso, essa é uma grande preocupação no curto prazo. Mas o país não pode, não deve e não será vencido por ela. Mecanismos para seu controle existem e estão sendo tomados. Por outro lado, é bom lembrar que, apesar das conquistas nas áreas econômica e social, o Brasil ainda tem muito a construir. As perspectivas para os próximos anos continuam positivas, o que já é um grande consenso. Mas isto não basta. Ainda existem questões importantes para resolver. É necessário, por exemplo, aumentar a taxa de poupança interna, elevar os investimentos e melhorar a infraestrutura. E – abrindo um parêntesis – para isso deve continuar contando com a construção civil, setor estratégico que, nos últimos anos, vem puxando o crescimento nacional e que, seguramente, também anda bastante preocupado com a inflação. Variações nos preços como os ocorridos em abril, quando o Custo Unitário Básico (CUB/m²) detectou que o cimento e a brita, insumos básicos para a atividade, aumentaram 5,46% e 6,92% respectivamente, exercem impacto imediato sobre os custos do setor, bem como no planejamento dos empreendimentos. Mas o principal déficit que preocupa é o de visão, não enxergar, ou não querer enxergar, que existem problemas tão ou mais complexos que a inflação, que também precisam ser enfrentados, tais como a carga tributária, os custos trabalhistas, os rombos da previdência, a reforma política e administrativa, dentre outros. As discussões concentradas nestes aspectos poderiam ser bem mais produtivas e, indubitavelmente, contribuiriam para o desenvolvimento do país, além de afastar de vez velhos fantasmas que alguns atores do mercado insistem em reavivar. * Jorge Luiz Oliveira de Almeida é diretor de Comunicação do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG).