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Minha casa modelo 1.0

Joana Gontijo – Lugar Certo Novas propostas diminuem o custo de construções voltadas para a população de baixa renda, aliando agilidade e sustentabilidade Diante de um déficit passado de quase 8 milhões de moradias no Brasil, e a demanda futura de formação de mais 27 milhões de novas famílias até 2023, o país enxerga a urgência em criar condições mais favoráveis de habitação para a população de baixa renda. O dado dá conta de pessoas que moram em situação de coabitação, sem nenhuma infra-estrutura, não têm como garantir financiamento da casa própria, ou que o aluguel representa mais de 30% do salário. Por isso, governos federal, estaduais e municipais já começam a trabalhar em propostas para um plano global para a área, com foco na habitação de interesse social. Associações, empresas, entidades de classe e outros órgãos desenvolvem projetos alternativos às obras de alvenaria comum, para baratear e otimizar o tempo de construção das casas voltadas para esse segmento social, aliando tecnologia e sustentabilidade, em iniciativas que já integram os programas governamentais nesse sentido. Blocos modulares de concreto, cerâmica, ou de aço são usados como matéria-prima em técnicas ainda pouco difundidas, mas que se consolidam como boas opções para o problema da moradia. A Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) desenvolveu a casa 1.0, construída em alvenaria modular de blocos de concreto, com paredes paginadas e auto-portantes, batizada assim em alusão ao carro popular, pelo baixo custo e a rapidez na conclusão das obras, como explica gerente regional da ABCP, Lincoln Raydan. “Os blocos são vazados internamente. Então, as paredes são erguidas já com a tubulação de água, esgoto, a fiação elétrica, de telefone, e com esquadrias metálicas que montam as portas e janelas”, diz, frisando o processo racional, sem quebra da alvenaria, e por isso sem desperdício e resíduos, de maneira ecologicamente correta. Em terrenos já urbanizados, o custo desta casa fica em cerca de R$ 10 mil, com a preocupação de serem instaladas em bairros que ofereçam toda a estrutura necessária para as famílias menos favorecidas. “Também fazemos capacitação da mão-de-obra e dos fabricantes dos blocos”, ressalta Lincoln. A casa 1.0 tem em média 37 metros quadrados, dois quartos, sala, cozinha, banheiro, área de serviço e circulação, e está presente em mais de 60 municípios mineiros com 2,6 mil unidades construídas. “Agora, substituímos os blocos de 11,5 cm para os de 9 cm, porque estes têm maior oferta no mercado do interior”, completa o gerente da ABCP. O projeto foi apresentado pela primeira vez em 2003, durante o Minas Solidária, depois do episódio das enchentes que acabaram com as moradias de muitas famílias no interior do estado. Atualmente, o programa Lares Geraes, do governo do Estado por meio da Companhia de Habitação de Minas Gerais (COHAB-MG), conta com aproximadamente mil unidades deste modelo. O programa já entregou 12.856 casas em 138 municípios na primeira etapa (2005-2008), e vai construir mais 40 mil até 2010, como lembra o presidente da entidade, Teodoro Lamounier. “O mutuário com até três salários mínimos paga cerca de 50% do valor da casa, em 20 anos, com abatimento de até 25% dos juros para quem faz a quitação das prestações em dia. São lotes de 200 metros quadrados, que permitem ampliação da moradias, em parcelas mensais variando entre os R$ 80”, explica Teodoro, frente à situação de 93% das famílias que compõem o déficit de 700 mil casas em Minas vivendo com até três salários e que o aluguel não pode ultrapassar 20% da renda. A versão de moradia de baixo custo do Sindicato das Indústrias de Cerâmicas para Construção e Olaria de Minas Gerais (Sindicer-MG) utiliza blocos estruturais de cerâmica que substituem os tijolos comum e permitem economia de 30% no valor da obra, apesar do custo do bloco ser um pouco mais alto (R$ 0,70 frente R$ 0,35). “O processo elimina fôrmas. O bloco já tem as canaletas para as tubulações e fiações, que torna a obra mais racional”, explica o presidente do Sindicer, Ralph Perrupato. Com 49 metros quadrados, copa, cozinha e sala integradas, dois quartos, área externa e varanda e valor entre R$ 30 mil, a construção também permite maior isolamento térmico e acústico, por causa da camada mais espessa de cerâmica, e chegou a ser montada em dois dias por uma equipe de dez homens. O pólo de Igaratinga concentra um pouco da produção desses blocos, que também são ecológicos, de acordo com Perrupato. “Usamos resíduos de outras atividades, como o pó de balão da siderurgia, o pó de pedra das pedras ornamentais e o lodo das estações de tratamento de água para fazer a massa da cerâmica. Como combustível para a queima aproveitamos madeira de pallets e resíduos das indústrias de madeira e celulose, a biomassa”. A distribuidora de aço Metal Company Brasil, empresa do Grupo BMG, desenvolveu um Projeto Habitacional utilizando a tecnologia Steel Frame, que utiliza perfis estruturais de aço galvanizado e vedações externas em placa cimentícia e internas em gesso acartonado, com tratamento térmico e acústico em lã de vidro. Os perfis, além da função estrutural, possuem furação que permite a pronta instalação das redes hidráulicas e elétricas. Para o modelo popular, a proposta é uma casa de 42 metros quadrados, com dois quartos, sala, cozinha, banheiro e área externa com paredes laterais cegas que permitem ampliação ou geminação. “Ela é montada como peças de um lego, já dimensionadas e paginadas sem sobra de material, reduzindo o tempo de execução em até 40% quando comparadas com o sistema convencional de edificação e apresentando custo inferior a R$ 700 o metro quadrado”, explica o gerente de operações da empresa, Frederico Mazzoni, sobre o projeto, cujo sistema construtivo é aprovado pela Caixa Econômica Federal. CONQUISTA Com renda de R$ 165 por programas sociais, a dona-de-casa Maria Marcira Prado, de 41 anos, orgulha-se de ter conseguido a casa própria. Com quatro filhos e depois de superar episódios de violência, vive desde agosto em uma casa de 37 metros quadrados, dois quartos, sala, cozinha, banheiro e área de serviço no Conjunto Habitacional Paulo Gaetani, em Nova Lima, do programa Lares Geraes. Por enquanto desempregada, conta com a ajuda do filho mais velho para pagar as prestações mensais de R$ 59 (recebe desconto porque paga sempre em dia), R$ 32 da conta de luz, R$ 16 da água e R$ 38 do gás. “Quando recebia R$ 400, pagava R$ 250 só de aluguel, depois que separei do meu marido e saí da casa da minha mãe. Não tinha onde ficar com meus filhos, então entrei para o programa de moradia do estado, de quem recebi a chave desta casa em mãos. Aqui eu estou no meu lugar, tem água tratada, rede de esgoto, coleta de lixo, e ninguém vem me cobrar o aluguel atrasado”, conta. Ela alegra-se depois de ter trocado o piso da casa e diz que vai murar o terreno de 224 metros quadrados. “Quando arrumar um emprego, também vou ampliar”. O tratorista Wagner de Souza Silva, de 25 anos, mora há pouco mais de um ano com a esposa em uma casa 1.0, no Conjunto Habitacional Bela Vista, em Pedra do Indaiá, também do programa Lares Geraes, onde estão outras 39 moradias construídas com esse conceito. Depois de pagar aluguel e viver de favor em uma fazenda, fica satisfeito em falar do lar de 35 metros quadrados, dois quartos, sala, cozinha e banheiro, pelo qual já quitou 18 prestações de R$ 50. “É muito bom. Morar com outros é a pior coisa, não tinha um lugar fixo. Agora, não tenho mais preocupação com aluguel”, conta, ele que está pretendendo ter filhos e ampliar a casa, assim que estiver em melhores condições financeiras.