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Mão-de-obra escassa é entrave na construção

Falta pessoal especializado O setor da construção civil em Minas Gerais ainda sofre com escassez de mão-de-obra especializada. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belo Horizonte e Região (Stic-BH e Região) nas cidades representadas pela entidade existem mais de 60 mil pessoas empregadas e uma demanda reprimida para mais de 10 mil trabalhadores. Junto às construtoras, a maior carência é nas funções de carpinteiro e armador. Segundo o presidente do sindicado, Osmir Venuto da Silva, a crise ainda não afetou os postos de trabalho da construção civil. O fato é explicado pelo grande número de lançamentos imobiliários realizados no ano passado. Com isso, muitas empresas ainda estão trabalhando as encomendas contratadas em 2008. As construtoras continuam contratando e não há mão-de-obra capacitada suficiente para atender a demanda atual. Silva ressaltou que a escassez de profissionais pode ser constatada em todos os tipos de funções no segmento, desde o servente até o engenheiro. “O setor necessita tanto de pessoas com alto nível de qualificação quanto daquelas que nunca trabalharam no setor”, avaliou. Para tentar lidar com este cenário, as empresas disputam o trabalhador, oferecendo os mais variados benefícios. Segundo o representante sindical, apesar dos atrativos oferecidos pelas empresas, a categoria continua sendo desvalorizada no mercado de trabalho. Ele ressaltou que na última convenção trabalhista foi acordado um reajuste salarial de apenas 8,5%, o que representa um ganho real de, aproximadamente, 2% para os operários. Em função disso, o número de pessoas interessadas em ingressar neste mercado vem caindo a cada ano. “Antigamente, o pai trazia o filho para aprender um ofício. Hoje, eles não querem que os mais novos passem pelas mesmas dificuldades”, disse. Tarefa – Encontrar profissionais para trabalhar nas obras hoje é tarefa difícil há cerca de dois anos, segundo Silva. Ele ainda disse que a perspectiva é de que a situação seja mantida até o final deste ano. O sindicato representa os trabalhadores da capital mineira, Sabará, Ribeirão das Neves e Sete Lagoas. O presidente da Câmara da Construção da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Sic-Fiemg), Teodomiro Diniz Camargos, afirmou que várias entidades e empresas investiram nos últimos anos na formação de mão-de-obra com o intuito de suprir a carência de profissionais capacitados no mercado. A Fiemg, o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), foram alguns exemplos citados por ele. Segundo Camargos, o setor teve que se adequar ao nível da demanda. “Até as empresas passaram a investir na formação de funcionários, o que acaba sendo positivo, pois a tendência é que turn over seja menor. O canteiro de obras é um ótimo lugar para ensinar as diversas funções existentes na construção civil”, destacou. CAMILA COUTINHO Dificuldades para preencher as vagas Desde setembro de 2008 estão abertas 80 vagas de carpinteiro e 40 de servente na Construtora Lider. De acordo com a gerente de Recursos Humanos, Gláucia Teixeira Brasileiro, a empresa até tentou contratar alguns funcionários que haviam sido recentemente demitidos de outra construtora, mas os operários preferiram receber o seguro-desemprego a voltar ao mercado. Na tentativa, apenas 5% dos funcionários aceitaram ocupar as vagas. Mesmo recorrendo às diversas ferramentas de recrutamento, como anúncio em rádios, jornais impressos e faixas em frente às obras, não obteve sucesso. A construtora ainda oferece benefícios como kit escola, prêmios de produtividade e de assiduidade. “Para conseguir dar continuidade às obras fazemos um remanejamento dos funcionários. Assim, algumas etapas das construções não ficam prejudicadas”, destacou. Atualmente, o grupo Lider, composto pelas construtoras Lider e Liderança, emprega 2,3 mil funcionários. Na avaliação da gerente, o cenário de escassez de mão-de-obra na construção vem se arrastando desde o início de 2008. A perspectiva é que somente a partir do segundo semestre de 2009 a situação volte a ser normalizada. A Habitare Construtora e Incorporadora Ltda, localizada no Barro Preto, região Centro-Sul da Capital, está com 80 vagas em aberto no momento. De acordo com o diretor-superintendente, Alexandre Soares, a expectativa é que os postos sejam ocupados nos próximos 60 dias. Segundo ele, a demanda por profissionais da construção civil ainda é grande, mas a situação está mais tranqüila do que a verificada ao longo 2008. Soares afirmou que a procura ainda está aquecida e não há como fazer previsão sobre quando a oferta voltará a ser suficiente para a demanda. “Há alguns anos colocávamos uma placa na porta da obra anunciando a abertura de vagas e todos os dias recebíamos cerca de três interessados pelo emprego”, destacou. Soares explicou que a empresa tem 1,2 mil funcionários, sendo que cerca de 900 deles são empregados da Habitare há muitos anos. Uma certa rotatividade no setor é considerada normal. Mas, atualmente, existe dificuldade para preencher os postos de trabalho que foram desocupados. (CC) Direcional: contratação com carteira A dificuldade de encontrar profissionais na Direcional Engenharia S/A está concentrada nos cargos que exigem mais qualificação. Segundo o gerente de Obras de Minas Gerais e Espírito Santo, Leonardo Diniz Braga Pimentel, as funções de pedreiro, armador e carpinteiro de alvenaria são as que demandam mais vagas. O gerente informou que para lidar com a escassez de mão-de-obra os funcionários já são contratados com carteira assinada. Além disso, é feito um planejamento das obras para que sempre exista uma construção em andamento, evitando que os trabalhadores fiquem ociosos. “Não contratamos temporariamente, senão a cada nova obra enfrentaríamos uma luta para conseguir encontrar os profissionais”, destacou. Em 2008, a empresa contratou três empreendimentos, que atualmente estão em fase de construção. A previsão é que no primeiro trimestre de 2009 sejam lançados mais três empreendimentos. Atualmente, a empresa tem 170 funcionários trabalhando em obras. Um programa de treinamento para que a disponibilidade de mão-de-obra seja sempre renovada é uma das principais estratégias do gerente para lidar com a atual conjuntura. “Colocamos os serventes para trabalhar com profissionais mais experientes. Ao final da obra, temos mais pessoas que podem ser contratadas no próximo empreendimento. Os funcionários percebem que estamos investindo neles, o que faz com que a probabilidade de conseguir mantê-los no nosso quadro seja maior”, avaliou. De acordo com o diretor de Marketing da Gran Viver, Rodrigo Fonseca, como não está sendo possível ocupar as vagas com profissionais de Belo Horizonte, a empresa está fazendo buscas também no interior do Estado. “A necessidade é tão grande que contratamos pessoas sem experiência e fazemos os treinamentos no decorrer da obra”, concluiu. (CC)