No âmbito da atual conjuntura macroeconômica, vários indicadores demonstram os reflexos do desajuste na Construção Civil. A queda do Produto Interno Bruto setorial, a redução do faturamento da indústria de materiais de construção, a desaceleração da produção de insumos típicos para o setor, como cimento e artefatos de concreto, a redução do ritmo de atividades apurada pelas sondagens e a confiança dos empresários em baixa revelam o cenário desafiador. Mas os números que mais preocupam vêm do mercado de trabalho. De acordo com informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), divulgados mensalmente pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), somente nos primeiros cinco meses do ano, a Construção perdeu 108.573 vagas com carteira assinada em todo o País, levando a uma queda de 3,54% no número de empregados. Nesse período, as admissões somaram 950.027 vagas, enquanto as demissões alcançaram 1.058.600 postos de trabalho. As demissões estão superando as contratações no setor há oito meses consecutivos. De outubro/14 a maio/15, considerando a série com os dados ajustados, o saldo foi negativo em 330.464 vagas, fazendo com que o número de trabalhadores com carteira assinada na Construção voltasse aos patamares de 2011. O quadro ainda pode piorar se o setor perder o benefício da desoneração da folha de pagamentos, como está sendo proposto. Certamente este é um cenário desalentador, pois demonstra que em um momento onde o Brasil precisa criar condições de andar para frente, segmentos estratégicos estão voltando para trás. Os resultados para Minas Gerais e Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) não são diferentes. No estado o número de vagas perdidas de janeiro a maio foi 13.791 enquanto, neste período, a queda observada no segmento na RMBH alcançou 7.718 postos de trabalho. Num momento em que o País busca uma agenda positiva para o seu desenvolvimento, deve olhar com atenção para os setores estratégicos do ponto de vista socioeconômico e intensivos de mão de obra, como a Construção Civil. O segmento padece com a redução do investimento, com a queda da demanda, com as dificuldades de obtenção de crédito imobiliário e também com os atrasos de pagamentos do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV). Neste contexto, espera-se agilidade na implantação do recente plano de concessões lançado pelo Governo Federal, o que pode alavancar os investimentos. Também se espera que o prometido anúncio da terceira fase do Programa Minha Casa, Minha Vida, saia do discurso e seja efetivamente implementado. Isso significa que é preciso estabelecer um horizonte para a economia nacional, onde o caminho seja pavimentado com ações que permitam o retorno da confiança dos agentes econômicos, o que poderá favorecer a produção e recuperar a demanda. Como vem fazendo ao longo de décadas, a Construção pode muito ajudar o País a reverter o ambiente de letargia da economia. Em função da sua extensa cadeia produtiva, e dos seus efeitos multiplicadores, tanto sociais quanto econômicos, o setor não pode continuar com as suas atividades aquém do nível necessário ao desenvolvimento nacional. Daniel Furletti: Economista e coordenador sindical do Sinduscon-MG. Ieda Maria Pereira Vasconcelos: Economista e assessora econômica do Sinduscon-MG. Publicado em 09/07/2015, no caderno Opinião, do jornal Estado de Minas – BH