Joana Gontijo – Lugar Certo Para erguer muros, é preciso observar tipo de terreno, passagem de água e desníveis, normas essenciais para garantir estabilidade e rigidez Eles cercam a casa e garantem segurança e privacidade a seus moradores, servindo também para delimitar espaços. Atualmente, os muros convencionais podem ganhar formas, texturas, cores, curvas e acabamentos diversos para transformar a sensação de confinamento em fachadas mais suaves. Mas, diante do número crescente de reformas e pequenas obras, com o aquecimento do setor em todas as camadas da população, e saindo do mérito visual, engenheiros ressaltam a importância de respeitar as normas básicas na construção de muros, de preferência, com acompanhamento profissional. Para o diretor da área de Meio Ambiente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Geraldo Jardim Linhares Júnior, fazer um muro não é simplesmente construir a fundação, chamada de sapata corrida, alternar os pilaretes de sustentação, e encaixar os tijolos comuns de oito furos. “Para dar a estabilidade necessária, é preciso uma avaliação geotécnica sobre o tipo de terreno, as diferenças de nível, os taludes, a contribuição e a passagem das águas pluviais. Por exemplo, quando há um lote em aclive próximo à casa de onde escorre água, contida no terreno ela causa sua saturação e o muro cai”, explica. Essa situação é comum em Belo Horizonte e no restante do estado, onde o relevo montanhoso faz com que a maioria dos terrenos seja em aclives e declives. Então, a água chega de todos os lados, e os barrancos quase sempre demandam muros de contenção, os popularmente conhecidos de arrimo, cuja execução é a que mais necessita de apoio técnico qualificado. “O profissional de engenharia, arquitetura, ou um técnico experiente vão dar conta de cálculos estruturais e normas específicas para cada tipo de situação. Para o muro de arrimo, a fundação deve ser equivalente à sua altura, é importante observar a drenagem, entre outros aspectos que uma pessoa leiga não sabe. E, procurando um técnico, ela já começa economizando”. Foi o que aconteceu com a dona-de-casa Nilda Natividade de Souza Lima, de 36 anos. Vivendo com o marido e grávida, é responsável por quatro irmãos e dois filhos, mas a renda não passa de R$ 500 por mês. Os muros que separam a casa dos vizinhos ficaram prontos em setembro, com a ajuda de amigos, de tijolo aparente, e ela garante que a fundação foi feita de maneira correta. Como pretende construir mais quatro cômodos para acomodar melhor a família, há pouco tempo fez por conta própria um corte no terreno, nos fundos da casa, mas de maneira inadequada. “Eu e meus irmãos que fizemos o barranco mesmo. Eu ia fazer o muro para segurar logo em seguida, mas comecei a ter problemas com a saúde de meus filhos, e agora estou sem dinheiro”. A dona-de-casa conta que a terra está solta e, em tempos chuvosos, cai sobre o imóvel. “O terreiro alaga todo”, diz, ela que agora está vivendo praticamente em uma área de risco. Nilda precisa construir um muro de arrimo, fez o orçamento para 250 blocos de concreto, mas precisa de auxílio. Por isso, procurou a Secretaria de Habitação de Nova Lima, onde mora, que já enviou um arquiteto para orientá-la. O engenheiro coordenador do Curso de Especialização em Construção Civil da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Dalmo Lúcio Figueiredo, conta que há algumas opções em materiais para construir muros, mas os mais encontrados são os de tijolo de cerâmica comuns (mais baratos e de material mais acessível) e os de blocos de concreto. Existem também os feitos com placas pré-moldadas, encaixadas em mourões, que também são encontradas no formato em “v”, e dimensionadas em diversos tamanhos, entretanto, estas geralmente são mais finas e, portanto, têm menor qualidade. “Pensando em casas familiares, o passo inicial para construir qualquer tipo de muro é a fundação, para distribuir o peso sobre o terreno, que pode ser feita de concreto e pedras (ciclope), ou concreto armado. O muro nunca deve ser assentado diretamente na terra, porque trinca, afunda, e pode cair. A profundidade da fundação vai depender da altura do muro, o tipo de solo, mas sempre deve chegar até o terreno natural, podendo-se usar estacas, e, em alguns casos, também é necessário a utilização de brocas”, explica. Observar o tipo de solo é essencial, continua Dalmo. Aterros têm quase nenhuma resistência ao peso e, mesmo em terrenos naturais, os solos chamados de turfas (que contêm matéria orgânica) também não são propícios para a construção, para citar apenas alguns exemplos. Outro aspecto é a colocação de pilaretes de concreto que devem dividir o muro em blocos de até 2,5 m (a medida ideal, podendo chegar a 2,8 m), para dar rigidez. “É também aconselhável o revestimento com argamassa, que também confere mais estabilidade. Entre a aplicação do chapisco (feito com areia e cimento) e da massa, é bom esperar sete dias, para o cimento não deformar”. A próxima etapa para uma obra perfeita é a colocação de um “chapéu”, feito com placas de concreto dispostas em cima do muro, para evitar a absorção de água, no caso dos tijolos e blocos – a placa pré-moldada tem um grau razoável de impermeabilidade. “A água pode gerar patologias como manchas, trincas, e diminuição da resistência”, ressalta Dalmo. Em condições ideais de um terreno plano em que um simples muro divisório é suficiente (quando não há desnível que demande o tipo de contenção), a boa qualidade seria garantida em uma espessura média de 14 cm, com 2 cm de revestimento de cada lado (18 cm de espessura total), com os pilaretes a cada 2,5 m e o “chapéu” para conter a água. Para um muro simples, o custo quase sempre é de, no mínimo, R$ 85 por metro quadrado, considerado apenas o material, excluindo a mão-de-obra e os gastos com encargos, no caso de profissionais regularizados. O muro de arrimo, ou de contenção, é necessário quando há um desnivelamento no terreno, um corte formando um barranco, e é preciso conter o empuxo da água. Ele pode ser feito com concreto armado (que tem concreto, ideal para a compressão, e aço em sua composição, resistente à tração), ou com pedras de maior espessura. “É mais uma vez fundamental a consulta a especialistas para adequar os tipos e dimensões, a espessura, a fundação e o posicionamento correto do muro de arrimo em cada caso. Esse tipo de muro é o que necessita de cálculos mais precisos, que também vão evitar prejuízos”, completa o professor da UFMG.