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Momento de cautela

Crise mundial ainda não afeta mercado imobiliário no Brasil, mas empresários estão atentos Elian Guimarães Caiu como uma bomba na comunidade brasileira a crise no setor imobiliário dos Estados Unidos. Estima-se que 1 milhão de brasileiros vivam em terras norte-americanas, legal e ilegalmente. Desses, 300 mil em Massachusetts. De acordo com o Centro do Imigrante Brasileiro daquele estado, pelo menos 25 mil pagam hipoteca. Muitos, sem condições de quitar a dívida, simplesmente fecharam suas casas e retornaram ao Brasil. Aqui a situação ainda é de cautela, mas otimista quanto aos reflexos da crise no mercado local. As diferenças de crédito e de garantia entre os dois países são amplas, explica Ariano Cavalcanti de Paula, presidente do Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (Secovi-MG): “A crise norte-americana tem causas muito particulares, com a negociação de créditos podres, o que não existe no Brasil”. O volume de crédito nos Estados Unidos é infinitamente maior que o brasileiro. A última política habitacional significativa em terras brasileiras foi há mais de 20 anos, com o extinto Banco Nacional de Habitação (BNH), que, segundo o presidente do Secovi, causou estragos tão grandes que o país passou duas décadas sem qualquer política de vulto para o setor. Mesmo mostrando-se otimistas, tanto Ariano quanto o presidente em exercício do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis de Minas Gerais (Creci-MG), Paulo Tavares, recomendam cautela nesse momento e reconhecem que uma crise na maior economia do planeta traz reflexos a todos os setores macroeconômicos. De acordo com Virgínia Duailib, vice-presidente da Associação Brasileira dos Mercados Imobiliários (ABMI), todos estão preocupados e ainda não se chegou a uma conclusão quanto à extensão da crise: “É de impressionar o grande número de empresas do ramo imobiliário que abriram capital na bolsa. Chega a 21”. De olho nas oportunidades Empresários acreditam que os investimentos serão direcionados para imóveis, diante da crise no mercado financeiro internacional. Custo do terreno deve se estabilizar Elian Guimarães O momento é de parar, refletir e tomar decisões acertadas, ensina o diretor de incorporações da Lider Cyrela Incorporadora, Dennyson Porto: “Nossa diretriz é que todos os negócios continuem funcionando”. A crise, segundo Porto, é um momento também de oportunidades para bons negócios. Os clientes posicionados nas bolsas se dividem em duas categorias: os que querem reduzir os prejuízos e ficam quietos esperando melhores dias e os que querem sair de imediato. O imóvel é o setor mais positivo, pois não se desvaloriza, segundo o diretor da Lider. “É um bem de raiz, ninguém tira e não é volátil ao mercado de capitais.” Porto reconhece que deve haver acomodação do mercado, uma vez que a pressão era intensa com a entrada de empreendedores no mercado mineiro. O custo dos terrenos, com a busca elevada, agora tende a se estabilizar. Ele acredita que, em curto e médio prazos, os terrenos poderão ser comercializados por meio de permuta, mais que dinheiro, como já ocorre no Rio de Janeiro e em São Paulo. A Lider Cyrela já cumpriu as metas de aquisição de terrenos para 2008 e, a partir de agora, as novas aquisições seguirão maior cautela: “Mas, caso haja diminuição do crédito, isso deve afetar pouco para o consumidor de média e baixa rendas, cuja demanda está ainda muito reprimida”. Porto acha que o pacote americano, uma vez aprovado, restabelecerá o equilíbrio do mercado FINANCIAMENTO O Brasil passou duas décadas sem qualquer política habitacional, conforme Ariano Cavalcanti, presidente do Secovi. Pela primeira vez, nesses 20 anos, o mercado conseguiu em 2006 financiar mais de 100 mil unidades. Esse número foi atingido pela última vez em 1998, o que prova que o volume ainda é pequeno, mesmo com o aumento de mais de 300% nos últimos três anos no volume de financiamento. Ariano Cavalcanti duvida que o que aconteceu nos Estados Unidos se repita no Brasil: “As situações e números são muito diferentes. As perspectivas mostram potencial para crescer, mesmo se for a taxas menores”. Para o consumidor ele recomenda “reflexão”, porque o mercado, quando extrapola muito, pode voltar com efeitos negativos para todos os atores. “Por isso, é importante aproveitar esses momentos e acumular forças para retomar o vigor.” A reprovação do pacote do governo no Congresso norte-americano surpreendeu a todos, reconhece o presidente em exercício do Creci-MG, Paulo Tavares, mas as coisas por lá são ágeis e ele não acredita em reflexos no Brasil: “Os Estados Unidos não querem uma recessão de tamanha envergadura. Se não houver salvação do sistema financeiro, as conseqüências serão piores”. A segurança do mercado imobiliário brasileiro é destacada por Paulo Tavares, uma vez que, diferentemente dos norte-americanos, quem tiver um protesto não consegue comprar imóvel financiado. “Estamos recebendo sinais que apontam para cuidados. É um momento de compra de ações. A euforia, principalmente na área de terrenos, já passou.” A maranhense Virgínia Duailib, vice-presidente da ABMI, se mostra muito preocupada, mas otimista. Para ela, as conseqüências podem ser as de crédito mais caro e mais restrito: “Muitos empreendedores saíram do Sudeste para o Nordeste. Aqui no Maranhão houve uma explosão. Todos queriam adquirir áreas estratégicas, os terrenos adquiriram valores acima do mercado e as construtoras acabaram ficando com pouco dinheiro em caixa. Em Natal, a situação é a mesma. O que há de mais concreto é a relação de financiamento e como ficará a longo prazo”. A maior preocupação, entretanto, é em relação à credibilidade do mercado, que pode afetar todos os setores.