Depois de meses de altas, demanda menor e queda da cotação da commodity no exterior forçam setor a reavaliar as tabelas Marta Vieira A indústria siderúrgica se vê forçada a reavaliar contratos de fornecimento no mercado brasileiro e a suspender reajustes de preços que já estavam programados para outubro e novembro, diante da queda das cotações do aço no mercado internacional, movimento observado para uma série de commodities (produtos básicos cotados no exterior). Outro ingrediente desfavorável às siderúrgicas, depois de meses seguidos de fartos reajustes no país, é o cenário de redução da procura por aço nos próximos meses, com a decisão já tomada em algumas empresas da construção civil de frear planos de crescimento até analisarem a extensão e os efeitos da crise financeira internacional. Distribuidores de aço e construtoras avaliavam, ontem, que o produto nacional terá de baratear para se ajustar à nova realidade dos produtos siderúrgicos no exterior. Isso, apesar da valorização do dólar frente ao real, que tornaria mais cara a opção pela matéria-prima importada. Para Ricardo Maia, dono da Distribuidora Santa Clara, de Contagem, na Grande Belo Horizonte, as cotações internacionais do aço tendem a continuar caindo, num espaço de redução futura de mais 10%. A tonelada da bobina de fio-máquina (matéria-prima para a fabricação de diversos tipos de aço usados na construção civil) saiu de US$ 1.100 a US$ 1.150, dependendo da qualidade, à faixa de US$ 690 a US$ 750, ontem. A variação, que pode ter passado dos 37%, chegou a superar a alta mais recente do dólar, de um câmbio de R$ 1,65 a R$ 2,10. “Nesse cenário, não cabem mais aumentos. As usinas siderúrgicas vão ter de equalizar os preços no mercado interno, o que vai impedir que nós tenhamos mais os absurdos reajustes deste ano”, afirma Ricardo Maia. Desde janeiro, há construtoras que estimam ter pago quase 60% de aumento do aço. Rubson Lopes Nogueira, dono da distribuidora mineira Cobraço e presidente da Associação Mineira dos Distribuidores de Aço para a Construção Civil (Amida), diz que as empresas do setor consideram descartado o reajuste ao redor de 20% anunciado em agosto aos clientes da construção para entrar em vigência neste mês. A expectativa é a mesma para uma correção de 6% prevista para novembro. “Mesmo com a alta do dólar, é possível receber aço importado cerca de 40% mais barato. Entre as distribuidoras, temos informação de que há grupos se formando interessados na importação”, diz Rubson Lopes. Construtoras estão sendo sondadas pelas siderúrgicas sobre as projeções de consumo nos próximos meses e a perspectiva que circula nesse mercado é de redução das compras. Vai sobrar aço dentro de poucos meses, na avaliação de Cantídio Alvim Drumond, diretor da área de material e tecnologia do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG) e superintendente de obras da construtora Castor. “A oferta já estava reduzida antes, mas a situação era outra, de falta de material nos canteiros de obras, tanto é que os preços vinham aumentando todo mês. Com a crise, muitas empresas decidiram pôr os pés no freio”, afirma Drumond. A perspectiva de redução da atividade econômica tornou sem sentido qualquer novo reajuste, para Ricardo Catão Ribeiro, da RC Engenharia e Comércio e também vice-presidente de política, relações trabalhistas e de RH do Sinduscon-MG. “Apesar de barreiras técnicas que existem sobre a importação, há estudos que, agora, vão ter de ser reavaliados nessa direção, passada a instabilidade no câmbio”, afirma.