Encarecimento. Materiais elétrico e hidráulico têm porcentagem menor na escalada de valores do setor da construção ALESSANDRA MIZHER O constante aumento do Custo Unitário Básico de Construção (CUB/m²) vem chamando a atenção do setor. Com o resultado alcançado em junho, o índice registrou, nos primeiros seis meses do ano, aumento de 4,14%, a maior alta para um primeiro semestre desde 2003, quando aumentou 5,98%. Já o custo com material cresceu 7,09%, enquanto o custo com mão-de-obra registrou alta de 0,73%. A escalada de preços acontece paralelamente ao aquecimento do setor imobiliário e da construção civil, observado desde meados do ano passado. De acordo com Ricardo Geovanni Fortuna Caus, presidente da Associação do Comércio de Materiais de Construção de Minas Gerais (Acomac-MG), com o aquecimento do setor, houve maior procura por materiais e mão-de-obra, elevando assim o seus custos. “É a lei da oferta e da procura.Osetor vinha passando por uma recessão muito grande. Porém, desde o ano passado, com a estabilidade da economia e dos juros e maior abertura de crédito imobiliário, a situação mudou. A construção civil passou a fazer parte de um dos segmentos mais promissores”, revela. Assim, os investimentos em construção passaram a ser recorrentes, gerandoum ciclo de maior procura por mão-de-obra e materiais de construção – o que pressionou o aumento dos custos. Para o presidente da Acomac- MG, o cimento foi o material que mais apresentou elevação desde 2003. “Na época, o saco custava cerca de R$ 15. Entretanto, com o enfraquecimento do setor, o preço foi caindo e, em 2007, chegou a custar R$ 8, o menor preço desde então. Agora, podemos verificar o valor do saco de cimento ultrapassando os R$ 16″, ressalta. CENÁRIO. Para Caus, outros materiais de construção também apresentaram elevação de preços considerável, mas nenhuma delas pode ser comparada à valorização do cimento. A explicação é bem simples. Produtos básicos como material elétrico e hidráulico, entre outros, oferecem maior número de fabricantes e fornecedores nacionais, principalmente se comparado ao cimento. Assim, como a oferta é maior, a tendência é que os preços sejam menores. Além disso, com o dólar baixo, a entrada de produtos importados se acentua, aumentando ainda mais a concorrência e diminuindo os preços. Entenda o CUB Custo Unitário Básico. O índice é publicado mensalmente e demonstra a evolução dos custos das edificações de forma geral Objetivo. Disciplinar o mercado de incorporação imobiliária, servindo como parâmetro na determinação dos custos do setor Quem calcula. A responsabilidade do seu cálculo é dos Sindicatos da Indústria da Construção Civil e deve ser divulgado até o dia cinco de cada mês. O CUB também possui um aparato técnico da ABNT, que estabelece a metodologia de cálculo Como é feito. São pesquisados preços de cerca de 30 diferentes materiais empregados na construção, além do valor da mão-de-obra, equipamentos e despesas administrativas Modelo. O CUB representa um custo parcial da obra e não o global, isto é, não leva em conta os demais custos adicionais, a exemplo de projetos arquitetônicos, estrutural, instalação, ajardinamento, regulamentação do condomínio, entre outros Cartilha. A cartilha “Custo Unitário Básico (CUB/m2): Principais Aspectos” está disponível no site www.sinduscon-mg.org.br Raio-x Anamaco. A entidade representa as 138 mil lojas de material de construção Minas Gerais. O Estado tem 14 mil empresas de pequeno, médio e grande porte de revenda de material de construção. Crescimento. Segundo a Acomac, houve um crescimento de 10% a 15% nas vendas em 2007 em relação a 2006. Para este ano, a expectativa é de 10% a 15% em relação a 2007 Cimento. Houve uma recuperação de perdas, pois em 2003 o preço era R$ 15 e sofreu queda até 2007, quando o preço chegou a R$ 8. Agora, está voltando ao mesmo valor antigo Aço. Teve aumento de 20%, nas vendas, devido às obras em andamento Aço e mão-de-obra Preços também afetam custos Para o coordenador sindical do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), economista Daniel Furletti, o aumento dos custos de construção ultrapassa as fronteiras nacionais. Segundo ele, o incremento significativo no preço do aço CA-50 10mm foi um dos responsáveis por este resultado. “Emjunho, este importante insumo do setor aumentou 8,95%, o que muito contribuiu para o incremento no custo da construção. Somente no primeiro semestre do ano, o preço do aço cresceu 19,89%. Deve-se lembrar que, considerandoumaedificação com oito pavimentostipo, três quartos e padrão normal de acabamento, o aço CA-5010mmé responsável por mais de 18% do custo com material e por 9,20% do custo total da obra. Por isso, os aumentos neste insumosempre impactam significativamente o custo da construção”, enfatiza. Furletti lembra que o problema não está relacionado apenas à oferta e demanda, mas principalmente ao aumento de investimentos do setor de siderurgia, elevando assim o valor do produto no mercado internacional. Além disso, o alento para o setor é que os aumentos não estão ocorrendo de forma sistêmica. “O país precisa continuar no seu processo de crescimento e, para isso, é fundamental a manutenção da estabilidade macroeconômica – que passa, entre outros, pela maior estabilidade nos preços,” destaca. Além dos aumentos dos insumos, um outro entrave tem afetado o segmento: a falta de mão-de-obra especializada. “Está muito difícil encontrar profissional capacitado. E esse problema só é resolvido lentamente, com a formação gradual dos profissionais”, revela André Campos, vice-presidente da Emccamp Residencial. Segundo ele, o aumento do preço dos imóveis para o consumidor final é especulativo, principalmente pelo aquecimento do setor, mas também está relacionado ao aumento dos custos de produção. “As empresas não podem sacrificar sua margem de lucro, por isso, acabam repassando o aumento”, completa. (AM)