Celso Martins Repórter Se você mora em uma casa em um bairro tradicional de Belo Horizonte, pode ter certeza de que em breve será assediado para vender seu imóvel. A falta de terrenos para construção de prédios na capital mineira e uma legislação que impede edifícios em em algumas regiões estão transformando lotes onde só vivia uma família em áreas cotadas a preço de ouro. Entre 2007 e 2008 foram derrubadas 278 casas na capital para dar lugar a prédios. Com o “boom” imobiliário dos últimos anos, as ofertas para a compra de casas são cada vez mais tentadoras. Em vez de pagar em dinheiro pelo imóvel, as construtoras estão oferecendo apartamentos na negociação. Na Rua Geraldo Faria de Souza, no Bairro Sagrada Família, na Região Leste de BH, onde casas ainda lembram o jeito de viver do interior, com varandas espaçosas e janelas de madeira, cercadas de plantas, todos os moradores já foram procurados. Em 2004, Belo Horizonte tinha 222.168 apartamentos. No ano passado, atingiu 254.327 unidades, aumento de 14,44% em quatro anos. Por outro lado, o número de casas teve redução de 0,15% entre 2007 e o ano passado, totalizando 188.591 unidades. Três casas foram derrubadas, no mês passado, na Rua Floresta, no bairro de mesmo nome, para dar lugar a edifício de oito andares, com 40 apartamentos. Como uma das construções é tombada pelo patrimônio histórico, será mantida e incorporada à estrutura do edifício. O prédio, afastado oito metros da rua, quase na esquina da Avenida do Contorno, terá varandas e churrasqueiras, além de um jardim na frente. Os responsáveis pelo empreendimento não revelam os valores da negociação com os proprietários dos terrenos, mas um apartamento de dois quartos, com suíte e duas vagas na garagem, está sendo vendido a partir de R$ 180 mil. O HOJE EM DIA apurou que em apenas um mês, 13 unidades foram vendidas pela construtora responsável pela obra. O diretor da Caixa Imobiliária e vice-presidente do Sindicato do Mercado Imobiliário de Minas Gerais, advogado Kênio de Souza Pereira, acredita que as pessoas estão abrindo mão das casas em função do aumento da violência e das dificuldades em se encontrar empregados domésticos. “A falta de tempo para as pessoas darem a devida manutenção nas casas – que exigem maiores cuidados e maior espaço para edificação -, fez com que, a partir de 1987, começasse um aumento da verticalização na capital mineira”, analisou. O advogado lembra que no período de 2004 a 2008, o volume de apartamentos cresceu 3,46% ao ano, contra apenas 0,53% das casas. “Esse dado leva à conclusão de que várias casas foram demolidas para dar lugar à construção de novos edifícios. O boom do mercado imobiliário valorizou os terrenos de forma a estimular os donos de casas a venderem estas para construtoras. Atualmente, as famílias são bem menores, se comparadas a algumas décadas atrás, e as casas enormes se tornaram inviáveis quanto à manutenção, especialmente no momento em que exigiam uma reforma, o que acarretava um alto custo, fatores esses que motivaram a venda, além da questão da insegurança”, disse. Kênio Pereira lembra que a cada dia é menor o número de lotes vazios e, diante da falta de espaço, os valores dos terrenos aumentam a tal ponto que se tornam inviáveis à aquisição dos mesmos para a construção de casas. “A maioria dos terrenos ideais à construção é destinada a edifícios, pois o custo da fração ideal (parte do terreno destinado a cada apartamento, sala, loja ou garagem) para cada unidade edificada fica mais em conta para o adquirente, que certamente teria maior dificuldade em possuir recursos para a compra de uma casa”, explicou. O diretor de assuntos imobiliários do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon), Bráulio Garcia, afirma que a crise mundial faz com que as construtoras deixem de pagar em dinheiro pelos lotes que têm casas. “Até o ano passado, era fácil a liberação de crédito pelos bancos para a compra das casas, mas para evitar a descapitalização, os empresários do setor oferecem até quatro apartamentos para o dono da casa que está sendo negociada. Essa oferta é feita quando o prédio tem 20 unidades habitacionais”, informou. A crise também tem feito com que o metro quadrado na Savassi e em Lourdes, que no ano passado chegou a ser cotado a R$ 4.500, seja reduzido para R$ 3 mil. Mesmo com a queda no preço dos terrenos, os empresários do setor estão investindo na construção de prédios na Região Metropolitana, como Lagoa Santa, Nova Lima e Contagem. Para o engenheiro Antônio de Aguiar Souza, 45 anos, Belo Horizonte é uma das capitais brasileiras que ainda têm uma legislação que evita a construção indiscriminada de grandes edifícios. “Sempre no final do ano surgem projetos na Câmara Municipal para liberar a construção de prédios mais altos na orla da Pampulha, por exemplo. Esses projetos ainda não foram aprovados porque a sociedade se mobiliza e exige a reprovação dessas matérias”, lembrou.