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O peso da mão-de-obra

Estudo mostra que custo com contratação de funcionário na construção é de 132,45% em média Humberto Siqueira Ao definir o valor de um imóvel, o construtor precisa levar em consideração uma série de fatores, entre eles o custo da mão-de-obra. Um estudo da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), com apoio do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), muniu os empresários do setor da exata noção dos gastos com a contratação de um operário. Em função dos encargos previdenciários e trabalhistas que incidem sobre o segmento, o custo médio é de 132,45%. Isso significa dizer que um funcionário com salário de R$ 1 mil, na verdade custa à empresa R$ 2.324,50. Os dados foram divulgados durante o 80º Encontro Nacional da Indústria da Construção (80º Enic) e reforçou a reivindicação do setor por uma reforma trabalhista. Eduardo Henrique Moreira, proprietário da Engeclam Engenharia Ltda, diz que as pequenas empresas sofrem mais. “Quando informo ao cliente que a mão-de-obra custa R$ 5 mil, mas é preciso pagar R$ 11.622,50 ele reclama muito. Acha que estamos roubando. Mas esse é o custo para se trabalhar legalmente. Isso acaba gerando a informalidade”, lamenta. De acordo com o coordenador do Banco de Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), economista Daniel Ítalo Richard Furletti, essa é uma média que depende de inúmeras variáveis, mas serve de orientação. “É preciso muito cuidado na utilização do resultado apresentado, pois trata-se de uma média no país que considera apenas os encargos previdenciários e trabalhistas previstos em lei. Esse valor pode flutuar de acordo com a rotatividade de funcionários, acidentes de trabalho, benefícios oferecidos pela empresa e aqueles obrigatórios determinados pela convenção coletiva”, ressaltou. Os benefícios mais comuns previstos nas convenções coletivas de trabalho locais são café-da-manhã, cesta básica, vale-transporte, equipamento de proteção individual, seguro de vida em grupo, uniforme e outras variáveis, como periculosidade, insalubridade e custos advindos dos programas de saúde e segurança previstos nas Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Estas despesas não foram consideradas, o que pode ensejar um resultado superior ou até mesmo inferior ao número apresentado. O caso de Minas Gerais, também apresentado no evento, exemplifica isso. No estado, os encargos trabalhistas e previdenciários na construção civil chegam a 199,04%. Praticamente, duas vezes o valor do salário pago. A previdência e o aviso prévio indenizado (20%), repouso semanal (17,64%) e 13º salários são os itens que mais influenciam nesta conta. Com os números em mãos Estatísticas referentes ao custo da mão-de-obra na construção civil serão atualizadas periodicamente para munir empresários na tomada de decisões e no planejamento de obras O economista Daniel Ítalo Richard Furletti, coordenador do Banco de Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), destacou que a metodologia aplicada no estudo divulgado no 80º Encontro Nacional da Indústria da Construção (80º Enic) prevê a atualização periódica das estatísticas e essas estão sujeitas a revisões em função de mudanças na legislação. “Com esses números em mãos, o empresário fica melhor munido de informações para participar de licitações, precificar produtos, planejar bem como elaborar orçamentos.” Para ele, o estudo também deixa claro a necessidade de reforma trabalhista, previdenciária e tributária. “É um setor que gera e distribui renda para milhões. É estratégico. Não poderia ser tão oneroso. Ao inverter essa tendência, teríamos produtos com preço final melhor e facilitaríamos o acesso da população de baixa renda à casa própria”, exemplifica Daniel Furletti. Para o gerente administrativo da Mascarenhas Barbosa Roscoe Construções, Luiz Alexandre Monteiro Pires, os altos custos dificultam as contratações. “Precisamos pensar duas vezes. Ainda mais com essa crise na economia. A análise fica mais criteriosa. Se poderíamos contratar 100 pessoas para um empreendimento, acabamos eliminando 20 vagas. O protecionismo é muito grande.” Mesmo com os custos já citados, os empresários ainda precisam patrocinar a capacitação e treinamento da mão-de-obra. “É mais um custo do qual o empresário não tem como fugir. Pagamos impostos para manter instituições educacionais do governo que deveriam fazer essa função, mas não fazem. Então, precisamos assumir esse papel porque o trabalhador sem conhecimento dá prejuízo. Desperdiça material e erra nos procedimentos, gerando retrabalho”, afirma Eduardo. “Quando vejo incentivos como os dados à Mercedes-Benz de Juiz de Fora, fico incrédulo. Afinal, não chega nem perto de gerar o número de postos de trabalho e impostos da construção civil.” MATERIAIS O Custo Unitário Básico de Construção (CUB/m²) também registrou alta em setembro e encareceu o custo final dos imóveis. Teve alta de 0,81% em comparação a agosto, impulsionada principalmente por aumento do aço. Dos quatro grupos componentes do indicador, o material foi o único que aumentou (1,69%), enquanto a mão-de-obra e aluguel de equipamento permaneceram estáveis e as despesas administrativas registraram queda de 1,28%. Com esse resultado, o custo do metro quadrado da construção em Belo Horizonte, para o projeto-padrão R8-N (residência multifamiliar, padrão normal, com garagem, pilotis, oito pavimentos-tipo e três quartos), que em agosto era R$ 783,59 passou para R$ 789,96 em setembro. Daniel Furletti chama a atenção para as contínuas altas registradas no custo com material de construção. “Em setembro, o incremento observado no custo com material foi de 1,69% ficando, portanto, inferior ao registrado em agosto, que foi de 2,96%. Embora sinalize menor incremento nos preços dos materiais, não podemos deixar de destacar que esta foi a quinta alta consecutiva, acima de 1,5%, registrada nesse tipo de custo.” O economista ressalta que continua chamando a atenção o aumento no preço do aço CA 50 10 mm. “Neste mês, o preço do insumo cresceu 6,01%, acumulando alta de 57,01% nos primeiros nove meses do ano, e 61,91% nos últimos 12 meses. Aumentos como esse sempre preocupam o setor, principalmente no aço, que tem peso significativo na composição de custos. Além disso, deve-se destacar que os índices de inflação não sinalizam esta realidade. Portanto, estas altas estão na contramão da economia e do desenvolvimento do país”, enfatiza. De janeiro a setembro, o CUB/m² aumentou 9,16%, enquanto o custo com material registrou alta de 14,10% e o custo com a mão-de-obra cresceu 3,91%. Nos últimos 12 meses aumentou 15,12%, enquanto o custo com material registrou alta de 18,13% e o custo com a mão-de-obra cresceu 12,02%.