Apartamentos para a população de renda intermediária ficam até 4,68% mais caros em Belo Horizonte, bem acima da valorização registrada em outras faixas de rendimento Izabela Ferreira Alves Quem quiser comprar apartamento nos bairros de classe média, em Belo Horizonte, vai pagar mais caro. A valorização desses imóveis chegou a 4,68% em abril, na comparação com março. O reajuste ficou bem acima do registrado para a média da capital, de 1,04%. E foi o maior também frente a outras categorias. Nas regiões populares da cidade a alta foi de apenas 1,28%. E nos bairros considerados de alto padrão e de luxo, os aumentos ficaram em 0,59% e em 0,65%, respectivamente. Maior oferta de crédito, prazo dilatado nos financiamentos habitacionais, novas carteiras hipotecárias em bancos privados e redução da burocracia e das exigências para contratação dos empréstimos imobiliários são as justificativas para as altas medidas por estudo da Fundação Ipead. Segundo o levantamento, o maior índice de aumento de preço dos imóveis foi registrado nos bairros onde a maioria dos chefes da casa tem renda média mensal entre R$ 2.075,00 e R$ 3.527,50, ou seja, os voltados para a classe média. A razão está na oferta reduzida. Enquanto foram oferecidas 181 unidades nas regiões com esse perfil econômico, 316 apartamentos estavam à venda em áreas populares, onde os rendimentos das famílias não chegam a cinco salários mínimos mensais. Em regiões de classe alta, com remuneração familiar acima de R$ 3.527,50 mil até R$ 6.017,50, havia 452 imóveis ofertados e em pontos de luxo, nos quais reside a população de maior poder aquisitivo da cidade, as ofertas eram de 557 unidades. Quando o parâmetro são as novas unidades lançadas no mercado, a situação nas áreas de classe média fica ainda pior. Não houve registro de nenhuma nova unidade à venda nesses locais durante o período pesquisado, contra 134 apartamentos de um quarto inaugurados em regiões populares, e 133 de três cômodos, mais 17 coberturas em áreas de moradores com alta renda. O indicador mensal de velocidade de vendas (VV) – percentual que expressa a relação entre o número de imóveis comercializados no mês e a oferta disponível no início do período – também comprova a corrida por apartamentos nos bairros onde o padrão de vida é intermediário. Em 2007, a maior VV apurada demonstrava aquecimento do mercado de luxo, em geral das coberturas, com 35,54% dos imóveis vendidos em 100 lançados. Já neste ano, a maior procura conforme o índice (31,3%) ocorreu entre os apartamentos de R$ 100 mil a R$ 250 mil, faixa de valor que concentra a maior parte das unidades construídas em bairros de classe média. Não por acaso, eles também foram os mais vendidos. Só em abril, na amostra pesquisada, foram comercializadas 209 unidades nessas regiões, 106 naquelas onde predominam moradores de baixa renda, 67 em áreas de perfil econômico alto e 19 nas zonas de luxo. Ainda de acordo com o levantamento, apartamentos de dois quartos em bairros de classe média variam entre R$ 66,3 mil e R$ 120 mil, com preço médio de R$ 95,2 mil. Os de três cômodos, com variação de R$ 93 mil a R$ 175 mil, saem pela média R$ 136,7 mil. O diretor da área imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG) e sócio da Garcia Construções e Participações, Bráulio Franco Garcia, não se assusta com os valores. Ele relaciona o reajuste ao fato da oferta de empreendimentos em bairros tradicionalmente de classe intermediária estar, há até pouco tempo, estagnada. “Essa foi a faixa que mais sentiu a falta de crédito. A classe média, que movimenta os empreendimentos no entorno da Zona Sul, ficou achatada, porque só havia financiamentos voltado à camadas populares e a demanda por imóveis de alto luxo é independente”, justifica. A retração do mercado inverteu-se e as poucas empresas que investiram nos bairros de classe média venderam, rapidamente, seus estoques. Com o aumento da procura por lotes nessas áreas, os terrenos foram valorizados. “O efeito é cascata e o aumento da procura, nos dois últimos anos, também é alimentado pela maior inserção das organizações nesse filão, com o aquecimento da construção civil”, acrescenta a vice-presidente da Câmara do Mercado Imobiliário (CMI), Adriana Magalhães. Melhor deixar a compra para depois “Se for possível, não compre imóveis com esse perfil (para classe média) agora.” O conselho é do vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira. O alerta é válido para quem não havia planejado a aquisição. “Caso seja inevitável, opte pelo financiamento com o menor número de parcelas possível”, recomenda. Ele aponta outro motivo para a alta diferenciada entre os apartamentos nos bairros de classe média da capital. “A procura é maior, porque, apesar de não reconhecerem, os bancos financiam esse público com muito mais facilidade, em função do risco menor”, afirma. Há pouco mais de um ano, quando previram a estabilidade econômica vivida hoje – sem o aumento da inflação nessa projeção – Banco do Brasil, Bradesco, ABN Amro Bank, HSBC, Santander e Itaú investiram de forma agressiva em concessão de crédito imobiliário. “Os financiamentos, a taxas de 25% ao ano mais TR chegaram a até 9%. Se antes o empréstimo cobria, no máximo, 30% do valor das unidades, hoje atinge de 80% a 100% do montante total”, destaca Oliveira. Na Céu-lar Imóveis é comum os clientes optarem pela venda casada. “A diferença entre a casa nova e a atual é financiada”, diz Adriana Magalhães, da CMI. Tanto ela quanto o representante do Sinduscon, Bráulio Garcia, não acreditam em equilíbrio entre oferta e demanda em menos de dois anos. As construtoras já se movimentam, mas o tempo de maturação dos negócios exige paciência dos compradores potenciais. Do lote vago à entrega das chaves, o intervalo pode ser de até três anos. Há 10 meses a dona-de-casa Rosilane Assis, de 47 anos, enfrenta a via-crúcis nas imobiliárias. Agora ela se apegou ainda mais a São Judas Tadeu, de quem é devota, e está firme na novena em homenagem a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. “Esses apartamentos estão igual ouro, se o interessado não correr e fechar a compra perde mesmo”, garante. (IFA)