Aumento de 6,8% no 3º trimestre. Rio – Nível de investimento recorde, puxado pela construção civil e bens de capital, crescimento da massa salarial e o consumo das famílias fizeram o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre crescer 1,8% em relação ao trimestre anterior e 6,8% na comparação com o mesmo período do ano passado. No ano, o PIB acumula alta recorde de 6,4%. E, segundo gerente de Contas Trimestrais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis, mesmo que ocorra um crescimento zero no quarto trimestre em relação a igual período do ano passado, o crescimento em 2008 seria de 4,8%. Para crescer no mesmo nível de 2007 (5,7%), o PIB do quarto trimestre deveria subir ao menos 3,7%. Apesar de o resultado ter surpreendido o mercado financeiro, os dados de julho a setembro não refletem ainda o recrudescimento da crise financeira internacional, a partir de 15 de setembro, quando houve a quebra do Lehman Brothers, o quarto maior banco americano. Portanto, esse desempenho é considerado como o ápice do crescimento e economistas não descartam uma queda de até 1% no quarto trimestre em comparação com o terceiro trimestre e, até mesmo recessão em 2009, embora não seja o que defende o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com relato do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo: “O PIB do quarto trimestre não vai dar zero porque o comércio está vendendo muito”, disse Lula, segundo o ministro. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador de investimentos no país, cresceu 19,7% no terceiro trimestre em relação a igual período do ano passado e 6,7% na comparação com o segundo trimestre de 2008. O resultado foi recorde da série iniciada em 1996 em todas as bases de comparação, segundo Rebeca Palis. O segmento de construção civil foi um dos destaques no PIB do 3º trimestre Bens de capital – Segundo ela, a expansão da FBCF foi puxada tanto pela produção e importação de máquinas e equipamentos, quanto pelo ótimo desempenho da construção civil. O crescimento da construção civil, de 11,7% no terceiro trimestre de 2008 ante igual período do ano passado, foi a maior expansão trimestral para o setor apurada pelo IBGE. Esse segmento responde por cerca de 40% da FBCF, enquanto os 60% restantes ficam com máquinas e equipamentos. Segundo Rebeca, o aumento da construção está relacionado ao aumento nominal de 32,3% no crédito direcionado à habitação e ao aumento de 3,4% no pessoal ocupado do setor no trimestre. De acordo com Rebeca, na comparação com igual trimestre de ano anterior, a FBCF apresentou o 19º aumento consecutivo nessa base de comparação. “Foi um trimestre muito favorável ao investimento, apesar do aumento da taxa de juros”, disse. Segundo ela, a FBCF também foi influenciada pelo aumento nominal do crédito de recursos livres para pessoa jurídica (42,1% no terceiro trimestre ante igual período do ano passado) e o crescimento nominal de 23,1% nas operações de crédito do BNDES. A taxa de juros efetiva Selic passou de 11,5% ao ano no terceiro trimestre de 2007 para 12,9% ao ano no terceiro trimestre de 2008 mas, como lembrou Rebeca, isso não afetou o forte aumento dos investimentos no período. Rebeca disse que, mais que o crédito, a forte expansão da massa salarial foi um dos principais impulsos para a aceleração do crescimento do PIB. Segundo ela, a massa salarial real passou de uma expansão de 8,1% no segundo trimestre ante igual período do ano passado, para 10,6% no terceiro trimestre. “Mais que a continuidade do crescimento do crédito, chamou atenção o aumento da massa salarial, com expansão do emprego e do rendimento médio real”, disse. Mantega: cenário seria favorável Brasília – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que o crescimento forte do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre coloca o Brasil em condições mais favoráveis para o enfrentamento da crise internacional. Segundo ele, o desempenho positivo até setembro deu musculatura para que o país atravesse o período mais difícil da economia mundial. “Estamos em um período de turbulência com mais força. Por isso, nossa desaceleração será menor do que a de outros países que já estavam com crescimento debilitado”, afirmou Mantega. Apesar do tom otimista, o ministro admitiu que o país vai desacelerar no quarto trimestre e registrará crescimento em torno de 3%, fechando o ano com uma taxa de 5% a 5,5%. Lembrando que nos últimos trimestres a economia brasileira cresceu a taxas superiores a 6%, Mantega destacou que essa expansão tem ocorrido de forma equilibrada, com a inflação sob controle. “A inflação só subiu por conta do choque de commodities”, afirmou. Ele também ressaltou o papel dos gastos públicos como propulsor do crescimento. Segundo o ministro, apesar de os gastos do governo terem crescido menos que o PIB, eles deram sua contribuição para esse desempenho favorável sem que as contas públicas fossem prejudicadas. Ele citou os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e mencionou especificamente as despesas com programas sociais que contribuíram para o crescimento superior a 7% na demanda das famílias. Esperança – Mantega afirmou que o terceiro trimestre não será o último com crescimento forte no governo Lula. Segundo ele, apesar de ser esperada uma desaceleração da economia no quarto trimestre e em 2009, o país deve voltar a ter taxas expressivas de crescimento em 2010. “Pela situação da nossa economia acredito que em 2010 voltaremos para as taxas de crescimento verificadas neste ano”. Em relação ao desempenho da economia em 2009, Mantega disse que a estimativa do governo de crescimento de 4% não é simplesmente uma projeção econômica, mas sim uma meta pela qual o governo vai trabalhar para que seja alcançada. “Conseguiremos crescer 4% se todos trabalharmos por isso”, disse ele, que afirmou também que o governo tomará todas as medidas que julgar necessário para estimular o crescimento. O ministro da Fazenda assegurou que o governo vai continuar respondendo à crise internacional com medidas quando forem necessárias. Ele voltou a afirmar que o governo não tem feito pacote, mas tem trabalhado com ações na medida em que os problemas estão sendo identificados. Questionado sobre a reclamação de empresários de que as medidas já anunciadas dentro do Programa de Desenvolvimento Produtivo não saíram do papel, Mantega respondeu que a grande maioria delas já entrou em vigor. “Não sei quais são as medidas que não foram colocadas em prática”, disse. O ministro evitou fazer comentários sobre a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa hoje. “Não comento o Copom nem na véspera nem depois da véspera. Perguntem para o presidente Henrique Meirelles (do Banco Central)”, disse. (AE) Impacto deve ser mais forte em Minas Gerais O crecimento acentuado da economia brasileira até o terceiro trimestre deste ano deverá colaborar para minimizar os efeitos da crise no desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2008, conforme especialistas consultados pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO. Entre outubro e dezembro é esperado uma forte desaceleração. Os impactos serão maiores em Minas Gerais. O presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Wilson Benício Siqueira, afirmou que o crescimento de 6,4% do PIB nos primeiros nove meses de 2008, em relação ao mesmo período do ano passado, irá contribuir para que o resultado não seja abaixo de 3% no acumulado do atual exercício. “No quarto trimestre o desempenho será muito reduzido”, disse. Em 2009, o cenário deverá ser de continuação de desaquecimento econômico, conforme Siqueira. As demissões esperadas em virtude da crise deverá ser o principal fator que irá comprometer a economia brasileira. “Com o desemprego, o consumo irá cair”, disse. O professor de Economia Brasileira da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Ário de Andrade, explicou que o crescimento no terceiro trimestre foi o pico de crescimento. Ele lembrou que um dos fatores que contribuíram para os resultados foram os investimentos realizados durante o exercício. “Mas, os aportes serão menores nos últimos três meses do ano”, disse. De acordo com Andrade, além da crescimento menor, a economia poderá ser impactada pela inadimplência em 2009. “Foram feitas muitas compras financiadas, principalmente de veículos e com o desemprego muitos consumidores não conseguirão pagar”, afirmou. Commodities – Para o professor, os reflexos da economia mineira deverão ser mais intensos já no último trimestre deste ano. A expectativa ocorre em virtude do perfil econômico mineiro que é baseado nas commodities. “Quando há crescimento, o Estado apresenta elevações acima da média nacional e o efeito contrário é o mesmo”, afirmou. Andrade ressaltou a queda na demanda por minério de ferro, um dos principais produtos em Minas Gerais. “Ainda estamos olhando o retrovisor”, afirmou o coordenador sindical do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Daniel Furletti. O setor, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), cresceu 10,2% entre janeiro e setembro de 2008 na comparação com o mesmo período do exercício passado. Para Furletti, o desempenho da construção civil em Minas Gerais deverá acompanhar a desaceleração da economia esperada para o quarto trimestre. Apesar disso, não é esperado resultados negativos, conforme ele. O setor de transportes em Minas Gerais cresceu acima do PIB brasileiro no acumulado dos primeiros nove meses deste ano. O setor registrou incremento de aproximadamente 12% no período, em relação a igual intervalo de 2007. As informações são do presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de Minas Gerais (Setcem), Ulisses Martins Cruz. Apesar disso, desde novembro o setor vem enfrentando uma queda acentuada no volume de negócios, com retração de 30%. O cenário é atribuído a queda na produção das mineradoras e siderúrgicas do Estado, segundo Martins. RAFAEL TOMAZ