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Seminário Catástrofes decorrentes do período chuvoso foi destaque no último dia do Construa Minas

Lorenza Coelho/Interface Comunicação

No último dia da programação do Construa Minas, 26/10, a Arena Sebrae reuniu engenheiros e outros profissionais que lidam e se interessam pelo tema período chuvoso e seus desafios.

O evento foi promovido pelo Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de Minas Gerais. A arquiteta e presidente do IBAPE-MG, Talita Favaro, abriu o evento e destacou a importante reunião de profissionais e especialistas da área, provenientes de diversas empresas renomadas, com o objetivo de entender o desafio das catástrofes associadas ao período chuvoso. “O impacto da chuva é uma grande preocupação e gera uma vulnerabilidade urbana. Por isso, queremos colaborar na busca de soluções práticas e eficazes para esses desafios”, comentou.

O engenheiro químico Amarilio Matos, presidente do IBAPE Nacional, também deu boas-vindas aos seminaristas, onde abordou sobre a importância da inspeção predial. Segundo o especialista, ainda não houve consenso partidário em relação ao Projeto de Lei 6.014. Ele argumentou que o IBAPE vem realizando diversas palestras sobre o tema. “Nossa entidade tem presença em 25 estados, atuando junto ao Confea, onde possui um grupo de trabalho focado em avaliações e perícias da engenharia”, reforçou.

Deslizamentos de encostas foi tema de discussão

O primeiro painel do seminário foi apresentado pelo engenheiro Eduardo Tadeu Possas Vaz de Mello, com o tema os deslizamentos de encostas devido ao período chuvoso.

Possas trouxe a definição de talude como a denominação que se dá a qualquer superfície inclinada de um maciço solo ou rocha. Ele pode ser natural, também denominado encosta, ou construído pelo homem como por exemplo, os aterros e cortes. Ao mesmo tempo, falou dos deslizamentos como fenômenos provocados pelo escorregamento de materiais sólidos como solos, rochas, vegetação e/ou material de construção ao longo de terrenos inclinados, denominados de encostas ou escarpas.

“O Brasil é considerado muito suscetível aos movimentos de massa devido às condições climáticas marcadas por verões de chuvas intensas em regiões de grandes maciços montanhosos. Nos centros urbanos os movimentos de massa têm tomado proporções catastróficas”, contou, salientando que as atividades humanas como cortes em talude, aterros, modificações na drenagem, entre outras, têm aumentado a vulnerabilidade das encostas para a formação desses processos. “Essa condição é agravada, principalmente, quando ocorrem ocupações irregulares, sem a infraestrutura adequada, em áreas de relevo íngreme”, comentou.

Segundo o especialista, o desastre é resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem sobre um cenário vulnerável, causando grave perturbação ao funcionamento de uma comunidade ou sociedade envolvendo danos humanos e externos, material, econômicos ou ambientais que excedem a capacidade de lidar com o problema usando meios próprios.

“Por isso, insisto em falar sobre as ações preventivas, objetivando o desenvolvimento de um clima de confiança e de enfrentamento entre os cargos governamentais, envolvidos na solução do problema e a comunidade local, permitindo o estudo conjunto e a definição das soluções mais adequadas”, relatou.

Ele reforçou em sua apresentação sobre a importância do mapeamento das áreas de risco e sugeriu algumas medidas estruturais de estabilização das encostas, entre: obras com estrutura de contenção; obras de proteção contra massas escorregadias; retaludamento; muro de contenção e aplicação de geosintéticos. “Todo município deveria ter um mapa de risco no seu plano diretor”, recomendou.

Mello citou a importância da Norma 11.672/2008 e da 1.542/2023, recém atualizada, e também explanou sobre alguns métodos para avaliação do tempo, entre eles o Standard Precipitation Index  (Índice Padronizado de Precipitação – SPI), amplamente utilizado para caracterizar a seca meteorológica em diversas escalas de tempo, e o Quantis, outra forma simplificada que permite definir limites (ou faixas) dentro de um conjunto de dados que indica dados do clima como muito seco, seco, normal, chuvoso ou muito chuvoso. Assim, a cada mês é possível avaliar a classificação da chuva para cada mesorregião.

Os desastres e as obras de engenharia

O geólogo Geraldo Goes completou o primeiro painel dizendo que, muitas vezes, as obras de engenharia podem ser surpreendidas pelas notícias de desastres/deslizamentos. Isso, segundo ele, deve-se à falta de um projeto minucioso de engenharia já que verificam-se obras montadas adaptadas, em sua maioria, à pressa, necessidade de faturamento e à falta de fiscalização efetiva.

Goes destacou o Programa de Estruturação de Riscos da Prefeitura de Belo Horizonte que, segundo ele, é considerado o melhor programa de gestão de risco geológico do Brasil e um dos melhores do mundo. “É o único programa que atua em todo o circuito da gestão territorial, passando pelo mapeamento, intervenções, obras, remoções, assistência social e psicológica”, explicou.

Ele salientou ainda que as cidades do interior não têm condições de ter técnicos especializados como engenheiros, geólogos para as obras. “Os profissionais estão repetindo técnicas e as adaptando com o tempo. Vou dar um exemplo: o engenheiro projeta um muro de um metro. Deu tudo certo, ele projeta em seguida um de dois metros, e assim por diante, chegando a muros de até 30 metros.  E o pior, em algumas ocasiões, sem drenagem na base de uma encosta, por exemplo”, disse.

Os impactos das chuvas na infraestrutura urbana

No segundo painel do dia, Úrsula Kelli Caputo, engenheira civil e servidora da Prefeitura de Belo Horizonte, comentou que as chuvas e cheias são fenômenos naturais e têm comportamentos diferenciados em espaços urbanizados e naqueles sem urbanização. “Quando se urbaniza, retira-se uma maior parte da cobertura vegetal. Não existe a vegetação que armazena e retorna a água para o meio ambiente. Assim, quando o hidrograma eleva, há uma vazão mais rápida da água”, salientou.

Caputo citou as questões a serem enfrentadas nas cidades, entre elas inundações, enxurradas, resíduos sólidos urbanos, a erosão do solo e a questão sanitária de poluição por esgotos.

Assim, elencou os fatores que intensificam as inundações:

·         Alta taxa de permeabilização;

·      Modelos de urbanização sem considerações com os cursos d’água;

·       Ocupações irregulares;

·       Mudanças climáticas;

·       Relevo e hidrografia.

Ela apresentou dados do sistema de monitoramento de águas que detectou, durante o período chuvoso entre 2011 e 2019, de 20 a 30 ocorrências anuais. Somente em janeiro de 220 foram 38 ocorrências. Com isso, mostrou como a prefeitura enfrenta essa questão, focada em um planejamento de novas ocupações (loteamentos, residências e conjuntos habitacionais, por exemplo), com o objetivo de pensar na água da chuva. “Atualmente, trabalhamos a drenagem urbana numa esfera de gestão de risco, detectando ameaças e vulnerabilidades. Essas, focadas, principalmente, na exposição das pessoas ao risco de ocuparem locais suscetíveis, por exemplo.

Úrsula falou ainda sobre as diretrizes utilizadas pelo município para a preservação dos cursos d´água, por meio da minimização dos riscos decorrentes das cheias dos cursos d’água naturais e canalizados; foco no saneamento integrado, por meio da manutenção dos principais eixos naturais de escoamento de água pluvial, reconfiguração controlada dos fluxos de drenagem pluvial e qualificação dos dispositivos de drenagem urbana.

Impactos das Chuvas nas contenções e edificações urbanas

O engenheiro civil, especialista em estruturas e patologias das construções, Ubirajara Alvim Camargos abriu o terceiro painel do seminário destacando o tema os “Impactos das Chuvas nas Contenções e Edificações Urbanas”. E chegou dando um recado: “Não existe nenhuma obra que não tenha risco, por mais simples que ela seja”.

Um dado trazido pelo engenheiro foi o período chuvoso, que ocorre entre os meses de novembro e março, no qual ocorrem as maiores precipitações pluviométricas. “Uma das obras civis que mais sofrem com o efeito danoso e indesejável por infiltração de água é o muro de arrimo, construção muito frequente em áreas urbanas”, contou. “Nesse período há propensão de surgirem trincas, fissuras e rachaduras. Por isso, os muros de arrimo devem ter um sistema de drenagem que alivie a força do que cai sobre ele”, salientou.

Com isso, acrescentou sobre a importância de se construir contenções resistentes às chuvas, com uso de materiais adequados e técnicas que reduzem os efeitos da água e sugeriu a utilização de barbacãs – orifícios abertos no muro de arrimo, geralmente formado por tubos de PVC, para facilitar o escoamento de água.

A inspeção visual foi outra dica dada pelo especialista que sugeriu periodicidade recorrente, com foco na topografia, vizinhança, arruamento, fachada, passeios, muros, telhados, paredes e outros. “A avaliação visual é o ensaio não-destrutivo mais importante, pois permite avaliar características visuais como fissuras, trincas, manchas e outras particularidades e deve ser feita em todo o entorno da obra” , comentou.

Tecnologias Aplicadas ao Monitoramento e Prevenção de Catástrofes devido ao Período Chuvoso

O meteorologista Dayan Diniz de Carvalho encerrou o evento abordando as tecnologias aplicadas ao monitoramento de prevenção de catástrofes no período chuvoso. Mas antes, ele citou alguns dados mais técnicos que norteiam o trabalho da Defesa Civil, sendo um deles o monitoramento em tempo quase real antes, durante e depois da chuva.

Ele explicou que os principais causadores de chuva no Sudeste do Brasil se iniciam na região equatorial e que o clima é influenciado por diversos fatores como a Zona de Convergência Intertropical, Vórtice Ciclônico do Atlântico Norte, Alta da Bolívia, Alta subtropical.

“Belo Horizonte pode registrar 31 milímetros de chuva em apenas 10 minutos e, dependendo da localização, o fenômeno pode ser sentido com intensidades diferentes entre as nove regiões da cidade. Por isso, o acompanhamento tem que ser constante, não só da chuva que ocorre, mas também, deve ser avaliado o nível dos córregos”, salientou.

Dayan citou os principais equipamentos tecnológicos que utilizam para monitorar as chuvas:

·         Radar e satélite meteorológico, que gera imagens a cada sete minutos, o que proporciona maior precisão na interpretação dos fenômenos que produzem chuva forte num menor espaço de tempo;

·         Rede de estações – com 38 estações e funcionamento, distribuídas nas nove regionais, que registram chuva e a variação do nível dos córregos.

Ele destacou ainda que, além das tecnologias, a comunicação de risco é uma das estratégias adotadas pela Defesa Civil para resguardar a população entre estratégias de redes sociais; apoio de comunidades organizadas; envio de SMS; Plataforma 40199 e a Plataforma de Disseminação de Alertas Públicos. “Além disso, a gestão compartilhada por meio da interligação dos municípios tem sido muito importante nessa ação”, finalizou.

PROX aplicativo para áreas de risco

Em seguida, o representante da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Lucas Freitas Viana, apresentou o aplicativo PROX. Desenvolvido em 2019, o aplicativo “Proximidade”, ferramenta tem como objetivo estreitar o relacionamento com a comunidade com informações acerca da variação dos níveis e vazões dos rios e reservatórios das Usinas Hidrelétricas (UHEs) e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) da área de concessão da companhia.

O PROX reúne informações não apenas sobre barragens, mas de diferentes riscos, como hidrológicos, geológicos, de queimadas e descargas elétricas, de forma a multiplicar a segurança.

Já disponível gratuitamente para download, nas plataformas IOS e Android, o PROX é uma ferramenta importante para que a população que mora no entorno de áreas de risco possa ter acesso a uma série de informações de forma ágil e eficiente, segundo os idealizadores. Além de disponibilizar dados em tempo real do seu entorno, os usuários também receberão alertas de segurança, com base em informações fornecidas pelos parceiros e dos agentes de resposta, como os órgãos públicos de Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar.

O Construa Minas 2023 tem patrocínio da TopMix Concreto (Diamante), Confea (Prata), Copasa (Prata), Sicoob Imob.Vc (Prata), Plan Radar (Prata), Mais Controle (Cota StartUp) e apoio institucional da ABRH-MG, CMI/Secovi MG, CREA-MG, Sinaenco-MG, Sindicer-MG, Ibmec, UFMG/DEMC e Tia Lia Lanches.