Em meio ao desarranjo da economia em função da crise mundial e suas conseqüências era difícil imaginar que as vendas de imóveis em 2009 pudessem superar os bons resultados de 2008. Mediante o cenário conturbado, não se esperava que o desempenho em geral das atividades fosse satisfatório. Afinal, a instabilidade gerada no mercado inibia novos negócios e adiava investimentos, especialmente os de longo prazo. Porém, o país reagiu e superou as expectativas e conseguiu reverter o que parecia impossível: ser um dos primeiros a deixar a crise internacional. Em Belo Horizonte, o segmento imobiliário reagiu bem à instabilidade econômica e às medidas de estímulo ao setor, como o programa Minha Casa, Minha Vida e a redução do IPI para os materiais de construções e registrou números expressivos. As vendas de apartamentos novos nos primeiros dez meses de 2009 superaram em 9% os resultados de todo o ano de 2008. Conforme a pesquisa Construção e Comercialização de Imóveis, realizada mensalmente pela Fundação Ipead/UFMG e divulgada pelo Sinduscon-MG, de janeiro a outubro de 2009 foram comercializadas 5.420 unidades, enquanto que no ano anterior foram vendidas 4.973. Este fato tem destaque, pois 2008 apresentou um desempenho bastante positivo, sendo destaque na série histórica da pesquisa. Diante dos momentos difíceis do mercado financeiro, agravado pela situação econômica mundial, o segmento imobiliário foi uma opção segura de investimento. Mas, sem dúvida, foi o Programa Minha Casa, Minha Vida que ampliou as perspectivas do setor e permitiu os resultados melhores. Deve-se destacar que os números positivos do mercado de trabalho formal também contribuíram para manter esse dinamismo. Geralmente, a aquisição de um imóvel envolve um financiamento de longo prazo e, por isso, o resultado do mercado de trabalho é importante. A confiança dos consumidores na economia também é um fator que contribui para impulsionar as vendas. Para este ano, as perspectivas continuam animadoras, pois o cenário da economia apresenta fundamentos sólidos e o setor poderá se fortalecer ainda mais. Porém, ainda existem desafios a serem enfrentados como a falta de mão de obra qualificada, a elevada carga tributária e a burocracia. Esta última, inclusive, está presente em vários órgãos afetos ao mercado imobiliário. Em Belo Horizonte, contudo, em um desses órgãos, ela começa a ser vencida. Trata-se da Secretaria Municipal Adjunta de Regulação Urbana. Em novembro passado, nesta mesma coluna, escrevemos que esta secretaria estava iniciando um processo de desburocratização para as avaliações e aprovações de projetos imobiliários, mas que ainda não tinha encontrado o eixo dessa questão. Hoje, dois meses depois, podemos dizer que suas iniciativas tiveram efeitos positivos. A contratação de 15 novos examinadores que, segundo a secretaria, passaram por intenso treinamento, produziram bons resultados: enquanto em outubro haviam sido aprovados 34 projetos, em novembro o número saltou para cerca de 200. Também foram agilizados os trâmites dos exames de documentos exigidos para a marcação de entrevistas de novos projetos e reduzidos os prazos de espera para a aprovação dos mesmos. Estes são exemplos de que quando existe vontade política, o nó da burocracia pode ser desatado, ou pelo menos, afrouxado. E é o que percebemos estar acontecendo na nossa capital. A continuar assim e, certamente aperfeiçoar os processos que liberam nossas construções, Belo Horizonte e seus moradores só têm a ganhar. Pois a redução da burocracia anima os empreendedores que vêm investir seu capital, proporcionando novos empregos no setor, que possibilitam a inserção social de grande parte da população, através do aumento da renda e do consumo. A consequência deste movimento é o giro da economia local, além, claro, do incremento da atividade construtrora que, conforme já dissemos acima, deverá ocorrer neste ano que se inicia. * Jorge Luiz Oliveira de Almeida é diretor de Comunicação do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG).