Nos últimos anos temos vivido momentos distintos na economia brasileira. Após a estabilização da economia com o Plano Real, o brasileiro pode, enfim, estruturar sua rotina financeira e planejar investimentos de longo prazo. Na Construção, setor que pode ser considerado um termômetro do momento econômico de um país, importantes transformações ocorreram e entendê-las pode tornar mais claro o momento que vivemos hoje. Até o final da década de 1990, a conjuntura econômica adversa e de baixo incentivo à Indústria de Construção fez com que o setor operasse muito aquém do seu potencial, mesmo havendo uma demanda latente por moradias. De acordo com os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 1980 e 1989, a Construção cresceu a uma média anual de 0,6%. Na década seguinte, a taxa média foi de 0,7%. Um desempenho pífio frente às possibilidades de expansão. A partir de 2004, com a Lei 10.931/2004, um verdadeiro marco regulatório para o setor, estabeleceu-se um novo parâmetro de regulação nos negócios imobiliários, conferindo uma maior segurança jurídica e incentivando o investimento. A referida lei, entre outras coisas, consolidou a alienação fiduciária em contratos de financiamento de imóveis. Essa mudança, aliada ao aquecimento da economia, fez com que as empresas do setor, enfim, encontrassem condições de viabilizar a reconstrução do Brasil. De 2000 a 2009, a taxa de crescimento média do PIB da Construção foi de 1,9%. Mais recentemente, o ritmo do setor se acentuou, chegando à média de 5,5% entre 2010 e 2012. A maior demanda por imóveis foi consequência da abertura do mercado para o crédito imobiliário, possibilitando um ajuste nos preços, que estavam defasados. Assim, a recente valorização das unidades, tida por alguns como indício de bolha, é reflexo do aumento nos custos dos insumos, da mão de obra e dos preços dos terrenos. Contudo, nesse período recente também ocorreu o aumento da renda em todas as classes sociais, gerando um círculo virtuoso de desenvolvimento, potencializado pelo Programa Minha Casa Minha Vida. Além de moradias, o projeto tem fomentado a criação de novos bairros que contemplam comércio e serviços. Por isso, vejo bases sólidas para um crescimento sustentável da Indústria da Construção nos próximos anos. Diferentemente dos Estados Unidos, onde os bancos concediam, indiscriminadamente, empréstimos a pessoas já endividadas e desempregadas até a crise de 2008, o acesso ao crédito no Brasil é mais criterioso. Nos contratos de financiamento no Brasil, a cota média de liberação de valores é de 75% do valor do imóvel. Nos EUA, eram liberados valores maiores que 110% do patrimônio a ser adquirido. Também era aceito um mesmo imóvel ser dado como garantia para dois contratos de crédito. O resultado foi a incapacidade de pagamento dos devedores e o estouro da bolha. No Brasil, de acordo com o Relatório de Estabilidade Econômica do Banco Central, em junho, os devedores com mais de um financiamento imobiliário representavam apenas 2% dos contratos. Outro dado importante, a inadimplência no crédito imobiliário à pessoa física estava na casa de 2%, somente acima do financiamento rural (1,2%), tido como investimento, e abaixo da taxa de inadimplência dos desembolsos concedidos para a aquisição de veículos (6,1%), do crédito sem consignação (7,6%) e até mesmo do crédito consignado (2,7%). Outros dados ainda podem ser citados para afastar a hipótese de bolha imobiliária no mercado brasileiro de forma geral e vou abordá-los futuramente. Contudo, reafirmo que o desenvolvimento da Construção seguirá bem equacionado nos próximos anos. *Jorge Luiz Oliveira de Almeida é vice-presidente de Comunicação do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG). **Publicado em 24/11/2013 no jornal Estado de Minas – BH (Lugar Certo)