Empresas mineiras sondadas. As siderúrgicas e as concreteiras começaram a “medir o pulso” do setor da construção civil em relação à diminuição da produtividade nos próximos meses, decorrente da escassez de recursos devida à crise no mercado financeiro internacional. Conforme informações do diretor da Área de Materiais e Tecnologia do Sindicato da Indústria da Construção no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Cantídio Alvim Drumond, as fornecedoras dos insumos começaram a realizar pesquisas com as empresas, sondando as perspectivas. “Vai ter gente apertada financeiramente, isso é certo. As sondagens das concreteiras e das siderúrgicas sinalizam que as empresas estão preocupadas com os volumes investidos para ampliar a produção e querem garantias de que as construtoras irão demandar”, disse. Já seria certa a retração de lançamentos no setor devido à elevação dos preços de produtos básicos, como aço e cimento, nos últimos meses, conforme Drumond. São problemas antigos, que se somados ao receio decorrente das turbulências externas poderão refletir em séria desaceleração da cadeia produtiva no ano que vem. Para ele, o boom do setor estava “fora da realidade”, sobretudo na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). “O crescimento repentino e fortemente acelerado do mercado gerou a falta de mão-de-obra que vivemos hoje, a escassez de insumos básicos e a redução da qualidade dos empreendimentos”, alertou. A desaceleração da indústria da construção nacional já era esperada em 2009, conforme o diretor do Sinduscon-MG. Porém, não nos moldes atuais, com a crise abatendo o crédito no mercado. Segundo Drumond, ficou mais difícil viabilizar empreendimentos com os problemas citados. “De certa forma, a crise trará uma readequação ao setor, fora do deslumbramento anterior”, disse. Haverá a revisão de projetos, além de as empresas já sentirem a falta de recursos até mesmo para capital de giro. Por outro lado, a maioria das construtoras mineiras está capitalizada, com recursos próprios decorrentes das vendas inéditas dos dois últimos anos. “Já as que abriram capital e investiram pesadamente em aquisição de terrenos provavelmente estão sem caixa para bancar obras”, afirmou. Para ele, a construção civil deveria crescer em média 5% ao ano, e não os 8% a 10% esperados pelo setor em 2008. MARX FERNANDES Obras públicas alavancam produção de asfalto A produção e a distribuição de asfalto estão em expansão em 2008. Os investimentos públicos, principalmente os motivados pelas eleições municipais deste ano, alavancam o setor, de acordo com o presidente da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Asfalto (Abeda), Eder Vianna. Na Refinaria Gabriel Passos (Regap), controlada pela Petrobras, instalada em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), o processamento do produto aumentou 15,7% no acumulado de janeiro a agosto de 2008 em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados de produção são da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). Nos oito primeiros meses deste ano foram produzidos na Regap 253,5 mil metros cúbicos de asfalto. Entre janeiro e agosto de 2007 o resultado foi 219 mil metros cúbicos. Segundo o presidente da Abeda, o cenário é sazonal, pois em períodos eleitorais é registrado um incremento no consumo do produto. Para se ter uma idéia, em todo o país as retiradas de asfalto foram da ordem de 260,3 mil toneladas. Isto representa um crescimento de 58,45% na comparação com igual período do ano passado. Além do pleito municipal, o incremento no consumo em Minas Gerais também é atribuído aos aportes do governo estadual na recuperação e implantação de rodovias. “Nos últimos anos, a administração vem investindo pesado em pavimentação”, afirmou. O Programa de Pavimentação de Ligações e Acessos Rodoviários aos Municípios (ProAcesso), por exemplo, deverá contar com investimentos da ordem de R$ 2,8 bilhões até 2010. Desde 2003 o governo mineiro já investiu R$ 932 milhões no projeto. Já o Programa de Recuperação e Manutenção Rodoviária de Minas Gerais (Pro-MG) deverá contar com inversões de R$ 221 milhões este ano. A intenção do governo estadual é aplicar R$ 1,3 bilhão no programa nos próximos quatro anos. Outro fator que resulta em crescimento do mercado de asfalto é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. “Algumas obras foram iniciadas este ano em todo o país, o que contribuiu para os resultados positivos”, disse. Apesar disso, a crise no sistema financeiro internacional preocupa. “O setor está na expectativa se haverá cortes nos investimentos públicos em 2009”, informou. RAFAEL TOMAZ Governo ajudará empresas, mas sem proteger Nova Délhi – O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse que o governo não deixará desamparadas as empresas brasileiras que estão enfrentando problemas de caixa por terem aplicado no mercado de câmbio, mas também não as protegerá. “O governo não vai deixar ninguém desassistido, mas também não passará a mão na cabeça de ninguém”, disse. O assessor confirmou que as informações disponíveis são de que cerca de 200 empresas brasileiras foram afetadas por operações com derivativos de câmbio. Sobre a existência de bancos na lista das instituições com problemas de caixa, Marco Aurélio assegurou: “Banco, não tem nenhum.” Marco Aurélio avisou ainda que as eventuais medidas para ajudar as empresas em dificuldade “serão tomadas dentro dos parâmetros legais, com todas as garantias no que o governo ajudar”. E completou: “O governo será remunerado de forma adequada, com garantias reais”. Ele não quis, entretanto, se estender na análise do assunto, alegando tratar-se de uma questão técnica que exige conhecimento exato da extensão do problema. Tranquilidade – O assessor especial avaliou que o número estimado de 200 empresas envolvidas na bolha cambial não representa “uma coisa avassaladora”. Ele disse que o governo está tranqüilo, administrando a crise, e mencionou o comportamento favorável das bolsas de valores, em todo o mundo, nos últimos dois dias, além da queda do dólar no Brasil. “O dólar está caindo. Vamos entrar em um patamar aceitável porque ele estava muito baixo.” Porém, reconheceu que pode haver mais empresas com prejuízo. “Em um primeiro momento apareceram duas empresas”, disse, referindo-se à Sadia e à Aracruz. “Depois, surgiu a uma terceira”, prosseguiu, fazendo referência ao grupo Votorantim. “Eu imagino que esta esperteza (de investir em dólar) não tenha sido só de duas ou três empresas. Seguramente, tem muito mais gente nessa lista”, disse, acrescentando que quem fez esse tipo de aplicação, na verdade, foi “pouco esperto”. Marco Aurélio disse que o tom das últimas conversas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, é de otimismo porque as medidas adotadas em todo o mundo começam a apresentar resultados. (AE)