Joana Gontijo – Lugar Certo Depois do temporal de granizo que atingiu a Grande BH em setembro, especialistas dão dicas de como reparar os estragos, já que ainda tem muita gente em reforma Os fortes ventos e o temporal de granizo que atingiram Belo Horizonte e a região metropolitana no fim de setembro deixaram em situação deplorável as casas de muita gente. No dia 17, a chuva e os estragos causados por pedras de gelo enormes, provocaram uma corrida por materiais como telhas, massa plástica, fita adesiva, lonas, e tudo o que era necessário para consertar os telhados, e, ainda hoje, há quem não conseguiu reparar todos os danos. Neste mês, os depósitos e lojas de construção tiveram seus estoques esgotados, com o dobro ou mais da demanda, o que refletiu na alta do preço das telhas, e os consumidores, por sua vez, apelaram para estratégias não muito convencionais para “remendar” os buracos. Pouco mais de 40 dias depois, engenheiros especialistas da área dão dicas de quais são as opções em telhas e coberturas disponíveis no mercado, prós e contras, e adequações a cada tipo de imóvel. E alertam, mão-de-obra qualificada é fundamental. No dia 19 de setembro, o site de pesquisas Mercado Mineiro realizou levantamento sobre os preços de telhas e lonas nos principais depósitos de materiais de construção na capital. Para a telha de fibrocimento, as variações ficaram na média dos 40%, com preços mínimos entre R$ 8,50 e R$ 12, e máximos entre R$ 24,90 até R$ 36, de acordo com os tamanhos. Para as lonas, solução provisória para muita gente, as diferenças alcançaram 133%. A pesquisa também comparou o preço médio da telha de fibrocimento, do tamanho 2,44m por 0,50m, entre junho e setembro de 2008, encontrando um aumento médio de 20,91%, com preços de R$8,56 para R$ 10,35, respectivamente. E esses valores ainda não voltaram ao normal, garantem muitos consumidores. “Faltou tudo para consertar os telhados. Telhas, lona plástica, fita adesiva à base de manta asfáltica, massa plástica. As pessoas não tiveram como comprar tudo o que precisavam, então foram comprando lona, fita, pedaços de telha para remendar os buracos. Agora é que estão conseguindo colocar as telhas, aos poucos. Se tem poucos furos, dá para consertar, mas com muitos tem que trocar o telhado inteiro”, conta Francisco Ferreira dos Santos, proprietário do Depósito Casa Branca, em Contagem, na época visitado por uma equipe dos Diários Associados. No dia da chuva, em quinze minutos Francisco vendeu 200 unidades de telha de fibrocimento, popularmente conhecida como de amianto, a mais comum no mercado e na maioria das residências atingidas. Do tipo de cerâmica, a demanda normal de 400 telhas mensais, subiu para 5 mil de setembro até hoje, o que fez o estoque esgotar nessa semana, e obrigou Francisco a fazer novos pedidos, com preço final 10% mais alto (de R$ 500 para R$ 550 mil unidades). Ele conta ainda que vendeu quatro rolos de 100 metros de lona em uma hora, quantidade que geralmente seria de três rolos mensais. Em cinco dias, comercializou 30. “Em um mês costumo vender uma caixa de massa plástica. No dia do temporal, vendi cinco, por R$ 4,60 cada. Da fita asfáltica, fiz estoque de dez rolos. E das telhas sintéticas acrílicas, que são mais caras, usadas para dar claridade, fiquei sem em dez dias 30 telhas”. Com os novos pedidos, Francisco comercializou 630 unidades de telhas de amianto em três dias e conta que, agora, as 70 unidades que recebe por vez esgotam em uma semana, ele que viu o movimento aumentar 100% no período. Garantindo que manteve a mesma margem de 30% de lucro, os preços aumentaram em média R$ 2, variando de acordo com o tamanho entre R$ 18 e R$ 28, atualmente, e R$ 17 e R$ 26 no mês anterior aos incidentes. “A indústria teve um aumento de 5% antes da chuva e 5% depois. As distribuidoras grandes, com muito estoque, aumentaram os preços e mesmo assim se formavam filas. Mas eu praticamente não repassei isso”, conta, já que muitos comerciantes, ao contrário, não favoreceram os clientes. A autônoma Silvana Brigolini de Oliveira, de 47 anos, ainda não conseguiu consertar o telhado de sua casa, em Contagem. Morando com a filha, o pai e o irmão, estava sozinha no dia chuva. A maioria das telhas de amianto e telhas ecológicas que revestem o imóvel ficarem totalmente perfuradas e quebradas. “A água está empoçada na laje até hoje. Meu pai e meu irmão tentaram emendar os buracos com pedaços de telha e massa plástica, colocamos lona de caminhão em alguns locais, mas não adiantou muito”, diz, já que, no dia seguinte ao temporal, não conseguiu achar o material e, muito menos, mão de obra para fazer o serviço. “As telhas acabaram logo depois da chuva, e estavam caras, não tínhamos reserva para isso”. Aos poucos, Silvana está arrumando o telhado. Com um amigo, a família já fez o pedido de novas telhas, e o trabalho total, agora com profissional, vai ficar em R$ 5 mil, porque muitos vidros também foram danificados. Mercado oferece diversas opções No Brasil, existe a normatização que orienta a escolha por determinado tipo de telha para cada situação, mas o custo inicial da obra e para o que se destinará a edificação são fatores que direcionam essa opção, como explica o engenheiro civil e vice-presidente da área de Materiais, Tecnologia e Meio Ambiente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Eduardo Henrique Moreira. Ele frisa que a cobertura deve responder a seu objetivo básico: garantir a estanqueidade (capacidade de reter a água) e ter bom desempenho térmico e acústico. “Hoje é possível encontrar uma série de soluções de cobertura para obras de grandes dimensões, como edifícios industriais, galpões, centros de distribuição, edifícios residenciais ou casas”. Dentre todos os tipos de telhas existentes (de alumínio, concreto, cerâmica, fibra de vidro, fibrocimento, galvanizadas, de policabornato, vidro e, mais recentemente, as ecológicas), as mais comuns são as metálicas, de fibrocimento (ou amianto), concreto pré-moldadas, e as feitas de cerâmica. Eduardo explica que o uso de produtos metálicos, que permitem vencer grandes vãos, assim como as telhas de aço galvanizado ou alumínio, que também são ideais para zonas industriais e marítimas pela proteção contra a corrosão, tem conquistado cada vez mais espaço entre os consumidores. O aço se destaca ainda pela resistência à tração e leveza, que possibilita a redução de carga nas estruturas e fundações da edificação, além da execução de telhados com curvaturas. Fazem parte desse grupo as coberturas convencionais onduladas (para estruturas em arco) e trapezoidais (planas), as telhas autoportantes, zipadas e as fabricadas pelo sistema roll-on. Além da galvanização (aplicação de uma camada de zinco), pinturas industriais contribuem com o melhor desempenho térmico destas coberturas, uma vez que as telhas mais claras refletem melhor a luz solar. Já as telhas zipadas são constituídas por painéis metálicos produzidos a partir de bobinas, perfiladas, que podem chegar a 140 metros de comprimento. As roll on também pode ser aplicadas em grandes coberturas, admitindo vãos livres de até 40 metros. “Essas são opções leves, resistentes e duráveis”, salienta o especialista. Mas um dos tipos mais encontrados são as telhas de fibrocimento, em várias formas de coberturas, sejam residenciais, comerciais ou industriais. “Isso por causa da relação custo-benefício proporcionada pelo material. Além de ter preço inferior em relação aos demais materiais disponíveis no mercado, permitem vencer vãos de até sete metros”, diz. Com espessura variável entre seis e oito milímetros, produzidas em perfis que também são capazes de vencer grandes vãos, essas telhas têm em sua constituição 90% de cimento, 8% de amianto e 2% de outros produtos misturados em água, podendo ser aplicadas em fechamentos laterais e receber pintura específica para melhorar o desempenho termoacústico da cobertura. “Alternativas para superar grandes vãos (de até 30 metros) são as coberturas pré-moldadas de concreto protendido. Elas têm elevada resistência mecânica e capacidade de anular a ação do vento pelo peso próprio. Isso contribui para a redução da força de tração nas fundações, permitindo que sejam mais simples”, conta o representante do Sinduscon-MG. Ele ressalta que as telhas de concreto têm grande durabilidade e velocidade de montagem, também garantindo segurança na estanqueidade da cobertura. Com dimensões padronizadas, elas atendem o conforto térmico por seu baixo índice de condutividade e reflexão ao sol. São leves, apresentam baixo índice de absorção de água, elevada durabilidade e resistência mecânica superior, oferecidas em diversas cores. As telhas de cerâmica são as conhecidas coloniais ou francesas, que podem ser planas de encaixe, ou planas de sobreposição, apresentando absorção máxima de 20% de água, impermeabilidade, com bom conforto térmico e muito comum em casas familiares. Relativamente novas no mercado brasileiro são as telhas asfálticas, constituídas por betume e aglomerante hidrófugo (repelente e água). Em sua composição, componentes como fibras de vidro e orgânicas e grânulos minerais podem ser encontrados. “Essas são flexíveis, de fácil instalação (não requer mão-de-obra especializada) e fáceis de transportar, por serem leves”, conta Eduardo. Existem ainda as telhas de cobre, pouco usadas no Brasil pelo alto custo e indicadas para projetos arquitetônicos específicos; as de vidro, leves, duráveis, de baixa manutenção, boa resistência, usada para iluminação natural; as de plástico e policarbonato (derivados) e fibras de vidro, usadas em diversas cores e mais como detalhes na decoração. O engenheiro coordenador do Curso de Especialização em Construção Civil da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Dalmo Lúcio Figueiredo, fala ainda das telhas ecológicas que, apesar de ainda não serem produzidas em escala industrial, revelam a preocupação do setor com a sustentabilidade. “São fibras orgânicas misturadas com aglutinante. Hoje, podem ser feitas até de caixinhas tetra-pak e outros materiais reaproveitáveis”, conta. Dalmo destaca também outros sistemas de impermeabilização, como as mantas asfálticas, colocadas diretamente na cobertura, que levam uma pintura à base de polímeros para criar uma película impermeável. O professor fala ainda das telhas sanduíche, que são telhas de amianto duplas montadas em todos os tamanhos, com lã de vidro e de rocha que dão isolamento térmico, e também demandam soluções acústicas. Mas a principal preocupação nesses casos é o impacto da chuva. “Elas são menos resistentes, e existem as maneiras corretas de montar o telhado, muitas vezes não cumpridas”. Por isso, “é importante que os se contrate profissionais experientes, com qualificação para especificar qual o tipo de cobertura adequada à cada situação, porque isso demanda cálculos dimensionados que consideram, entre outros fatores, o tamanho do vão a ser coberto”, completa Eduardo Moreira.