Apetite chinês garantirá vendas elevadas do principal produto embarcado pelo Brasil, sobretudo Minas. Mesmo com a expectativa de desaceleração da economia mundial, decorrente da crise financeira nos Estados Unidos, o mercado interno chinês deve continuar garantindo o bom desempenho do fluxo da balança comercial de Minas Gerais. Especialistas apontam para a manutenção da demanda elevada por minério de ferro e commodities metálicas para 2009. O indicador de importações de minério de ferro da China no acumulado do ano até setembro, quando a crise se manifestou de forma mais devastadora, confirma as estimativas. Entre janeiro e setembro de 2008, o país asiático comprou 350 milhões de toneladas do insumo, o que representou uma ampliação de 22% na demanda quando comparada com o mesmo intervalo de 2007. O analista em mineração e siderurgia do Banco Geração Futuro, Carlos Kochenborger, disse que em um momento de risco de liquidez mundial as variações de preços no curto prazo não são racionais e nem tem parâmetros. “Por isso, não há motivos para duvidar da recuperação dos preços das commodities metálicas, que já voltam a se valorizar. Os fundamentos das empresas são sólidos e as estimativas para o setor são positivas. O ritmo do crescimento pode ser afetado, mas não de forma preocupante”, avaliou. O presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira para o Progresso da Mineração (Apromin) e ex-presidente do Ibram, José Mendo Misael de Souza, disse que o pacote de ajuda ao sistema financeiro deve contribuir para sanar os problemas de uma crise “aparentemente” financeira. “Apesar dos reflexos da turbulência, o consumo das economias emergentes deve continuar aquecido, mantendo uma demanda firme, porém menos vigorosa, sobretudo de commodities metálicas”, explicou. Consumo – O consultor da área de mineração e ex-presidente da Companhia Vale do Rio Doce (Vale), Francisco José Schetino, também não acredita em um desaquecimento acentuado de insumos metálicos, tendo em vista que a China, maior consumidor mundial de aço e minério de ferro, já anunciou que a demanda deve continuar aquecida. “Há previsão de desaquecimento na economia mundial, mas o consumo deve continuar alto para garantir as estimativas de crescimento”, completou. Hoje, a China é o principal parceiro comercial de Minas e o segundo do país. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as exportações para o país asiático cresceram 51,35% de janeiro a setembro deste ano ante igual intervalo de 2007, somando US$ 3,245 bilhões. Os dados confirmam o otimismo dos analistas, já que o desempenho do de setembro não foi contaminado pelos reflexos da crise. As importações mostraram elevação de 70% na mesma base de comparação, atingindo US$ 980 milhões, valor próximo aos desembarques norte-americanos, que chegaram US$ 1,094 bilhão, mantendo-os no patamar de maiores vendedores para o Estado. ALINE LUZ Crise ainda gera dúvida Londres – As perspectivas para as commodities metálicas se alteraram completamente em razão do agravamento da crise financeira. Especialistas acreditam que o processo de correção dos preços ainda prosseguirá pelos próximos meses, diante do cenário mais pessimista para a economia global, o que inclui a China, principal condutora desse mercado. Os motivos para a percepção mais negativa são as estimativas de queda da demanda mundial, a desalavancagem financeira, o crédito mais apertado para os projetos de infra-estrutura e o fortalecimento do dólar frente ao euro, conforme analistas estrangeiros que participaram ontem do Metals Seminar 2008, promovido pela London Metal Exchange (LME), na capital britânica. “Esses fatores, com exceção da alta do dólar, não vão desaparecer do dia para a noite”, afirmou David Abramson, estrategista da BCA Research. “Não é o momento de tentar ser herói, vamos conversar novamente na próxima primavera (do Hemisfério Norte).” Para ele, a atual “tempestade” no setor de metais vai passar lentamente e as cotações só atingirão o piso no segundo trimestre de 2009. O diretor executivo do Macquarie Bank, Jim Lennon, acredita que o preço do minério de ferro deve interromper a seqüência de altas fortes registrada nos últimos anos e apresentar queda em 2009. “A Vale vai tentar um reajuste, mas no atual ambiente não vejo condições de conseguir”, afirmou. Lennon acredita que a empresa brasileira usará o argumento da queda do preço do frete no Brasil, o que reduziu a diferença de valores com outras regiões. No entanto, deve prevalecer o cenário de desaceleração da demanda chinesa, que é o principal condutor do mercado de commodities. Além do minério, o comportamento do aço também é relevante para o Brasil, pois o país está entre os principais exportadores. A LME lançou um contrato de aço futuro em fevereiro deste ano e, após um início forte, os preços entraram em colapso. (AE) É preciso conhecimento para negociar As negociações de áreas minerárias, bastante cobiçadas nos últimos anos, exige pesados investimentos, conhecimento e bons contatos. Especialistas revelam que Minas Gerais, palco de recentes aquisições de pequenas mineradoras por grandes grupos do setor, ainda conta com áreas disponíveis e deve ser alvo de vários negócios envolvendo ativos de mineração de pequeno porte no começo de 2009. O consultor da área de mineração e ex-presidente da Companhia Vale do Rio Doce (Vale), Francisco José Schetino, disse que as negociações normalmente envolvem dois cenários distintos – o da mineração em operação e o do decreto de pesquisa. “No primeiro caso o processo é mais rápido, porque a empresa já dispõe de estudos e dados sobre a área. Já quando ainda não há muitos dados, a negociação exige mais investimentos e mais tempo, com o mínimo de três anos, entre pesquisas e definição dos percentuias de reserva e tipo de minério”, explicou. Schetino informou que, normalmente, quem possui o decreto de lavra procura as grandes empresas para apresentar dados da área e iniciar a negociação. (AL)