Tratar resíduos é atitude que garante economia e contribui para preservar o meio ambiente Quem planeja construir ou reformar sua casa deve tomar medidas para que um mínimo de entulho seja gerado durante a obra e ainda para o correto descarte dos resíduos que não puderem ser evitados. Dados da Secretaria Nacional de Saneamento do Ministério das Cidades apontam que a construção civil é responsável por 61% de todo o lixo gerado nas cidades brasileiras. “Em Belo Horizonte, 70% dos resíduos produzidos pela construção civil vêm das pequenas obras, realizadas de maneira informal e sem orientação técnica”, diz o diretor de Meio Ambiente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Geraldo Jardim Linhares Júnior. Para a arquiteta e engenheira Maeli Estrela, instrutora dos cursos de gerenciamento de resíduos sólidos do Instituto de Educação Tecnológica (Ietec), quatro diretrizes básicas devem orientar o planejamento de uma obra para que ela atenda os preceitos da construção sustentável – a redução da geração de resíduos, o reuso do entulho gerado, a correta destinação do material não reaproveitado no canteiro e a reciclagem máxima daquilo que for encaminhado aos aterros. “Precisamos fazer uma mudança de paradigma no Brasil. Substituir a construção tradicional, com suas técnicas artesanais, pela construção sustentável, que gera economia a quem constrói e contribui para a preservação do meio ambiente.” A economia, explica a especialista, está justamente na redução do uso de materiais e no reaproveitamento de parte do entulho gerado na própria obra, finalidades que devem nortear a construção e a reforma, desde a concepção do projeto. A contribuição ao meio ambiente se dá com menor demanda da exploração dos recursos naturais para a fabricação de produtos necessários à construção – já que o seu uso correto, o seu reaproveitamento e a sua reciclagem diminuem o consumo de novos materiais – e com um menor volume de lixo descartado na natureza. “Isso, sem falar dos ganhos econômicos e sociais para o país, porque o lixo ganha valor a partir da reciclagem, com a geração de renda para as famílias que se ocupam da atividade”, destaca Maeli Estrela. Centros de recepção garantem descarte “Belo Horizonte é a capital brasileira com melhor estrutura pública para o recebimento e reciclagem de resíduos sólidos”, considera o diretor de Meio Ambiente do Sinduscon-MG, Geraldo Jardim Linhares Júnior. A arquiteta e engenheira Maeli Estrela informa que para as obras que geram até dois metros cúbicos de resíduos o município tem 29 unidades de recebimento de pequenos volumes, espalhadas nas nove regionais da cidade, que encaminham o material reaproveitável para uma das três estações de reciclagem de entulho instaladas na capital. Para o pequeno gerador que quer encaminhar o entulho de sua obra a uma das unidades receptoras, observa Maeli Estrela, a Prefeitura de Belo Horizonte mantém ainda o serviço conhecido como Disque Carroça, que deve ser acionado pelo telefone 3277-8270. “É uma central que aciona carroceiros previamente cadastrados pelo município para fazer o transporte do material”, explica. O preço do serviço é combinado entre o cliente e o prestador do serviço e depende do volume de resíduos que será transportado, da distância entre a obra e a unidade receptora mais próxima, e do número de viagens que serão feitas. Maeli Estrela considera que o uso do serviço garante não só a destinação correta dos resíduos, mas também que o transporte será feito de acordo com as normas sanitárias e de trânsito. “Todos os carroceiros cadastrados são habilitados e recebem treinamento prévio para a função. As carroças são emplacadas, o condutor deve seguir as regras de trânsito e os animais que fazem a tração são examinados regularmente por veterinários, para se evitarem maus-tratos e o uso do trabalho daqueles que estão doentes”, acrescenta Geraldo Jardim Linhares Júnior. O material enviado pelas unidades receptoras às estações de reciclagem, observa o diretor de Meio Ambiente do Sinduscon-MG, é reaproveitado para diversos fins. Entre eles, a fabricação de ecoblocos, para uso na construção de moradias populares, e como base para a pavimentação das vias da cidade. Para aprovar as obras que geram mais de dois metros cúbicos por dia de entulho, informa Maeli Estrela, o município exige um plano integrado de gerenciamento, que deve conter todos os detalhes do processo que será aplicado para o tratamento dos resíduos. “O responsável pela obra deve caracterizar no plano todas as etapas do processo: geração, triagem, acondicionamento, reuso e destinação dos resíduos”, acrescenta. Redução do desperdício deve nortear projeto A preocupação com a redução da produção de resíduos em uma obra deve começar já na concepção dos projetos. “Contratar um profissional para o desenvolvimento do projeto é fundamental para que haja o aproveitamento máximo da arquitetura já existente, no caso de uma reforma, e para a especificação de materiais adequados e em quantidade precisa em qualquer tipo de obra”, diz o arquiteto Marcos Nobre. Maeli Estrela observa que uma diretriz básica do projeto deve ser uma modulação que evite o desperdício de revestimentos. Ela explica que as peças escolhidas precisam manter uma proporcionalidade com a superfície onde serão aplicadas para que não necessitem ser cortadas. “O entulho gerado com o corte de revestimento responde por boa parte dos resíduos produzidos pela construção civil. Por isso, uma modulação eficiente gera economia, com a eliminação do desperdício, e ainda reduz o volume de entulho que será descartado”, garante. A opção por técnicas construtivas industrializadas, observa Marcos Nobre, é outra medida que garante um canteiro de obras limpo. Ele cita o uso de gesso acartonado, o conhecido drywall, em substituição à alvenaria, na execução das paredes. “Além de permitir uma obra limpa, sem entulho, o drywall é flexível, pode ser removido e instalado em outro local, no caso, por exemplo, de os moradores mudarem de casa”, informa. Maeli Estrela lembra ainda dos pré-moldados, que têm a mesma flexibilidade do acartonado de gesso. O uso das argamassas prontas, que não precisam de preparo no canteiro de obra, é outra medida que evita desperdício de materiais e, portanto, a geração de entulho durante a obra. “Há ainda as argamassas e outros tipos de produtos que permitem, numa reforma, que um piso seja sobreposto a outro, sem quebradeira, barulho, e produção de entulho”, assinala. O bom planejamento operacional da obra, com a triagem e o acondicionamento correto dos resíduos no próprio canteiro, também permite a redução do descarte de entulhos. Marcos Nobre afirma que parte dos resíduos gerados em uma fase da obra pode ser usada em outra etapa. Já Jardim Linhares Júnior, diretor de Meio Ambiente do Sinduscon-MG, adverte que a separação dos resíduos facilita o seu encaminhamento às unidades receptoras e a sua reciclagem. (DM)